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Campanha eleva tensão política no País

A campanha também contraria restrições impostas - em maior ou menor escala - nos 27 Estados e ao menos 23 capitais do País, como fechamento de escolas, lojas e igrejas

Campanha eleva tensão política no País
Notícias ao Minuto Brasil

08:30 - 28/03/20 por Estadao Conteudo

Política Retrocesso

O governo federal divulgou uma campanha publicitária chamada "O Brasil não pode parar" para estimular que pessoas deixem as suas casas em meio à pandemia de coronavírus e voltem a trabalhar. A iniciativa faz parte da estratégia do Palácio do Planalto para reforçar a narrativa do presidente Jair Bolsonaro de que é preciso retomar as atividades para reduzir os impactos na economia. A orientação vai na contramão das recomendações de organismos de saúde mundo afora, que defendem a quarentena como forma mais eficaz de evitar a propagação da doença. Parlamentares e prefeitos ameaçam ir à Justiça contra a publicidade oficial.

A campanha também contraria restrições impostas - em maior ou menor escala - nos 27 Estados e ao menos 23 capitais do País, como fechamento de escolas, lojas e igrejas. Segundo reportagem da rede britânica BBC, cerca de 70 países no mundo decretaram algum tipo de medida de isolamento. De acordo com a agência France Presse, as restrições atingem pelo menos 2,8 bilhões de pessoas, o que representa mais de 1/3 da população mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) não tem um levantamento oficial.

Veja também: Doria chama Bolsonaro de 'irresponsável' por pedir fim do isolamento

A senha para que apoiadores de Bolsonaro difundisse a campanha foi dada ainda na quarta-feira, quando o governo divulgou uma postagem no Instagram com a hashtag #OBrasilNãoPodeParar". "A quase totalidade dos óbitos se deu com idosos. Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrantes dos grupos de risco, com todo cuidado, carinho e respeito. Para estes, o isolamento. Para todos os demais, distanciamento, atenção redobrada e muita responsabilidade. Vamos, com cuidado e consciência, voltar à normalidade", diz o texto.

Na noite de quinta, um vídeo com o mesmo mote e com a marca do governo federal foi divulgado pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, nas redes sociais. A campanha começou a circular em grupos bolsonaristas no WhatsApp com a seguinte mensagem: "Vou passar de primeira mão a propaganda que o governo federal vai veicular a partir de amanhã." Integrantes do governo também enviaram o material para seus contatos.

O vídeo de 1 minuto e 27 segundos mostra cenas de trabalhadores em atividades com um narrador ao fundo repetindo o tema da campanha. "Para ambulantes, engenheiros, feirantes, arquitetos, pedreiros, advogados, professores particulares e prestadores de serviço em geral, o Brasil não pode parar", diz a narração.

A propaganda do governo federal se assemelha a uma campanha feita em fevereiro pela prefeitura de Milão, na Itália. O prefeito da cidade, Giuseppe Sala, reconheceu que errou ao ter divulgado o slogan "Milão não para". A cidade é uma das mais afetadas pela pandemia no país europeu, que ontem ultrapassou a marca dos 5 mil mortos pela doença.

Um grupo de parlamentares, que inclui o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), afirmou ontem que vai entrar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a campanha. O argumento é que a peça contraria especialistas e é um crime por prejudicar a saúde dos brasileiros. Em ofício encaminhado ao presidente, a Frente Nacional de Prefeitos também cobrou explicações e ameaça ir à Justiça.

A Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou, em nota, que o vídeo tinha um "caráter experimental" e "que não houve qualquer gasto ou custo" na sua produção. A Secom informou ainda que o vídeo não tem relação com a contratação por R$ 4,9 milhões de uma agência de publicidade sem licitação.

Integrantes do Palácio do Planalto atribuíram a divulgação do vídeo a um vazamento na própria secretaria, comandada por Fabio Wajngarten - que está de quarentena após ser contaminado pela covid-19.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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