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'Faz três dias que não durmo', diz brasileira deportada da Nicarágua

Documentarista Emilia Mello ficou 30 horas detida após ser presa com grupo que ia para protesto

'Faz três dias que não durmo', diz brasileira deportada da Nicarágua
Notícias ao Minuto Brasil

08:30 - 28/08/18 por Folhapress

Mundo Presa no sábado

"Estou com a mesma roupa com que fui capturada. Faz três dias que não durmo", diz Emilia Mello, 40. Presa no sábado (25) na Nicarágua, a documentarista brasileira foi deportada no dia seguinte, após 30 horas de detenção. Recém-chegada de viagem, ela contou o que aconteceu à Folha, por telefone, na segunda à noite.

Nascida e criada nos EUA, Emilia é filha de brasileiros, tem dupla cidadania e mora há quatro anos no Brasil. Ela estava na Nicarágua gravando um documentário para uma produtora americana sobre o movimento de oposição ao ditador Daniel Ortega. Acompanhava um grupo de estudantes que se dirigiam a uma manifestação na cidade de Granada.

+ Documentarista brasileira é deportada após ter sido detida na Nicarágua

"Éramos 20. Fomos sem bandeira, sem nada. Estávamos em uma estradinha pequena quando fomos parados pela polícia. Vieram vários agentes das forças especiais e pegaram nossos telefones, meus equipamentos, pegaram tudo", relata.

De ônibus, eles foram levados a uma espécie de quartel. Ela afirma que em nenhum momento foram informados do que eram acusados ou para onde estavam se dirigindo. "Chegamos a esse lugar cheio de policiais com metralhadoras", descreve. "Íamos sendo levados para tirarem fotos e pegarem nossos dados."

Depois, o grupo foi transferido para o Chipote, uma prisão conhecida como lugar de tortura e morte de opositores de Ortega. Lá, foram interrogados e ela foi informada de que iria para a imigração.

A cineasta Emilia Mello, que foi detida e deportada da Nicarágua Arquivo Pessoal A cineasta Emilia Mello, que foi detida e deportada da Nicarágua    O governo alegou que Emilia entrou com visto de turista, mas estava trabalhando, e por isso foi deportada. "O visto era apropriado porque eu não estava trabalhando para o país, não ia receber nada de lá. E de qualquer forma eu estava ciente de que o governo não apoia esse tipo de cobertura", afirma.

Depois disso, ela afirma que foi interrogada por cinco pessoas diferentes durante oito horas e que as imagens de sua câmera foram apagadas. Passou o dia todo sem comer e não teve acesso a advogado, conta.

"Pedi para entrar em contato com as embaixadas do Brasil e dos EUA, mas disseram que elas já tinham sido notificadas e não estavam interessadas no meu caso. Eu não sabia se alguém sabia onde eu estava. Era um jogo, me ameaçaram o tempo inteiro dizendo que ficaria presa na Nicarágua", afirma.

Ela diz que o pior da experiência foi não saber o que seria feito com eles. "Eu sabia que, como estrangeira, a probabilidade de me matarem era menor, porque haveria repercussão internacional. Mas o fato de nos levarem de lugar em lugar sem explicação foi aterrorizante."

Conta também que, durante a prisão, uma das estudantes teve convulsões, mas não recebeu atendimento. "Ela estava muito mal, mas a polícia não reagiu. Após muita insistência, foi levada a um hospital."

Todos os estudantes foram liberados, mas ela acredita que poderia ser diferente se não houvesse uma estrangeira entre eles. Emilia afirma que gostaria de terminar o documentário. "Não está certo restringirem a liberdade de expressão." Com informações da Folhapress.

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