'PAC do Doria' de R$ 47,5 bi é aposta do tucano e de seu vice para 2022
No governo paulista, o programa já foi apelidado de "PAC do Doria", uma alusão algo imperfeita ao Programa de Aceleração do Crescimento lançado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2007
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Política JOÃO-DORIA
IGOR GIELOW- (FOLHAPRESS) - O governo de São Paulo lança nesta quarta (15) o programa Pró-SP, que pretende reunir sob um só guarda-chuva R$ 47,5 bilhões em investimentos ainda neste ano e no ano eleitoral de 2022.
A recuperação declarada da capacidade de investimento do estado é um dos principais trunfos para a campanha do ano que vem pelo governador João Doria (PSDB), caso consiga concorrer à Presidência como planeja, e a de seu vice, o neotucano Rodrigo Garcia, que mira o Palácio dos Bandeirantes.
No governo paulista, o programa já foi apelidado de "PAC do Doria", uma alusão algo imperfeita ao Programa de Aceleração do Crescimento lançado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2007.
Se for mesmo candidato em 2022, numa corrida que aliás inclui Lula, o governador obviamente poderá aproveitar os efeitos positivos caso as promessas colocadas no Pró-SP se concretizem, em particular a promessa de geração de 200 mil empregos.
Já Garcia terá o mesmo papel que a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff teve no PAC: o de coordenador-geral do programa e, na esperança dos estrategistas tucanos, beneficiário eleitoral como a depois presidente foi ao ser eleita em 2010.
Hoje ainda desconhecido fora de círculos da política, Garcia receberá o governo em abril para tentar a reeleição, segundo o combinado com Doria.
Ele rejeita, claro, intenções eleitorais e afirma que o Pró-SP faz parte de um plano de governo que vem desde que a dupla assumiu, em 2019.
"Depois de um ciclo de crise que começa em 2015, passa pelo estado delicado das contas que recebemos em 2019 e foi coroado pela pandemia, podemos dizer que São Paulo está de volta. O estado terá o maior nível de investimento da história recente", afirmou à reportagem Garcia, no Palácio dos Bandeirantes.
Durante os anos de recessão e recuperação de 2015 a 2017, São Paulo teve investimentos flutuando entre R$ 16,9 a R$ 18,5 bilhões. Em 2018, isso caiu para R$ 13,7 bilhões.
Era o fim da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) com Márcio França (PSB), seu vice que assumiu o governo num cronograma semelhante ao atual –o tucano, hoje negociando sua saída do partido, deixou o cargo para disputar sem sucesso da Presidência.
O dois primeiros anos do governo Doria foram, nas palavras de Garcia, de reconstrução. "Houve enxugamento da máquina e a reforma da previdência estadual", diz, apesar do tombo de arrecadação em 2020 com a pandemia e críticas feitas ao projeto do governo.
Com efeito, em 2019 o índice de investimentos caiu a R$ 11,8 bilhões. Permaneceu estável (R$ 12,4 bilhões) em 2020 e deu um salto de 81% para o previsto para este ano (R$ 22,5 bilhões).
"Só agora, pela natureza dos projetos, teremos uma grande execução. Só executamos até aqui cerca de R$ 4 bilhões, o resto será deste mês em diante", afirmou Garcia, que dedica quintas e sextas a viagens ao interior para inaugurações e afins.
Ele comandará o evento de lançamento do Pró-SP no Bandeirantes, para o qual todos os 645 prefeitos paulistas foram convidados.
No dia 30, será enviado o orçamento de 2022, com a previsão de investimento na ordem de R$ 25 bilhões. Ao todo, são cerca de 8.000 obras centralizadas em suas mãos.
Elas vão desde R$ 400 milhões para revitalizar 5.000 km de estradas de terra e R$ 120 milhões em poços artesianos até mastodontes de infraestrutura rodoviária, como a retomada do Rodoanel em novembro.
Esta é a última grande obra que estava parada, após o início dos acessos à rodovia dos Tamoios, no litoral, ser assinado no mês passado. Doria deve abrir os canteiros no dia 21.
Como em todo programa do gênero, os números grandiosos embutem detalhes não tão vistosos: o monotrilho paulistano deverá ser inaugurado com uma extensão menor do que a planejada há dez anos, e parte das grandes obras é realizada em regime de Parceria Público-Privada -ou seja, com participação usualmente minoritária do estado.
Há também os projetos e planos que não saem do papel, como críticos já apontaram no caso de privatizações estaduais.
O resto são os usuais superlativos para o marketing político, que dependerão do escrutínio da realidade para serem aferidos: maior obra ambiental do país (despoluição do rio Pinheiros), maior concessão rodoviária do país (Piracicaba-Panorama) etc.
O grosso do dinheiro novo previsto para 2022 vai para logística e mobilidade, R$ 12,5 bilhões. A área da saúde, obviamente em foco com a pandemia, mantém o nível atual de investimento, pouco acima de R$ 1 bilhão.
"Aqui, o que importa mais é o custeio", diz o vice-governador. Em 2020, esse gasto com despesas correntes na saúde subiu 28,6% ante 2019, por causa da pandemia.
Garcia entrou no PSDB em maio, após a crise no seu partido, o DEM. Despacha com frequência com um ex-colega de sigla, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, ora encaixado no secretariado de Doria.
Segundo aliados, além de viagens para manter a estrutura de contato com prefeitos azeitada, Garcia está fazendo política partidária pura visando as prévias do PSDB em outubro. Até lá, eles querem que ele tenha falado em encontros presenciais com 5.000 tucanos considerados chave para a mobilização estaudal.
Até aqui, é o único candidato inscrito na disputa. Alckmin já disse que deve sair do PSDB, talveza para o PSD, talvez para uma fusão do DEM com PSL, embora muitos apostem que nada disso irá acontecer.
A esquerda, por sua vez, deverá vir com mais força embalada na candidatura Lula, com Fernando Haddad (PT) e/ou Guilherme Boulos (PSOL).
O bolsonarismo talvez conte com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infrestrutura, que terá de apresentar contrapartidas federais hoje escassas ao "PAC" dos tucanos paulistas -para piorar, o governo federal só aceitou duplicar a Rio-Santos até a fronteira de São Paulo na renegociação da concessão da via Dutra, fazendo o estado assumir a obra.