Vaticano critica ação de 'interesses econômicos' na Amazônia
A Igreja fará um Sínodo sobre a floresta em 2019
© Welington Pedro de Oliveira / Fotos Públicas
Mundo Recado
O Vaticano apresentou nesta sexta-feira (8) o documento preparatório para o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que será realizado em outubro de 2019, com o objetivo de discutir novas formas de "evangelizar" a floresta.
O texto possui três seções, 15 capítulos e um questionário com 30 perguntas divididas em três partes, abordando temas como justiça, direitos e espiritualidade dos povos indígenas, ecologia e "novos caminhos" para uma Igreja de rosto "amazônico".
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No documento, o Vaticano diz que a relação "harmoniosa" na natureza foi "despedaçada pelos efeitos nocivos do neoextrativismo e da pressão dos grandes interesses econômicos que exploram o petróleo, o gás, a madeira e o ouro".
Além disso, cita problemas que se encaixam na descrição do Brasil, dono da maior parcela da Amazônia, como "megaprojetos hidrelétricos e redes rodoviárias, superestradas interoceânicas e monoculturas industriais".
"A cultura imperante do consumo e do descarte transforma o planeta em uma grande descarga. O Papa denuncia esse modelo de desenvolvimento como anônimo, asfixiante, sem mãe; obcecado apenas pelo consumo e pelos ídolos do dinheiro e do poder", acrescenta.
A convocação do sínodo atendeu a um pedido das conferências episcopais da América Latina e de pastores e fiéis de diversas partes do mundo. No entanto, a sustentabilidade ambiental e a proteção da natureza são bandeiras do pontificado de Francisco e temas de sua primeira encíclica, a "Louvado Seja".
"A Amazônia é uma região de rica biodiversidade. É multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade, que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja", diz o texto.
O documento preparatório também defende que a Igreja descubra novos caminhos para "aumentar sua face amazônica" e "responder às situações de injustiça na região" e se constitua "em uma alternativa à globalização da indiferença e à lógica uniformizante de tantos meios de comunicação".
"É preciso encontrar um equilíbrio, e a economia deve privilegiar sua vocação em favor da dignidade da vida humana. Essa relação de equilíbrio deve tutelar o ambiente e a vida dos mais vulneráveis", reforça. Sobre a "evangelização" dos povos locais, o Vaticano pede para a Igreja fazer propostas "corajosas" e "audaciosas" e melhorar sua "precária" presença na região.
Uma das propostas que podem ser discutidas pelos bispos é a possibilidade de ordenar homens casados como padres, desde que eles tenham fé comprovada e se mostrem capazes de administrar espiritualmente uma comunidade de fiéis, os "viri probati".
Um dos defensores da discussão é o cardeal brasileiro Cláudio Hummes, que já a propôs ao papa Francisco. "Posso apenas dizer que, no documento preparatório, os 'novos caminhos' devem incidir sobre os ministérios, a liturgia e a teologia. Mas esses caminhos ainda precisam ser feitos", disse o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo, ao ser perguntado sobre a ordenação de homens casados como padres.
O documento preparatório também destaca a necessidade de se identificar "que tipos de ministério oficial podem ser conferidos às mulheres" e de "apoiar o clero indígena e nativo, valorizando sua identidade cultural e seus valores próprios". (ANSA)