França estuda expulsar clérigo radical islâmico do país
Será um dos atos mais contundentes do presidente Emmanuel Macron em relação à presença de líderes religiosos muçulmanos
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Mundo Em análise
Em meio ao recrudescimento de suas políticas contra as vertentes radicais do islã, o governo francês estuda atualmente expulsar um influente clérigo baseado em Marselha, no sul do país.
Será um dos atos mais contundentes do presidente Emmanuel Macron em relação à presença de líderes religiosos muçulmanos, em um país que já foi alvo de uma série de ataques terroristas. Em novembro de 2015, atentados coordenados em Paris deixaram 130 vítimas.
O argelino El Hadi Doudi, 63, que não tem a nacionalidade francesa, é acusado de incitar a violência nas últimas três décadas a um público amplo.
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Segundo o governo, "o imã Doudi difundiu em seus sermões os chamados ao ódio e à violência contra cristãos, judeus e pessoas adúlteras" e "glorificou a guerra santa". Ele, que é sunita, também pregou contra os xiitas, um ramo minoritário do islã.
Sua expulsão foi recentemente encomendada pelas autoridades locais de Marselha devido a "atos deliberados para provocar a discriminação, o ódio e a violência contra um indivíduo ou um grupo".
O clérigo chegou a cidade em 1981 e abriu em 1999 sua mesquita, chamada de Al Sounna, em um dos bairros mais pobres das redondezas. Para evitar sua expulsão, complicada pelo fato de que tem filhos no país, ele propôs abandonar o posto de líder religioso.
"CLÉRIGOS DE ÓDIO"
Marselha tem uma das maiores comunidades muçulmanas da França -um quinto da população local, de 1,6 milhões de pessoas- e também uma das maiores concentrações de adeptos de interpretações radicais do islã, como o salafismo.
Isso não significa que sejam extremistas. Na verdade, a maior parte dos franceses que se uniram à facção terrorista Estado Islâmico saíram de outras cidades, como Nice.
Mas o imã Doudi, como ele é conhecido pelo título de líder religioso, é visto como um dos principais ideólogos de uma visão especificamente violenta dessa fé.
A França já tomou outras medidas durante o governo de Macron para sufocar o islã radical.
Com sua maioria parlamentar, o presidente centrista aprovou medidas como a busca e apreensão na casa de clérigos e o fechamento de mesquitas -o templo do próprio imã Doudi foi fechado pelo governo em dezembro após uma acusação de que era usado para propagar um discurso radical.
Não será a primeira expulsão de um clérigo muçulmano no país. Segundo o jornal americano The New York Times, 40 foram expulsos entre 2012 e 2015. Mas o caso do imã Doudi, de alto escalão, será emblemático.
As ações são, em parte, uma resposta política ao crescimento de forças como o partido Frente Nacional, de direita ultranacionalista. Macron quer mostrar aos eleitores que ele também se importa com a radicalização em solo francês e que tem mão firme.
Na semana passada, ao discursar em homenagem a um policial morto durante um ataque terrorista, Macron disse que não combate apenas a organização terrorista Estado Islâmico, mas também o que chamou de "clérigos do ódio e da morte".
"O que estamos enfrentando é também este islã subterrâneo, que avança por meio de redes sociais e que cumpre suas metas de maneira invisível", afirmou.
Da mesquita de Doudi, segundo as autoridades francesas, saíram ao menos cinco militantes do Estado Islâmico, apesar de que ele nega ter o conhecimento da radicalização de seus seguidores.
Ao jornal francês Le Monde, o imã defendeu sua mesquita e refutou as acusações. "Não somos uma seita. Somos salafistas, e essa é a religião do profeta. Não somos um movimento radical." (Folhapress)