Dia decisivo para o Oriente Médio: mundo aguarda anúncio de Trump
Presidente dirá nesta terça-feira se Estados Unidos rasgam ou não acordo nuclear com o Irã
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Mundo Acordo
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, admitiu que o país pode “enfrentar alguns problemas” caso os Estados Unidos decidam rasgar o acordo nuclear estabelecido em 2015. “É possível que enfrentemos alguns problemas nos próximos dois ou três meses, mas vamos conseguir ultrapassá-los”, afirmou Rouhani (foto).
Já o porta-voz do parlamento iraniano, Ali Larijani, aproveitou para deixar um recado ao presidente norte-americano, reiterando que a hostilidade contra o Irã vai unir ainda mais o povo iraniano. "Senhor Trump, fique sabendo que esta lealdade na questão do acordo nuclear vai encorajar a grande nação iraniana a continuar o seu caminho na Revolução Islâmica, firmemente atrás da liderança do seu supremo líder".
As declarações do presidente iraniano e do porta-voz parlamentar surgem depois de Donald Trump ter anunciado, na segunda-feira (7), que decidiu antecipar a decisão sobre o acordo nuclear iraniano e que vai revelar, nesta terça-feira (8), se os Estados Unidos abandonam ou não o acordo estabelecido em 2015 com Irã, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha.
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O anúncio da Casa Branca está previsto para as 15h (de Brasília). As últimas semanas têm sido de grande expectativa, já que o presidente da França, Emmanuel Macron, e a premiê da Alemenha, Angela Merkel, foram aos Estados Unidos para tentar convencer Trump a não rasgar o acordo. No mesmo sentido, Boris Johnson, chefe da diplomacia britânica, reuniu-se com Mike Pence, ‘vice’ de Trump, durante o fim-de-semana passado.
I will be announcing my decision on the Iran Deal tomorrow from the White House at 2:00pm.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 7, 2018
Todos os signatários querem que o acordo histórico continue em vigor. No entanto, Trump considera o documento como “pior acordo de sempre”. Especialmente pelo fato de não se referir ao programa balístico iraniano . Além disso, o presidente norte-americano não vê com bons olhos o crescimento da influência de Teerã no Oriente Médio, principalmente na Síria, no Iraque, no Líbano e no Iêmen, países em que os Estados Unidos e alguns dos aliados têm interesses opostos aos do Irã.
O acordo estabelecido em 2015 definiu que, em troca do levantamento das sanções internacionais a Teerã, o Irã cedesse um controle do próprio desenvolvimento nuclear, limitando-o à produção de urânio, o que impede o país de conseguir desenvolver uma arma nuclear, como a bomba atômica, pretensão que, contudo, sempre foi negada pelas autoridades iranianas.
Israel e Arábia Saudita também têm apelado para que o acordo chegue ao fim. Os sauditas, principais rivais regionais do Irã no Oriente Médio, veem com preocupação o crescimento da influência xiita numa região em que travam várias guerras por procuração com o Irã.
Já Israel acusa o Irã de querer destruir o país e tem aumentado a retórica contra o regime iraniano, tendo mesmo atacado bases iranianas na Síria. Para além disso, Tel Aviv receia o apoio dado pelo Irã à milícia xiita libanesa Hezbollah, que saiu forte das últimas eleições no Líbano, com quem Israel já travou várias guerras.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, chegou a afirmar que Teerã tem desenvolvido um programa nuclear secreto, alegações que, contudo, não convenceram os restantes parceiros do acordo, e tem colocado a hipótese de atacar diretamente o Irã.
Caso os Estados Unidos saiam do acordo, o futuro é bastante incerto. O temor é que o Irã, que garante ter capacidade para voltar a produzir urânio rapidamente, fique mais isolado e comece um corrida armamentista, um fenômeno que facilmente chegará a outros países da região.
O futuro do presidente Rouhani poderá estar em xeque. Apoiador do acordo nuclear, um dos pontos chave da sua visão de futuro para o país, o progressista tem conseguido manter-se firme perante a oposição dos setores mais conservadores da sociedade iraniana, incluindo o líder supremo do país, o Ayatollah Ali Khamenei, defensor de uma postura mais agressiva com os Estados Unidos e Israel, que se opôs ao acordo nuclear desde o início, apesar de ter cedido às pretensões de Rouhani.