Há três décadas no poder, ditador do Sudão é alvo de protestos
Forças de segurança têm reprimido as manifestações, deixando um saldo de 40 mortos até agora, segundo ativistas
© Khaled Abdullah / Reuters
Mundo Revolta
O Sudão vive nas últimas semanas uma onda de protestos pela derrubada do ditador Omar al-Bashir. As forças de segurança têm reprimido as manifestações, deixando um saldo de 40 mortos até agora, segundo ativistas.
Os protestos já são um dos maiores desafios a Bashir, 75, que está no poder há três décadas. Seu governo islamita é acusado de alienar as comunidades não muçulmanas do Sudão, país do nordeste africano com cerca de 40 milhões de habitantes.
As manifestações começaram em 19 de dezembro na cidade de Atbara, um bastião oposicionista no nordeste do país. Estudantes saíram às ruas após o governo cortar subsídios ao pão, aumentando seu preço em até três vezes.
Tentando controlar a revolta, o governo voltou atrás nos cortes e impôs um toque de recolher noturno, além de suspender o acesso à internet. Mas era tarde demais: os protestos haviam se espalhado rapidamente para outras partes do país pedindo a queda de Bashir.
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Embora as manifestações tenham perdido força nas últimas semanas, os protestos seguem reunindo algumas centenas de pessoas quase diariamente. Uma das forças por trás do movimento é a Associação de Profissionais Sudaneses (SPA, na sigla em inglês), um sindicato sem ligação com os principais partidos de oposição -o grupo tem convocado os protestos pelas redes sociais.
Caso a revolta continue e algumas facções das Forças Armadas parem de seguir as ordens de repressão, a situação de Bashir pode se complicar. O ditador pode acabar perdendo apoio em seu partido no momento em que busca aprovar mudanças constitucionais para concorrer a um novo mandato nas eleições de 2020.
Um dos motivos de insatisfação com o governo é a crise econômica -a inflação no país subiu para 70% nos últimos anos. O Sudão perdeu importantes receitas com petróleo após a independência do Sudão do Sul, conquistada em plebiscito em 2011.
Apesar dos protestos, vários países da região mantêm apoio ao regime sudanês. O partido de Bashir, o Movimento Islâmico, é alinhado ideologicamente com o Qatar e a Turquia. Além disso, o país apoia com tropas a intervenção da Arábia Saudita no Iêmen.
Por fim, governos da região querem evitar uma nova conflagração regional nos moldes da Primavera Árabe, série de protestos iniciada em dezembro de 2010 que levou à derrubada de vários regimes incluindo Egito e Líbia, vizinhos do Sudão.
Bashir é considerado foragido pelo TPI (Tribunal Penal Internacional), corte sediada em Haia (Holanda) responsável por julgar suspeitos de crimes contra a humanidade. O ditador é acusado de apoiar um genocídio na região de Darfur, no sudoeste do país.
Mais de 300 mil pessoas foram mortas em Darfur desde 2003, a maioria membros de comunidades não arabizadas da região; o regime de Bashir nega participação no massacre. Embora a segurança na região tenha melhorado nos últimos anos, mais de 2 milhões de civis ainda vivem em campos provisórios, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Com informações da Folhapress.