Um ano de mandato de Macron divide os franceses
Quase seis em cada dez franceses (57%) se dizem insatisfeitos com a política dele
© REUTERS/Christian Hartmann
Mundo França
Um ano depois de ter chegado à presidência de França, Emmanuel Macron divide os franceses entre os que aprovam o dinamismo e as reformas que tem implementado e os que o acusam de ser o "presidente dos ricos". Quase seis em cada dez franceses (57%) se dizem insatisfeitos com a política de Macron, segundo pesquisa divulgada na sexta-feira (4).
O resultado é melhor que os dos antecessores François Hollande e Nicolas Sarkozy, mas pior que os de Jacques Chirac e François Miterrand, e representa uma perda de 20 pontos percentuais em um ano.
Entre as qualidades atribuídas a Macron, os entrevistados citam especialmente as "convicções profundas", a "autoridade" e "estatura presidencial". Entre os defeitos, apontam que é "pouco unificador" e "distante das pessoas".
"Se há um ponto que une os franceses, é que o presidente age. O que os divide é a sua ação", resumiu o especialista em pesquisas Jean-Daniel Lévy, da Harris Interactive, à agência France-Presse.
Emmanuel Macron, 40 anos, venceu as eleições de 7 de maio de 2017 com 64%, em segundo turno disputado com a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen. O programa político, que definiu como "nem de esquerda nem de direita", é baseado na liberalização do modelo econômico francês, no fortalecimento da unidade europeia e na reedificação da posição da França no mundo.
Um ano depois de chegar ao poder, Macron enfrenta um país agitado pela contestação social e numerosas greves nos transportes. Ainda neste sábado (5), depois da violência que marcou as comemorações do 1º de Maio em Paris, está prevista uma "Festa a Macron", convocada pelo deputado François Ruffin, da França Insubmissa (esquerda), onde cada um é convidado a participar com "reivindicações, indignações e esperanças" para "fazer uma festa a Macron e ao mundo" que "representa", o "da finança" e "do patronato".
Segundo outro estudo realizado pelo instituto Elabe-Wavestone e citado pela France-Presse, metade dos entrevistados (51%) considera as políticas de Macron "injustas" e favoráveis às elites urbanas abastadas. Algumas das reformas que lançou, como a do código do trabalho ou dos caminhos-de-ferro, agradaram à direita, mas afastaram uma parte considerável do eleitorado de esquerda que as considera demasiado liberais.
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Há atualmente, segundo explicam analistas, um desencanto da esquerda que apoiou Macron. Cerca de 45% dos eleitores que votaram nele no segundo turno de 2017 tinham votado no candidato socialista antes, segundo números citados pela Foreign Policy.
No plano internacional, Emmanuel Macron tem sido muito ativo e muitos atribuem a ele a capacidade de ter afirmado, desde o início, a "estatura presidencial", impressionando positivamente a chanceler alemã, Angela Merkel, e gerindo a imprevisibilidade do presidente norte-americano, Donald Trump.
Nas visitas internacionais, Macron multiplicou iniciativas pessoais em questões que vão do nuclear do Irã ao conflito sírio."Podemos afirmar muito claramente que a França recuperou uma liderança internacional [...] Há uma espécie de demanda de Macron no mundo", considerou o ex-primeiro-ministro de direita Jean-Pierre Raffarin.
"É o único dirigente europeu a poder falar substancialmente com Trump, Putin, [os presidentes egípcio e turco] Sissi e Erdogan", reforçou François Heisbourg, presidente do International Institute for Strategic Studies (IISS) de Londres. As ambições dele para a Europa enfrentam contudo mais dificuldades, perante a "típica inércia de Bruxelas e a prudência da Alemanha", escreveu o Financial Times.
Mas "se Macron quer salvar a Europa, tem de salvar a França primeiro", segundo a Bloomberg, que aponta o desemprego persistentemente alto, a elevada fiscalidade, o parque industrial desatualizado e a contestação social como obstáculos à afirmação da economia francesa.
E, na União Europeia, depois da crise das dívidas soberanas, da crise migratória e do 'Brexit', vários líderes insistem que é a hora de cada Estado membro se fortalecer antes de pensar em grandes ideais que comprometam a todos. Tanto externa quanto internamente, os analistas concordam: um ano é pouco para avaliar um presidente.