Historiador italiano avalia possível governo Bolsonaro: 'Pinochetismo'
Governo de Bolsonaro pode ser pinochetismo via urnas, diz historiador italiano
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Mundo Urnas
SYLVIA COLOMBO - "Um governo Jair Bolsonaro pode ser uma espécie de pinochetismo pela via das urnas", diz à Folha de S.Paulo em entrevista o historiador italiano Loris Zanatta, professor da Universidade de Bolonha e especialista em América Latina. "Ou seja, autoritário e nacionalista na política e liberal na economia. Há menos contradição nisso do que parece".
"Não creio que o discurso agressivo às minorias e suas posições teoricamente anti-sistema sejam uma ameaça à democracia. Temo mais a reação que isso pode causar nas ruas, nos enfrentamentos entre seus seguidores mais radicais e seus oponentes."
Por outro lado, Zanatta não acha anormal que a sociedade brasileira tenha votado "com raiva desta vez, como que dando um castigo na velha política, porque os últimos anos foram de muito descrédito com relação a ela, em relação a todos os partidos."
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Quanto à capacidade de Lula, mesmo preso, ter catapultado seu candidato, Fernando Haddad, ao segundo turno, Zanatta relativiza.
"A polarização leva cada lado a se auto-alimentar e a se auto-fortalecer. Ao verem um tipo meio louco e uma suposta ameaça autoritária de um lado, as pessoas olham para o outro como alguém que pode pará-lo. Obviamente Lula ainda tem muito poder de transferência de capital político, mas este vem caindo. Eu atribuo Haddad no segundo turno como uma consequência da polarização, que rejeita naturalmente os centristas e moderados. E o Brasil optou por uma eleição polarizada."
Algo que surpreendeu o estudioso foi o modo como candidatos como Alckmin, Marina e Meirelles foram até o fim. "Mesmo se desinflando, não passou na cabeça de ninguém sair fora de uma forma mais digna? É algo que não entendo, principalmente nos casos de Marina e Alckmin, de quem se esperavam votações mais expressivas. Foram desinflando vergonhosamente."
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Sobre reações na América Latina, Zanatta crê que, se Bolsonaro continuar com um discurso radical, isso pode dar nova força a correntes populistas de esquerda que vinham em queda. "Mas não o vejo tendo coisas em comum e abraçando-se a líderes de centro-direita como Mauricio Macri, Sebastián Piñera ou Iván Duque, a não ser que mude de atitude."
Algo que crê que vai acontecer. "Campanha é uma coisa, governar é outra, lidar com o Congresso, com países da região, etc. Essas coisas vão obrigá-lo a ter um comportamento mais ameno. Nesse sentido me chama a atenção negativamente que algumas pessoas do entorno de Bolsonaro, como seu vice, sejam ainda mais radicais que ele. Isso pode dificultar sua tentativa de estabelecer pontes, se é que tentará."
As distinções que Zanatta vê entre o Brasil e seus vizinhos é que este possui instrumentos institucionais mais fortes para conter o presidente, se ele decidir seguir numa linha que ameace a democracia. Porém, por outro, o aspecto religioso e evangélico que deve ganhar relevo em seu governo, poderia isolar o Brasil do resto da região, porque por enquanto o Brasil é o único país em que esse componente é tão essencial na política. Com informações da Folhapress.