Milhares de argelinos voltam às ruas para protestar contra presidente
Os manifestantes exigem renúncia de Abdelaziz Bouteflika
© REUTERS/Zohra Bensemra
Mundo Argélia
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dezenas de milhares de argelinos saíram às ruas nesta sexta (8) para protestar contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, representando o maior desafio para seu governo, que já dura 20 anos. Os manifestantes exigem a sua renúncia.
Bouteflika, 82, raramente é visto em público desde que sofreu um derrame, em 2013. Ele está hospitalizado em Genebra e, apesar dos problemas de saúde, submeteu os documentos para a sua candidatura às próximas eleições presidenciais. Caso seja reeleito, ele disse que não terminará o mandato e que convocará novas eleições, antecipadamente.
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As manifestações vêm ocorrendo desde a segunda quinzena de fevereiro e já deixaram ao menos 183 feridos. O estopim foi o anúncio de Bouteflika de que concorreria a um quinto mandato presidencial nas eleições de 18 de abril.
Vários parlamentares do partido governista FLN renunciaram para participar dos protestos, segundo a emissora de TV Ashourouq. Excepcionalmente, um dos imãs mais populares da capital Argel não rezou pelo presidente -como faz toda sexta-feira- , e só desejou o melhor para a Argélia e seu povo.
Além da saúde precária, os opositores do presidente acusam seu governo de corrupção crônica e de falta de reformas econômicas para combater o alto índice de desemprego, que excede 25% entre pessoas com menos de 30 anos.
A polícia suíça deteve o candidato da oposição argelina, Rachid Nekkaz, por invasão, ao entrar no hospital onde Bouteflika está sendo tratado. Ele viajou a Genebra para ver pessoalmente se o presidente está apto para o cargo.
"Há 40 milhões de argelinos que querem saber onde está o presidente argelino", disse ele a repórteres antes de entrar no hospital.
A presidência de Bouteflika foi saudada por reconciliar a nação, dividida após uma guerra civil dos anos 1990 cujo saldo foi de 200 mil mortos. Em 1991, um golpe militar cancelou as eleições daquele ano, vencidas pela Frente Islâmica de Salvação. Em seguida, os islâmicos pegaram em armas.
As manifestações de 2019 são as maiores na região desde a Primavera Árabe, em 2011, que derrubou governos em vários países do Oriente Médio e do Norte da África, dentre os quais Líbia e Tunísia, vizinhos da Argélia.
Na época, o governo de Bouteflika aumentou os investimentos sociais para evitar uma insurreição semelhante.