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Margaret Atwood luta pela legalização do aborto na Argentina

Autora de 'The Handmaid's Tale' vem participando de campanha pelos direitos das mulheres

Margaret Atwood luta pela legalização do aborto na Argentina
Notícias ao Minuto Brasil

20:14 - 08/07/18 por Folhapress

Mundo Ativismo

A Argentina vem debatendo a legalização do aborto até a 14ª semana de gestação. O projeto de lei já foi aprovado na Câmara de Deputados e, nesta terça (10), começará a ser discutido no Senado, com expectativa de ser votado até o dia 8 de agosto.

O presidente Mauricio Macri, que é contra a medida, mas que afirmou que não a vetará se for aprovada pelo legislativo, impulsou o debate como parte de uma estratégia política para resgatar sua aprovação popular, que caiu de 58% a 35% nos últimos meses por conta da degradação da economia. Macri também responde a uma intensa pressão de grupos feministas que, desde os últimos anos, vêm se organizando para pedir que a lei avance.

Em meio a tudo isso, as defensoras da causa ganharam uma nova e inusitada adepta, a escritora canadense Margaret Atwood, 78, autora de "The Handmaid's Tale", um romance escrito nos anos 1980 e que descreve como um Estado teocrático toma conta do que antes eram os Estados Unidos e estabelece aí um mundo de regras e valores estritos.

Tudo gira em torno de aproveitar ao máximo a fertilidade de algumas mulheres, uma vez que, neste mundo imaginário, o índice de natalidade vinha caindo a níveis dramáticos e os ideólogos da chamada República de Gilead resolvem submeter as mulheres ainda férteis a uma atividade única: reproduzir. Transformadas em mucamas, são levadas a passar temporadas nas casas dos comandantes - homens nobres do regime -, onde são estupradas regularmente até ficarem grávidas. Nascidos os bebês, estes ficam com a família do comandante e elas são designadas a outras casas. O livro fez com que Atwood ganhasse prêmios e inspirou uma série de TV, que se encontra agora na segunda temporada.

No final do ano passado, Atwood esteve em Buenos Aires. Numa conversa na Biblioteca Nacional com seu diretor, o também escritor Alberto Manguel, revelou que uma das inspirações para criar esse pesadelo que é a chamada República de Gilead foi, justamente, o que havia ocorrido na Argentina nos anos 1970. Durante a ditadura militar (1976-1983), centenas de mulheres grávidas que atuavam na resistência ao regime foram encarceradas, seus companheiros foram mortos imediatamente, e elas, mantidas vivas até dar à luz. Os bebês eram, então, entregues a famílias de militares com dificuldades de ter filhos, enquanto as mães eram executadas nos centros clandestinos de detenção.

Atwood, que é reconhecidamente uma feminista, também reuniu-se com grupos de mulheres que defendem penas mais duras para a violência contra a mulher - na Argentina hoje, uma mulher é morta a cada 29 horas - e se pronunciou a favor da legalização do aborto. Hoje, o recurso é permitido no país apenas em casos de estupro, risco de vida da mulher e má-formação do feto.

Suas palavras não demoraram a ecoar no Congresso. No momento de emitir seu voto, favorável ao aborto, a deputada Victoria Donda mencionou a República de Gilead a partir de um ponto de vista particular. Donda nasceu na ESMA (Escola Mecânica da Marinha), um dos centros clandestino de prisão e tortura. Sua mãe foi morta aí após seu nascimento e ela viveu anos pensando ser filha do militar que havia se apropriado dela (sua intervenção está no vídeo abaixo). Associou sua experiência à ficção para mostrar que a realidade humana muitas vezes esteve próxima aos horrores que o livro descreve. Neste caso, um extremo no qual um Estado submete as mulheres a serem meras procriadoras e os embriões, algo que se pode distribuir à gosto, como, afirma Donda, fizeram com ela mesma.

O segundo episódio desta novela entre Atwood e a lei do aborto foi quando a escritora emitiu um tuíte pedindo que a presidente do Senado (também vice-presidente do país), Gabriela Michetti, uma mulher católica e anti-aborto, não colocasse mais tantos obstáculos à lei. Michetti, que irá liderar a votação final, tem dado declarações polêmicas e oferecido alternativas como entregar as crianças à adoção (ignorando que assim obriga-se a mulher a passar pela gravidez de qualquer forma).

Em uma entrevista recente, disse: "A mulher pode dar em adoção, ou ver o que acontece durante a gravidez, trabalhar com um psicólogo, não sei. Há pessoas que vivem coisas muito mais dramáticas e não podem soluciona-las e mesmo assim têm de viver com isso." Usou como base de seu argumento que "os pobres têm muitos filhos, sete, oito, e não parece ser um problema."

Os grupos de defesa dos direitos da mulher ficaram em choque com as declarações de Michetti, e mais uma vez, Atwood veio em seu auxílio, por meio de mensagens nas redes sociais dirigidas a ela. Pediu que Michetti não "virasse o rosto para as milhares de mulheres que morrem por ano por causa de abortos ilegais" e que "desse às mulheres argentinas o direito de decidir", acrescentando: "as argentinas estão lutando por seus direitos e suas vidas."

Michetti não respondeu, apenas afirmou que não conhecia a autora e nem a obra e que as que militam pelo aborto querem uma sociedade "mais individualista, que só pensa em seu prazer e em seu próprio umbigo". Com informações da Folhapress.

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