Apagão entra no 3º dia, e Venezuela volta a suspender aulas e trabalho
Lojas são saqueadas e população se mobiliza para comprar água e combustível
© REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Mundo Lojas saqueadas
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo do ditador Nicolás Maduro anunciou neste domingo (10) a suspensão das aulas e do dia de trabalho na segunda-feira, enquanto o apagão que afeta praticamente todo o país entrou em seu terceiro dia.
"Enquanto promotores do ódio, da morte e da violência se deleitam em seus planos de desestabilização, o presidente Nicolás Maduro ordenou que os ministros garantam que o povo venezuelano seja atendido", afirmou o ministro da Informação, Jorge Rodríguez.
+ Guaidó pedirá que Parlamento declare estado de emergência na Venezuela
O fornecimento de energia foi restabelecido apenas de forma parcial desde que o apagão começou, na última quinta-feira (7), no que Maduro chama de um ato de sabotagem de autoria dos EUA.
Moradores montaram barricadas na principal avenida do bairro de Chacao, em Caracas, para protestar contra a falta de energia e de serviço telefônico .
"A comida que tínhamos em nossas geladeiras estragou, as lojas estão fechadas, não há comunicação, nem mesmo por celular", afirmou Ana Cerrato, 49, diante de uma pilha de arame farpado.
"Nenhum país consegue aguentar 50 horas sem eletricidade. Precisamos de ajuda! Estamos em uma crise humanitária!"
As filas para os postos de combustível se estendiam por quarteirões, e famílias inteiras se mobilizaram para comprar água, que também começou a faltar.
A estatal petrolífera PDVSA afirmou que o suprimento estava garantido, mas a maioria dos postos permaneceu fechada por falta de energia.
Incapazes de manter os refrigeradores funcionando, mercados começaram a distribuir queijos, vegetais e carnes aos clientes.
"Vou dar para qualquer criança de rua que eu encontrar", afirmou Jenny Paredes, dona de um café, sobre o leite que não conseguia mais manter.
Outras lojas foram saqueadas. "Eles levaram comida, quebraram as vitrines, roubaram balanças e caixas", afirmou Manuel Caldeira, 58, dono de um supermercado saqueado em Caracas na noite de sábado. "Chegamos e encontramos tudo destruído."
O autodeclarado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, criticou o governo por não dar uma explicação para o apagão."A esta altura, dias após um apagão sem precedentes, o regime não tem um diagnóstico."
A energia voltou brevemente em partes de Caracas e outros cidades na sexta, mas caiu novamente ao redor do meio-dia de sábado. "Podemos inferir desses atrasos e dos resultados da falha que foi um problema nas linhas que deixam Guri, e não na própria estação", afirmou Miguel Lara, ex-presidente da estatal do sistema elétrico venezuelano, em referência à usina hidrelétrica de Guri, responsável pelo suprimento da maior parte da eletricidade no país.
No sábado, Maduro afirmou que um novo "ataque cibernético" frustrou o processo de restabelecimento de energia no país."Hoje, 9 de março, havíamos avançado quase 70%, quando sofremos, ao meio-dia, um novo ataque de caráter cibernético a uma das fontes de geração, que funcionava perfeitamente, o que perturbou e derrubou tudo o que havíamos conseguido", disse Maduro.