Evangélicos sobem tom contra Alcolumbre sobre Mendonça
Os evangélicos redobraram a ofensiva na última semana
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Política DAVI-ALCOLUMBRE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em defesa da nomeação de André Mendonça a uma das cadeiras do STF (Supremo Tribunal Federal), importantes líderes evangélicos subiram ainda mais o tom contra o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que tem travado a sabatina do ex-ministro de Jair Bolsonaro.
Os evangélicos redobraram a ofensiva na última semana. Em mensagens que fizeram chegar ao gabinete de Alcolumbre, líderes religiosos dizem que vão se mudar para o Amapá em 2022 para impedir a reeleição do senador. E que podem inclusive lançar um candidato evangélico.
Na última semana, evangélicos estiveram em reuniões com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e com Bolsonaro. Este indicou que não pretende abrir mão da indicação de Mendonça. A avaliação de aliados do presidente é que, apesar das resistências no Senado, Bolsonaro não retira o nome de Mendonça justamente porque teme perder o apoio do segmento que ajudou a elegê-lo em 2018.
Alcolumbre também contou com o apoio de líderes evangélicos para se eleger, em 2014. Um deles foi o pastor Guaracy Júnior, da igreja Quadrangular do Amapá, que agora critica o senador pela demora em marcar a sessão da CCJ do Senado, a primeira fase de avaliação da indicação de Mendonça.
"Estou vendo Davi se desgastar com o público evangélico. Ele, que já está com rejeição muito grande no Amapá. Penso que ele não se reelege mais", disse Guaracy à reportagem. O pastor afirmou ter recebido Alcolumbre em sua igreja diversas vezes durante a eleição de 2014. Para ele, o senador estaria descumprindo um compromisso com os evangélicos, que agora se sentiriam traídos.
Guaracy disse ainda ter tentado ligar, mais de uma vez, para Alcolumbre, sem sucesso. O senador não teria respondido às suas chamadas. O pastor afirmou também que será candidato no próximo ano, mas disse não saber a qual cargo.
O pastor Silas Malafaia reforça a posição de Guaracy. "[Alcolumbre] sempre teve os evangélicos aliados no estado. Não vai querer ter essa gente contra ele. Ele é um cara muito inteligente, acredito que já já vai entender isso", disse Malafaia à reportagem.
"O presidente não vai retirar [o nome de Mendonça], André não vai sair. Se, em hipótese, eles tentarem rejeitar o André, vai vir outro evangélico que nós líderes reconhecemos que é um terrivelmente evangélico, não adianta, não", concluiu.
Malafaia foi um dos líderes que esteve no Palácio do Planalto na semana passada para ouvir de Bolsonaro o compromisso de que Mendonça continuava sendo seu único plano para a vaga do STF.
Se quando foi indicado Mendonça buscou se afastar da pecha de "terrivelmente evangélico", hoje este é o seu principal ponto de apoio. O ex-ministro da Justiça sempre fora discreto quanto à sua religião e suas pregações, mas nas últimas semanas apareceu em grandes cultos.
O primeiro foi no último dia 12, na Assembleia de Deus de Madureira, acompanhado do deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), presidente da bancada evangélica da Câmara.
Já no domingo (19) estava prevista sua participação no culto da Comunidade das Nações, do bispo JB Carvalho –que esteve com outros líderes evangélicos na residência de Pacheco, solicitando ajuda a Mendonça.
A indicação de Mendonça está perto de completar 70 dias parada no Senado, apesar da pressão dos líderes. Na semana passada, Pacheco afirmou que iria conversar com Alcolumbre –de quem é próximo e foi apadrinhado nas eleições pelo comando da Casa– para buscar uma solução para o caso.
Pacheco se manifestou repetidas vezes em favor da autonomia do presidente da CCJ, portanto sua fala foi vista como uma interferência para resolver a pendência. O senador mineiro afirmou que seriam feitos os "arranjos necessários" para destravar essa e outras sabatinas de autoridades.
O presidente da Casa tem dito a interlocutores que espera que a situação seja resolvida antes do feriado prolongado de 12 de outubro. Aliados ressaltam que Pacheco não gostaria de chegar ao ponto de haver mais uma decisão do STF sobre questões internas do Senado.
Também na semana passada, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) acionaram o Supremo para que Alcolumbre paute a sabatina de Mendonça. O mandado de segurança é relatado pelo ministro Ricardo Lewandowski, que pode se manifestar sobre o tema nesta terça-feira (21).
O ex-advogado-geral da União procurou também ministros do STF na semana passada por apoio à sua nomeação. Segundo a reportagem apurou, ao menos cinco foram procurados. Dentre eles, o presidente da corte, Luiz Fux, e Luís Roberto Barroso foram os que atuaram mais ativamente por sua sabatina e entraram em contato com Pacheco.
Há ainda certa resistência em outra ala de ministros Supremo a atuar em prol de Mendonça, porque as ameaças de Bolsonaro ainda pairam sob o tribunal.
Alcolumbre já havia dito anteriormente a interlocutores que apenas pautaria a sabatina de Mendonça se fosse para derrubar a indicação. Estimativas dos principais líderes do Senado apontam para um cenário bem dividido, onde não é possível prever o resultado.
Após ser votada na CCJ, a indicação será avaliada no plenário, onde é necessária maioria absoluta dos votos dos senadores, ou seja, 41 votos.
A movimentação de Alcolumbre ganhou o apoio da oposição e mesmo de importantes governistas. Isso porque um bom número de senadores gostaria de ver Mendonça substituído pelo procurador-geral, Augusto Aras.
Embora visto como próximo a Bolsonaro, Aras ganhou o apoio da oposição por suas ações contra a Lava Jato. Por outro lado, Mendonça virou alvo de polêmica recente, pois mensagens mostraram a proximidade dele com procuradores da operação.