Eleição no Brasil é resultado de 'desconhecimento', diz historiador
O especialista em autoritarismo aponta também a "falta de critério de parte da população que vai contra o que chama de 'fake news', mas compra uma imensa ficção
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Mundo Crítica
Para o historiador argentino Federico Finchelstein, 43, professor da New School for Social Research, de Nova York, a eleição no Brasil é resultado de um "desconhecimento histórico do passado recente do país".
O especialista em autoritarismo aponta também a "falta de critério de parte da população que vai contra o que chama de 'fake news', mas ao mesmo tempo compra uma imensa ficção, a de que Jair Bolsonaro é um outsider, quando na verdade já lidera um clã político há décadas".
Autor de "From Fascism to Populism in History" (Do Fascismo ao Populismo na História, sem edição no Brasil), ele considera preocupante uma provável vitória de Bolsonaro para a América Latina porque, pelo tamanho do Brasil e sua posição de liderança na região, poderia ter um impacto negativo em outros países ou discordâncias em tomadas de decisão em conjunto -por exemplo, a questão da Venezuela.
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"Há líderes de direita, como Macri (Argentina), Piñera (Chile) ou Duque (Colômbia), que não chegam perto do radicalismo das posições de Bolsonaro, mas que vão ter de construir uma forma de relacionar-se com ele e isso será um desafio. Não creio que irão radicalizar suas posições, mas terão de encontrar um campo comum de diálogo, o que não vai ser fácil", diz.
"Por exemplo, a própria direita que está no poder no Chile hoje se afasta e renega Pinochet, enquanto Bolsonaro o reivindica", diz Finchelstein. O atual presidente chileno, Sebastián Piñera, votou pelo "não" no plebiscito que pôs fim à ditadura de Pinochet, em 1990.
O historiador vê em comum entre o fenômeno Bolsonaro e outros sistemas autoritários no mundo a falta de um programa claro.
"Mussolini não tinha programa econômico, nem Hitler, nem os demais. Para esse tipo de líder o protagonismo está em suas ações políticas e em sua performance pública, vejo algo disso em Bolsonaro."
Para Finchelstein, ainda é cedo para aplicar termos como "nazista" ou "fascista" ao candidato, até porque ele nem mesmo ganhou a eleição, mas o modo correto de classificá-lo seria o de um "populista de extrema direita, que pode caminhar para ser um novo modelo de fascismo, agora apoiado nas redes sociais e com enorme capacidade de mobilização fora dos meios tradicionais".
Embora acredite que Bolsonaro deve rumar para o centro, pelo menos em seu discurso, para ganhar as eleições, sua militância não o fará, e nesse sentido é necessário estar alerta a ataques a jornalistas, minorias e à elaboração das listas dos inimigos.
"Quando isso começa a acontecer, quando se decide que um regime está listando seus inimigos, aqueles que devem ser retirados de cena, aí começamos a ter problemas."
Finchelstein, porém, é otimista quanto ao fato de o Brasil, até aqui, ser dos países latino-americanos com "institucionalidade mais forte, independência de poderes, ainda que relativa, e com condições de construir um modelo de pesos e contrapesos contra uma eventual escalada autoritária". Com informações da Folhapress.