Nicarágua deporta jornalista por cobrir protestos contra Ortega
Carl David Goette-Luciak, repórter austríaco-americano, foi detido em sua casa em Manágua na segunda-feira
© REUTERS/Oswaldo Rivas
Mundo Censura
A Nicarágua deportou nesta semana um jornalista estrangeiro que vinha cobrindo a onda de protestos contra o ditador Daniel Ortega.
Carl David Goette-Luciak, repórter austríaco-americano, foi detido em sua casa em Manágua na segunda-feira (1º) e interrogado por horas pelas forças de segurança antes de ser transportado de avião para El Salvador.
Após ser deportado, Goette-Luciak declarou ao jornal nicaraguense Confidencial que foi levado de sua casa praticamente nu e que, embora não tenha sido agredido, foi ameaçado de tortura pelos agentes de segurança.
"Um policial me disse que iriam me deportar porque em meus artigos eu escrevia e opinava sobre coisas falsas, e também por participar em manifestações clandestinas", relatou.
Ele também contou que, ao ser deportado, entregaram-lhe uma mala que estava em sua casa, na qual haviam colocado lixo e algumas mudas de roupa. "Eu não sei se roubaram a minha casa, se levaram meus computadores e discos rígidos", disse.
Goette-Luciak vivia na Nicarágua há alguns anos, e, com o início da onda de protestos contra o regime de Ortega, em abril, ele passou a escrever sobre a situação no país para veículos internacionais, como o Washington Post e o The Guardian.
Acabo de hablar con @CDGoetteLuciak. Los policías no lo golpearon, pero lo amenazaron con torturarlo. No lo llevaron al Chipote. Lo sacaron sin zapatos, sin camisa, solo en shorts de su casa. "Según policía, me deportaron por opinar 'cosas falsas' y andar en marchas ilegales" pic.twitter.com/GyTl1lntBS
— Wilfredo Miranda (@PiruloAr) 2 de outubro de 2018
DIFAMAÇÃO
Semanas antes de ser deportado, Goette-Luciak vinha sendo alvo de uma campanha de difamação nas redes sociais. Em uma série de posts, ele teve dados pessoais divulgados e foi acusado de ser um agente da CIA (serviço secreto americano) que agia para desestabilizar o país.
"Liberação de informações e incitação à violência contra um jornalista são atos inaceitáveis de intimidação", disse, em nota, Natalie Southwick, coordenadora do CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), uma ONG sediada em Nova York. "As autoridades nicaraguenses devem tomar medidas imediatas para encontrar os responsáveis pelas ameaças contra Carl David Goette-Luciak e garantir que eles enfrentem a Justiça."
A repressão das forças de segurança da Nicarágua contra os manifestantes já deixou mais de 300 mortos. Dentre eles está a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, 31, morta a tiros em Manágua em julho.Nos últimos 11 anos, Ortega se consolidou no poder por meio de alterações na Constituição, da expulsão de políticos de oposição e de uma eleição questionada que lhe deu, em 2016, o terceiro mandato. Com informações da Folhapress.