Grupo rohingya cometeu massacre de hindus em Mianmar, diz Anistia
Exército de Salvação Rohingya de Arakan é apontado como suspeito de outro massacre envolvendo quase cem pessoas
© REUTERS/Damir Sagolj
Mundo Ásia
Um grupo armado rohingya foi apontado como responsável por pelo menos um massacre de hindus no estado de Rakhine, em Mianmar, afirmou nesta terça-feira (22) a Anistia Internacional. Segundo a entidade, o Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa, na sigla em inglês) é ainda suspeito de outro massacre envolvendo quase cem pessoas, entre elas mulheres e crianças hindus, além de outros assassinatos e sequestros de hindus em agosto de 2017.
Assim como os rohingyas, que são muçulmanos, os hindus são minoria em Mianmar, um país asiático majoritariamente budista. "Nossa mais recente investigação esclarece as violações de direitos humanos cometidos pelo Arsa durante a sombria história recente do norte de Rakhine", disse Tirana Hassan, diretora de Resposta a Crises da Anistia Internacional.
A entidade conduziu dezenas de entrevistas na região e fronteira com Bangladesh e coletou provas fotográficas analisadas por patologistas forenses. "É difícil ignorar a absoluta brutalidade do Arsa, que deixou marcados para sempre os sobreviventes com quem falamos.
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Responsabilizar essas atrocidades é tão crucial quanto é para os crimes contra a humanidade levados a cabo pelas forças de segurança de Mianmar no norte do estado de Rakhine. "Hassan se refere aos ataques das forças de segurança de Mianmar e de civis budistas contra os rohingyas no Rakhine, que já levaram à fuga de quase 700 mil membros dessa etnia para a vizinha Bangladesh desde agosto do ano passado.
A ONU qualificou a campanha como uma limpeza étnica e disse ver indícios de genocídio.As Forças Armadas de Mianmar iniciaram a campanha após uma série de ataques do Arsa contra cerca de 30 postos de segurança na região, em 25 de agosto de 2017. Segundo a Anistia, nesse dia o Arsa atacou uma comunidade hindu em Kha Maung Seik, ao norte de Maungdaw, capital do Rakhine.
Homens armados vestidos de preto e civis rohingya locais à paisana roubaram os locais e mataram 53 deles em estilo de execução. Oito mulheres hindus e oito de seus filhos foram raptados e tiveram suas vidas preservadas após os combatentes forçarem as mulheres a se "converterem" ao islã.
No mesmo dia, todos os 46 homens, mulheres e crianças hindus da aldeia vizinha de Ye Bauk Kyar desapareceram. Membros da comunidade hindu no norte do Estado de Rakhine presumem que a comunidade dizimada pelos mesmos combatentes do Arsa, diz a Anistia.
"Os terríveis ataques do Arsa foram seguidos pela campanha de limpeza étnica dos militares de Mianmar contra a população rohingya como um todo. Ambos devem ser condenados -violações dos direitos humanos ou abusos de um lado nunca justificam abusos ou violações do outro", disse Hassan. "Todas as famílias de sobreviventes e vítimas têm o direito à justiça, à verdade e à reparação pelo imenso dano que sofreram.
"Em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na semana passada, o representante permanente de Mianmar criticou alguns membros da ONU por apenas escutarem "um lado" da história e não reconhecerem os abusos cometidos pelo Arsa."
O governo Mianmar não pode criticar a comunidade internacional por ser unilateral e, ao mesmo tempo, negar o acesso ao norte do estado de Rakhine. A dimensão total dos abusos cometidos pelo Arsa e as violações dos militares de Mianmar não serão conhecidas até que investigadores independentes de direitos humanos, incluindo investigadores da ONU, tenham acesso total e irrestrito ao estado de Rakhine", disse Hassan. Com informações da Folhapress.