Eleitor de Bolsonaro acha que Min. da Saúde atua melhor que Presidente
Entre eleitores com ensino superior, 68% disseram rejeitar a afirmação de Bolsonaro de que a pandemia é marcada por uma "histeria"
© Reuters
Política Mudança
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A avaliação do desempenho do Ministério da Saúde na crise do coronavírus é melhor do que a aprovação ao trabalho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também entre seus eleitores.
O trabalho de Bolsonaro no combate aos efeitos da pandemia é considerado ótimo ou bom por 56% dos entrevistados que dizem ter votado nele no segundo turno da eleição presidencial. O percentual nesse grupo é muito maior do que a avaliação positiva feita pela população em geral, que é de apenas 35%.
Entre as pessoas que votaram no presidente, contudo, o índice de opiniões positivas sobre o desempenho do Ministério da Saúde, comandado por Luiz Henrique Mandetta, é ainda maior: atinge 64%.
Veja também: Após crise com China, Jair Bolsonaro faz ligação para Xi Jinping
Os dados apontam que, mesmo entre os eleitores de Bolsonaro, existem percepções diferentes entre as duas autoridades.Mandetta se notabilizou por declarações que indicavam a gravidade da crise, enquanto o presidente usou expressões como "fantasia", "histeria" e "gripezinha" para se referir à pandemia.
O contraste entre os eleitores de Bolsonaro, porém, é menor do que aquele observado no restante da população. Levando-se em consideração todos os entrevistados, a atuação do ministério é aprovada por 55%, ante os 35% a favor do presidente.Desde o início da crise, Bolsonaro minimizou o risco à saúde da população e resistiu à adoção de medidas restritivas a exemplo do fechamento do comércio.
O comportamento do presidente entrou em choque tanto com as recomendações do próprio ministério quanto com determinações feitas por outras autoridades.Embora Bolsonaro tenha decidido investir em um confronto direto com governadores –em especial o paulista João Doria (PSDB) e o fluminense Wilson Witzel (PSC)–, a maioria de seus eleitores acredita que os estados têm feito um trabalho ótimo ou bom ao enfrentar a crise.
O percentual de eleitores bolsonaristas que têm uma opinião positiva sobre o desempenho dos governadores é de 57% –índice muito semelhante à aprovação à conduta do próprio presidente nesse mesmo grupo.A aprovação ao trabalho das autoridades estaduais vai na contramão do discurso que Bolsonaro reforçou nos últimos dias, com o objetivo de transferir aos governadores a responsabilidade pela redução da atividade econômica e pelo provável aumento em massa de demissões.
No último domingo (22), o presidente disse que "brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia". E acrescentou: "Espero que não venham me culpar lá na frente pela quantidade de milhões e milhões de desempregados".O Datafolha ouviu 1.558 pessoas de 18 a 20 de março. Feito por telefone para evitar contato com o público, o levantamento tem margem de erro de três pontos para mais ou para menos.No grupo de entrevistados que dizem ter votado em Bolsonaro no segundo turno, o apoio a suas declarações e atitudes é naturalmente maior do que a aprovação medida no restante da população. Surgem, contudo, discordâncias nesse segmento.
A maioria dos eleitores de Bolsonaro (58%) afirma que o presidente agiu mal ao apertar a mão de manifestantes no protesto do dia 15 de março. Ainda assim, 39% disseram que ele agiu bem.O recorte da pesquisa feito entre bolsonaristas mostra ainda um apoio considerável à declaração de que existe uma "histeria" em relação à crise do coronavírus: 47% desses entrevistados dizem concordar com Bolsonaro, e 42% discordam dele.
Apesar dessas avaliações, os eleitores do presidente também afirmam ter medo do vírus. No grupo, 36% dizem ter muito medo e outros 36% declaram ter um pouco de medo –uma proporção semelhante à que foi calculada na população em geral. O Datafolha também perguntou aos entrevistados que declararam voto no presidente se eles estavam arrependidos da decisão. Apenas 15% deles disseram que sim, o que indica que Bolsonaro preserva o apoio de uma grande parcela de seu eleitorado.
Os segmentos que mais se dizem arrependidos são as mulheres: 19%, ante 11% dos homens que declaram ter votado no presidente.No recorte por nível de escolaridade, os eleitores com ensino fundamental afirmam se arrepender mais (18%) do que aqueles com ensino médio ou superior (13%).
REJEIÇÃO
A população mais rica e com maior grau de escolaridade responde de maneira mais negativa a declarações do presidente Jair Bolsonaro e a sua atuação na crise do novo coronavírus.Pesquisa Datafolha indica que o presidente enfrenta opinião crítica em segmentos que estiveram na linha de frente do apoio à sua candidatura em 2018 e se mantiveram numerosos na sustentação de seu primeiro ano de governo.
Entre eleitores com ensino superior, 68% disseram rejeitar a afirmação de Bolsonaro de que a pandemia é marcada por uma "histeria". Nos segmentos que têm apenas o ensino fundamental ou o ensino médio, esse percentual foi de 50%.
O grupo de entrevistados mais escolarizados e com maior renda é também aquele que se julga mais bem informado sobre a crise.Eleitores com ensino superior são aqueles que mais consideram que Bolsonaro faz um trabalho ruim ou péssimo para enfrentar a pandemia: 46% deles pensam assim, enquanto apenas 27% dos entrevistados com ensino fundamental deram essa resposta.
O segmento de escolaridade mais alta também rejeitou mais o comportamento de Bolsonaro no protesto do último dia 15 de março. Nessa faixa, 80% afirmaram que o presidente agiu mal ao sair do Palácio da Alvorada para cumprimentar apoiadores. O índice foi de 63% entre eleitores com ensino fundamental completo.
Entrevistados de renda mais alta espelham parte dessa avaliação, uma vez que fatias dos dois grupos são coincidentes. A avaliação negativa das ações do presidente é de 34% entre eleitores que recebem entre cinco e dez salários mínimos e de 51% no grupo com renda superior a dez salários.Nos segmentos de baixa renda, os índices de reprovação são de 33% (renda de até dois salários mínimos) e 29% (renda de dois a cinco salários).