Com queixas de Bolsonaro, militares e aliados pedem saída de Weintraub
Em conversas reservadas, relatadas à Folha de S.Paulo, o presidente se queixou da resistência do ministro em ceder espaço para indicados do centrão e em adiar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)
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Política Educação
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Abraham Weintraub (Educação) entrou na mira das reclamações do presidente Jair Bolsonaro. As queixas reacenderam o incômodo da ala militar do governo e a antipatia de congressistas.
Com o incômodo de Bolsonaro, auxiliares presidenciais e parlamentares retomaram movimento para convencê-lo a demitir Weintraub após o arrefecimento da pandemia do novo coronavírus.
Em conversas reservadas, relatadas à Folha de S.Paulo, o presidente se queixou da resistência do ministro em ceder espaço para indicados do centrão e em adiar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
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Além disso, Bolsonaro avaliou que Weintraub passou do ponto em crítica feita ao STF (Supremo Tribunal Federal) em reunião ministerial realizada no fim de abril.O mal-estar foi visto como uma oportunidade tanto pelo núcleo militar como pelo centrão de pressionar por uma troca. O desempenho do MEC é criticado pelos dois grupos desde o ano passado.
Congressistas passaram a apostar na troca do comando do MEC após a pandemia.
Na tentativa de pressionar por uma mudança, integrantes do governo têm citado pesquisas de opinião que demonstram uma queda na avaliação pública do ministro, bem como uma insatisfação com a educação pública do país. A ideia é que elas sejam apresentadas ao presidente.Em reuniões nas últimas semanas, ministros palacianos têm afirmado a deputados aliados que o governo identifica fragilidades em Weintraub. Há ainda resistências na equipe econômica e técnica.
Segundo auxiliares presidenciais, Paulo Guedes (Economia), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) já reclamaram da postura do colega.Recentemente, o ministro da Educação colocou entraves para liberar a nomeação de indicados pelo centrão no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Ele reclamou que, no ano passado, teve problemas com indicações políticas no órgão federal.
O ex-presidente do FNDE Rodrigo Dias, demitido em dezembro, tinha a chancela do PP e do DEM, principalmente do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).Weintraub já disse a interlocutores que demitiu Dias porque suspeitava de que ele estaria prestes a fazer "coisa errada" no FNDE. O ministro também dizia que a gestão da estrutura teria de ser correta.
Por essa razão, Weintraub resistiu inicialmente a atender o pedido de siglas como PP, PL e Republicanos para abrir espaço não apenas na presidência do órgão, mas também em diretorias estratégicas.
Na semana passada, Garigham Amarante Pinto foi nomeado para a chefia da Diretoria de Ações Educacionais. Ele é nome de confiança do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, que comanda o PL.
Weintraub chegou a sugerir que o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, assumisse a gestão do FNDE para dividir a responsabilidade com ele. O general rejeitou a proposta.Sob o risco de ser demitido caso não concordasse –possibilidade que Weintraub ouviu do próprio presidente–, o ministro da Educação cedeu.
Desde então, a cúpula fardada voltou a defender a necessidade de que o presidente demita o ministro e também o irmão dele, Arthur Weintraub, que atua na assessoria especial de Bolsonaro.Aliados do presidente atribuem a Arthur forte influência sobre o mandatário e dizem acreditar que ele acaba influenciando nas decisões de Bolsonaro com teses radicais.
O episódio do Enem também passou a ser exemplo citado por deputados governistas. Weintraub resistia ferrenhamente em ceder e adiar a data da prova, mesmo com a reclamação de professores e estudantes e de sinais de que poderia sofrer uma derrota no Congresso.Em reunião na semana passada, Maia conversou sobre o assunto com Bolsonaro. O presidente, naquela ocasião, ficou de avaliar o adiamento.
Internamente, Weintraub bateu o martelo de que não seria possível adiar a prova. Em um contraponto, ministros palacianos e o próprio presidente se mostraram mais maleáveis.Mas, ainda assim, diante da iminente derrota no Senado, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) trabalhou junto a líderes do centrão para jogar a discussão sobre o assunto na Câmara para agosto.
Inicialmente, alguns líderes partidários demonstraram disposição em trabalhar por essa alternativa, até em retribuição pelo fato de Weintraub ter cedido no FNDE.Dentro do próprio grupo, porém, não havia consenso e houve a avaliação de que o projeto seria aprovado.
Em reunião com congressistas, o ministro ouviu o diagnóstico de que perderia no Congresso. Ele avaliou se antecipar e divulgar antes o adiamento da prova. Ainda assim, ele estava resistente.O martelo, então, só foi batido quando Maia telefonou para Bolsonaro, nesta quarta-feira (20), e avisou que o governo ia perder.Naquele momento, o presidente determinou que Weintraub adiasse a prova. Em conversas reservadas, reclamou da insistência do ministro.
O gesto, para congressistas próximos do governo, foi mais uma demonstração de que, nas quedas de braço internas, o ministro da Educação sempre perde e acaba apenas gerando desgastes.Um outro episódio que gerou mal-estar foi crítica feita por Weintraub aos ministros do STF em reunião ministerial do dia 22 de abril.
A gravação do encontro foi enviada ao ministro Celso de Mello como parte do inquérito que apura acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro (Justiça) de que Bolsonaro teria tentado interferir na Polícia Federal.
Segundo o relato de pessoas que assistiram ao vídeo, Weintraub disse que ministros do STF tinham de ir para a cadeia.
A crítica foi considerada uma ofensa grave por integrantes da corte e dificultou a relação conflituosa entre Executivo e Legislativo.
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