Ministro italiano é investigado por sequestro de pessoas
Inquérito se refere aos migrantes do navio Diciotti
© REUTERS / Lisi Niesner (Foto de arquivo)
Mundo Privou liberdade
O Ministério Público de Agrigento, na Sicília, abriu neste sábado (25) um inquérito contra o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, por sequestro de pessoa, abuso de poder e prisão ilegal, no caso do navio Diciotti, que ficou bloqueado por cinco dias no Porto de Catânia com mais de 100 migrantes a bordo.
Segundo os procuradores, Salvini privou ilegalmente as pessoas socorridas pela embarcação de sua liberdade. O inquérito foi aberto após representantes do Ministério Público terem interrogado funcionários do Ministério do Interior sobre o caso - o chefe de Gabinete da pasta também é investigado.
A apuração agora ficará a cargo do Tribunal de Ministros de Palermo, capital da Sicília. O Diciotti, navio da Guarda Costeira da Itália, chegou a Catânia na noite da última segunda-feira (20), quatro dias depois de ter resgatado 177 migrantes em um barco clandestino na costa de Lampedusa, ilha italiana situada no Mediterrâneo Central.
Dois dias mais tarde, Salvini, responsável pelas políticas migratórias e de segurança do país, autorizou o desembarque de 27 menores de idade desacompanhados, mas disse que só liberaria o restante do grupo se houvesse acordo na União Europeia para redistribui-lo, o que não aconteceu.
Estados-membros da UE alegam que o número per capita de deslocados internacionais na Itália ainda está abaixo do registrado em outros países do bloco. No sábado, 13 migrantes desceram do navio por motivos médicos, incluindo sete mulheres estupradas por traficantes na Líbia e seis homens com sarna, pneumonia, tuberculose e infecção urinária.
No entanto, poucos minutos depois da abertura do inquérito, o ministro Interior afirmou que todos os migrantes poderiam descer do Diciotti. O desembarque foi concluído na madrugada deste domingo (26), e a maior parte, cerca de 100, será acolhida em estruturas da Conferência Episcopal da Itália (CEI).
A Albânia, que não faz parte da União Europeia, se comprometeu a receber 20 deslocados internacionais, e a Irlanda, de 20 a 25. Reações - Na noite de sábado, Salvini participou de um comício em Pinzolo, no Trentino-Alto Ádige, e afirmou que espera os procuradores "com um sorriso". "Quero explicar-lhes minhas razões. Espero um procurador que investigue os traficantes e quem favorece a imigração clandestina. Lembro a vocês que os traficantes compram armas e drogas que depois são vendidas talvez fora das escolas de nossos filhos", declarou.
Além disso, o ministro ressaltou que é uma "vergonha" investigar alguém que "defende as fronteiras do país", além de ter proposto uma "reforma da Justiça". "Confio nos milhares de juízes que cumprem seu dever, mas se alguém quer fazer política para o PD [Partido Democrático, de oposição], que se candidate", disse.
Luigi Di Maio, ministro do Trabalho e líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), maior partido do governo, garantiu que "respeita" as ações da magistratura, mas afirmou que Salvini deve seguir em frente. Nas gestões passadas, o M5S, então na oposição, exigia a demissão sumária de ministros investigados por qualquer tipo de delito.
Salvini, secretário da ultranacionalista Liga, também recebeu o apoio do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, seu aliado em alguns governos regionais. "Exprimo solidariedade a Matteo Salvini, cujo absurdo e inconsistente caso judiciário não poderá não ter um final favorável. Mais uma vez a autoridade judiciária interveio em um caso exclusivamente político", disse o conservador, já condenado por fraude fiscal e que é réu por compra de testemunhas.
Por sua vez, o ex-premier Matteo Renzi, principal figura do PD e da oposição, preferiu voltar suas armas contra o M5S, a quem acusou de ter "dupla moral" por aceitar governar ao lado de um ministro investigado. "Falavam de honestidade, deveriam descobrir a civilização", disse. (ANSA)