Chefe da PF em Minas contradiz Bolsonaro
Cairo Costa Duarte afirmou que Bolsonaro foi avisado do inquérito sobre Adélio Bispo e não demonstrou insatisfação quanto ao aprofundamento das apurações
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Política Depoimento
O superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, delegado Cairo Costa Duarte, afirmou em depoimento que o presidente Jair Bolsonaro, ao ser informado sobre o andamento das investigações do caso Adélio Bispo, não demonstrou insatisfação quanto ao aprofundamento das apurações.
Após o pedido de demissão do ex-ministro Sérgio Moro, em abril, Bolsonaro reclamou, em pronunciamento, sobre suposta falta de aprofundamento das investigações relacionadas a Adélio, autor da facada contra o então presidenciável. O presidente acusou a PF de se preocupar mais "com Marielle do que com seu chefe supremo". À época, no primeiro semestre do ano passado, um inquérito sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco já havia sido concluído e um outro, sobre supostos mandantes, estava sendo conduzido pela PF mineira.
Em depoimento, Duarte relatou que esteve duas vezes com Bolsonaro, uma delas recentemente e na presença do atual ministro da Justiça, André Mendonça, e o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza. O primeiro encontro teria ocorrido no ano passado, com a presença de Moro e o então chefe da PF, Maurício Valeixo.
A reunião mais recente com o presidente ocorreu em meio à conclusão do segundo inquérito da PF, que relatou a ausência de mandantes no atentado conduzido por Adélio Bispo. De acordo com a investigação, o esfaqueador agiu sozinho. No âmbito judicial, Bolsonaro não apresentou recurso contra a sentença que considerou Adélio Bispo inimputável.
O delegado responsável pelos dois inquéritos relacionados ao caso Adélio Bispo, Rodrigo Morais Fernandes, relatou em depoimento que Bolsonaro participou de reunião na última sexta no qual foi informado sobre a conclusão das investigações sobre o crime e não também teria se mostrado insatisfeito com as apurações.
O relatório assinado por Fernandes apontou que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho em um crime sem mandantes. A explanação teria sido feita nos moldes de outra, feita no ano passado, e serviria para Bolsonaro, na condição de vítima, saber sobre as conclusões das investigações.
Advogado
De acordo com o delegado Fernandes, o presidente foi informado, também, de empecilhos jurídicos que barraram a apuração de uma linha de investigação. Por ordem do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), a PF não pode quebrar o sigilo do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defendeu Adélio Bispo. A intenção da PF era descobrir quem pagou os honorários do escritório da defesa. O caso aguarda análise no STF.
"A despeito disso, várias outras linhas de investigação foram traçadas e exauridas, inclusive apurando notícias veiculadas na imprensa e redes sociais que pudessem contribuir na investigação", esclareceu o delegado.
Fernandes também destacou que os advogados que defenderam Bolsonaro no processo contra Adélio sugeriram diligências, "tendo sido acatadas pela autoridade policial e realizadas". No âmbito judicial, Bolsonaro não apresentou recurso contra a sentença que considerou Adélio Bispo inimputável.
Fernandes afirmou ainda que teve plena liberdade para conduzir o cargo sem ter havido "ordem ou sugestão de linha investigativa" por parte de seu superior hierárquico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.