Lula: "o governo neste instante mais atrapalha do que ajuda"
Lula diz que Bolsonaro falha ao não orientar população sobre o que fazer diante da pandemia
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Política LULA-ENTREVISTA
CAROLINA LINHARESSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Lula (PT) criticou, nesta quarta-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro por, segundo o petista, não ter dado orientações à população sobre como agir na pandemia do novo coronavírus em seu pronunciamento na noite desta terça (31).
"O presidente utiliza não sei quanto tempo na TV e não tem uma orientação para as pessoas", disse, em entrevista virtual a blogs e veículos de imprensa de esquerda. Para o petista, falta "voz de comando" da Presidência nesta crise.
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O ex-presidente disse ainda que a preocupação que Bolsonaro demonstrou com os pobres é da boca para fora e cobrou que o presidente faça a verba da União chegar até os trabalhadores, para que eles possam cumprir o isolamento social.
"Tentar defender os mais pobres, o camelô, o cara do Uber, do pequeno comércio... Além de estar defendendo esses caras da língua pra fora. As medidas concretas beneficiaram os banqueiros, porque ele liberou R$ 200 bilhões para os banqueiros", disse Lula.
"E para as pessoas pobres que estão precisando dos R$ 600, a gente ouviu o Guedes [ministro da Economia] dizer que só vai ser dia 16 de abril", completou.
Lula afirmou que não há problema em descumprir as regras fiscais e que Guedes deve liberar ajuda aos mais carentes já, pois eles não aguentarão 15 dias.
O petista também exaltou iniciativas dos parlamentares e da sociedade civil para tecer medidas contra a pandemia. "Há uma preocupação da sociedade em dar resposta àquilo que o governo não consegue fazer. Estamos percebendo que governo não se preparou para uma crise desse dessa magnitude."
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Lula cobrou que Bolsonaro coordene uma saída à crise com os entes federados e afirmou que "quem está fazendo o trabalho mais sério são os governadores e prefeitos"."Ele que cumpra com seu papel de ser coordenador e libere o dinheiro logo, porque o povo está precisando do recurso", disse. Segundo o petista, só o Estado forte pode combater o vírus.
Apesar de afirmar que "Bolsonaro é o grande problema que estamos vivendo hoje" e que "o governo neste instante mais atrapalha do que ajuda", Lula evitou fazer defesa explícita de impeachment, seguindo a linha de cautela adotada pelo PT até agora.
O ex-presidente disse que, para defender o impeachment, é preciso crime de responsabilidade e contou que pediu à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e ao ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão que fizessem um estudo para verificar se Bolsonaro já cometeu crime de responsabilidade."Não quero ser irresponsável como eles foram com a Dilma, sem ter crime de responsabilidade. Mas se tiver, temos que pressionar a Câmara", disse.
Ao mesmo tempo, Lula incentivou a saída de Bolsonaro do governo e falou em renúncia ou, voltando, mesmo impeachment. Afirmou que o presidente "no fundo sabe que está enfraquecido aos olhos da sociedade".
"Ou esse cidadão renuncia ou se faz o impeachment dele com base nos crimes de responsabilidade que ele já cometeu", afirmou.
"Eu estou convencido de que Bolsonaro, ou ele muda, ou ele não tem condição de continuar", pontuou em outro momento."Eu estou convencido que o Bolsonaro não tem estrutura psicológica de continuar governando o país. Acho que ele é um desequilibrado, não fala coisa com coisa, está preocupado em atender ao público fanático dele, mas não em dar uma resposta concreta que o povo está precisando. O povo está precisando de uma orientação e receber o dinheiro aprovado pelo Congresso", disse também.
Lula deu a entender que o manifesto que pede a renúncia de Bolsonaro, assinado por Fernando Haddad (PT), Flávio Dino (PC do B), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL), é um começo para que o "fora, Bolsonaro" passe a ser palavra de ordem no PT.
"Da renúncia para o impeachment, é um pouco. Da renúncia para o 'fora, Bolosnaro', é um pouco. Na hora que tiver manifestação de rua, o 'fora, Bolsonaro' ganha força", disse.Ele disse ainda que "não era necessário" que também tivesse assinado o manifesto. Para o petista, era importante que os candidatos a presidente na eleição passada e os presidentes de partidos de esquerda assinassem.
O ex-presidente afirmou que há uma discussão sobre construir o próximo passo caso Bolsonaro saia, se levaria a um governo do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), ou se a novas eleições.Lula ressalvou, contudo, que para traçar esses cenários é preciso força política e que a prioridade agora é combater o vírus, e não travar disputa política ou buscar alterar a correlação de forças do Congresso para viabilizar a saída de Bolsonaro.
"Para tudo isso tem que construir força política. E nesse instante a gente não tem que se preocupar com isso", afirmou.Lula também afirmou que está disposto a conversar com Ciro, "que é uma figura importante e deve ser levado em conta". Disse, porém, que o pedetista queria que o ex-presidente "deixasse de convencer as pessoas a apoiar o PT para apoiar ele" e que isso não era possível.
No entanto, Lula recusou qualquer conversa com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB).
"O que eu tenho para conversar com Fernando Henrique nos dias de hoje? Ele não fez um único gesto para tentar evitar o impeachment da Dilma. Ele sabe que eu sou honesto, mas não fez um único gesto para me defender. [...] O que eu teria para conversar com Temer? Estive com ele uma semana antes [e pediu que não levasse o impeachment adiante]. [...] São pessoas que eu não me vejo conversando."
A respeito da eleição municipal deste ano, Lula disse não ver problema no adiamento se a crise do coronavírus ainda estiver muito forte.
O petista voltou a criticar o ministro Sergio Moro, atual ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato que o condenou, afirmando que ele mentiu, fomentado pela Rede Globo. "Moro é a pessoa mais falsa que o país já produziu. Como ministro, não diz a que veio e não está preparado para isso."O ex-presidente também criticou a imprensa em geral e afirmou que, na Presidência, deveria ter consolidado a imprensa alternativa no país.