Flávio Bolsonaro comemora morte de miliciano 'que não era policial'
Ele parabenizou a Polícia Civil pela "eliminação do miliciano que nunca foi policial e era o mais procurado do país"
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O senador Flávio Bolsonaro comemorou neste sábado (12) a morte do miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, em publicação em suas redes sociais. Ele parabenizou a Polícia Civil pela "eliminação do miliciano que nunca foi policial e era o mais procurado do país".
A manifestação difere da feita pelo senador após a morte de outro miliciano, Adriano da Nóbrega, ex-policial militar apontado como integrante do esquema da "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa. Na ocasião, ele levantou suspeita de execução extralegal.
Ecko foi morto na casa de parentes em Paciência, zona oeste do Rio de Janeiro. Durante o monitoramento telefônico dele e de seus parentes, a polícia identificou que o miliciano visitaria a mulher neste Dia dos Namorados -data que batizou a operação.
"Parabéns aos Policiais Civis do Rio pela eliminação do miliciano "Ecko", que nunca foi policial e era o mais procurado do país! Todo respeito e apoio incondicional aos verdadeiros Policiais de todo o Brasil!", afirmou o senador.
Em fevereiro do ano passado, quando Adriano morreu numa operação policial na Bahia, o senador teve comportamento distinto. Ele afirmou ter recebido informações de que o ex-PM, filho e ex-marido de duas ex-assessoras suas, fio "brutalmente assassinado".
"DENÚNCIA! Acaba de chegar a meu conhecimento que há pessoas acelerando a cremação de Adriano da Nóbrega para sumir com as evidências de que ele foi brutalmente assassinado na Bahia. Rogo às autoridades competentes que impeçam isso e elucidem o que de fato houve", escreveu o senador na ocasião.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também saiu em defesa de Adriano na ocasião. Disse que a PM da Bahia "não procurou preservar a vida de um foragido, e sim sua provável execução sumária".
Ecko era um "pé inchado", como os milicianos egressos das corporações policiais (maioria na origem desses grupos) chamavam os civis que atuavam no domínio de territórios.
Símbolizava um novo perfil de milicianos do estado. Abandonou o discurso de combate às drogas adotado por essas quadrilhas no início dos anos 2000 e investiu na exploração do tráfico e outras atividades criminosas.
Ele estava na lista dos bandidos mais procurados do Brasil, elaborada pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública ainda na gestão do ex-juiz Sérgio Moro. Havia contra ele dez mandados de prisão por homicídio, extorsão, associação criminosa, entre outros crimes. O primeiro foi expedido em dezembro de 2016.
Ecko, também conhecido como Didil, assumiu a chefia da Liga da Justiça -como se autointitula a principal milícia da zona oeste- em abril de 2017, após a morte de seu irmão, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, também um "pé inchado".
A Liga da Justiça surgiu na zona oeste, nos anos 2000, e tem como símbolo o morcego do personagem de quadrinhos Batman, uma alusão ao apelido de um dos chefes da quadrilha, o ex-policial Ricardo Teixeira Cruz, hoje preso.
Os seus primeiros chefes eram os irmãos Natalino, ex-deputado, e Jerônimo Guimarães, ex-vereador. Os dois também foram policiais.
Adriano, por sua vez, era um ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) expulso da PM sob acusação de ligações com bicheiros.
As investigações apontam que ele ampliou suas atividades criminosas, assumindo a chefia da milícia de Rio das Pedras, a mais antigas do estado. De acordo com a polícia, era também membro do Escritório do Crime, grupo de assassinos de aluguel.
Apesar da origem distinta, Adriano tinha respeito por Ecko. Numa investigação sobre o Escritório do Crime, o Ministério Público apontou que o ex-capitão abortou um homicídio encomendado que cometeria numa festa ao ver Ecko no local.
A investigação sobre a suposta "rachadinha" no gabinete de Flávio apontou que contas controladas por Adriano foram usadas para o desvio de recursos da Assembleia.
Os investigadores afirmam que Danielle Mendonça, ex-mulher de Adriano, devolveu ao menos R$ 150 mil do salário que recebeu de 2007 a 2018 a Queiroz –cerca de 19% do total de seus vencimentos. Desse volume, R$ 115 mil foram repassados por intermédio de contas bancárias controladas pelo miliciano, de acordo com o Ministério Público.
Foram usadas contas em nome de dois restaurantes da família do ex-capitão e da mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, em período anterior à nomeação dela no gabinete de Flávio.