Diplomatas e ativistas criticam condenação de jornalistas birmaneses
Os dois jornalistas que trabalham para a agência Reuters foram detidos na noite de 12 de dezembro de 2017
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Mundo Reação
Diplomatas, organizações de defesa dos direitos humanos e as Nações Unidas criticaram a condenação a sete anos de cadeia imposta a dois jornalistas birmaneses da agência Reuters acusados de espionagem. O tribunal da Birmânia considerou que os repórteres Wa Lone e Kyaw Soe Oo violaram a lei referente aos "assuntos secretos e oficiais", que data do período colonial britânico, por investigarem o massacre de muçulmanos de origem rohingya, em Rakain, no oeste do país.
Os dois jornalistas que trabalham para a agência Reuters foram detidos na noite de 12 de dezembro de 2017 depois de uma reunião que mantiveram com polícias birmaneses que, segundo os acusados, lhes entregaram documentos alegadamente confidenciais.
O embaixador britânico na Birmânia, Dan Chugg, mostrou-se "extremamente decepcionado" com o veredito do tribunal de Rangum.
"Este caso deixou hoje uma grande sombra sobre aquilo o que é fundamental numa democracia: a liberdade de expressão e o Estado de Direito", disse Chugg minutos após a leitura da sentença em Rangum.
"O juiz parece ter ignorado provas e a própria lei birmanesa. Isto foi um ataque ao Estado de Direito", acrescentou.
Scott Marciel, embaixador dos Estados Unidos na Birmânia, manifestou "tristeza" e "preocupação" referindo-se aos repórteres, mas também ao país.
"É muito preocupante para todos os que lutaram pela liberdade de imprensa. As pessoas devem questionar se este processo atinge ou não a confiança do povo birmanês no próprio sistema judicial", afirmou Marciel.
O representante local das Nações Unidas e coordenador dos Assuntos Humanitários na Birmânia, Knut Ostby, mostrou "decepção" pelo veredito e recordou os apelos da ONU a favor da libertação dos jornalistas e sobre o respeito pela liberdade de imprensa.
A Amnistia Internacional, a Human Rigths Watch e a Federação Internacional para os Direitos Humanos uniram-se para demonstrar repúdio pela sentença tendo pedido igualmente a libertação imediata dos dois jornalistas.
A diretora do gabinete de Ações de Crise da Amnistia Internacional, Tirana Hassan, disse que a sentença foi motivada politicamente e advertiu sobre as consequências para a liberdade de imprensa no país.
"O veredito é uma crua mensagem de aviso a outros jornalistas deste país sobre as severas consequências que os espera quando se aproximam dos abusos dos militares. Isto [sentença] foi censura perante o medo", disse Hassan através de um comunicado.
O diretor para a Ásia da organização Human Rights Watch, Brad Adams, afirmou que na Birmânia os tribunais são utilizados para "amordaçar" os que informam sobre as atrocidades cometidas pelos militares tendo-se referido também ao governo liderado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.
"A sentença atinge a liberdade de expressão e é um retrocesso no que diz respeito aos direitos dos cidadãos governados pelo executivo de Aung San Suu Kyi", disse Adams numa nota difundida hoje.
"As condenações não conseguem ocultar perante o mundo os horrores cometidos contra os rohingya e mostram o estado precário da liberdade de expressão que se vive no país. São necessárias ações internacionais urgentes para libertar estes jornalistas", acrescenta o documento do responsável da Human Rights Watch.
A secretária geral da Federação Internacional para os Direitos Humanos, Debbie Stothard, disse que a detenção "arbitrária" dos dois jornalistas e as acusações foram "fabricadas" porque revelaram um massacre que o próprio Exército birmanês já admitiu.
"A sentença não tem fundamento e é um duro revés contra a liberdade de imprensa e o Estado de Direito na Birmânia", acrescentou Stothard através de um comunicado. Com informações da Lusa.