Bolsonaro fica isolado no Círio de Nazaré após críticas da igreja
Esta é a segunda vez que o presidente acompanha a festa - a primeira foi em 2015, quando ainda era deputado. Bolsonaro embarcou no navio por volta das 6h30 e foi direto para a sala de comando –não chegou a se aproximar, em nenhum momento, da padroeira dos paraenses.
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Política Pará
TIMÓTEO LOPES
BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e as deputadas federais Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF) estiveram neste sábado (8) a bordo da Corveta da Marinha Garnier Sampaio, embarcação que leva a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, e ficaram isolados no Círio Fluvial, em Belém.
Esta é a segunda vez que o presidente acompanha a festa - a primeira foi em 2015, quando ainda era deputado. Bolsonaro embarcou no navio por volta das 6h30 e foi direto para a sala de comando –não chegou a se aproximar, em nenhum momento, da padroeira dos paraenses.
A procissão pelas águas da baía do Guajará faz parte das 13 romarias do Círio de Nazaré, considerada uma das maiores festas religiosas católicas do mundo.
Após recados críticos no dia anterior da própria Arquidiocese de Belém, que disse não ter convidado o presidente e criticou qualquer uso político do evento, Bolsonaro deixou o local sem discursar.
Em rede social, Bolsonaro compartilhou uma foto para mostrar a seus seguidores que estava em Belém, com a legenda "Sírio" de Nazaré. A foto do post foi apagada e republicada sem o erro de grafia.
O Planalto informou à Folha que Bolsonaro foi à capital paraense como chefe de Estado para participar do Círio. A Marinha do Brasil preferiu não comentar.
"Comunicamos não ter havido nenhum convite da parte da arquidiocese de Belém, nem da diretoria da festa de Nazaré, a qualquer autoridade seja em nível municipal, estadual ou federal", disse nota assinada pelo arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa.
"Temos o dever de observar a plena liberdade de qualquer cidadão ou cidadã de participar dos eventos do Círio de Nazaré. Todavia, não desejamos e nem permitimos qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio", completou.
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), criticou o que chamou de tentativa de Bolsonaro de usar a festa religiosa como palanque político.
"Recebi com profundíssima indignação a tentativa do uso político da maior demonstração de fé do povo paraense. A fé não pode ser sequestrada por uma candidatura à Presidência. Aliás, de um candidato que sequer é católico", afirmou, apesar de Bolsonaro se declarar católico.
A romaria fluvial reuniu centenas de embarcações. Na chegada, na escadinha do cais da Estação das Docas, antiga área portuária da capital paraense, o comandante do navio da Marinha, pela primeira vez, foi quem entregou a Imagem Peregrina de Nazaré ao arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa.
A padroeira dos paraenses e Rainha da Amazônia foi, posteriormente, conduzida pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, em revista à tropa das Forças Armadas, seguindo o protocolo de honraria de chefe de Estado. Bolsonaro só desceu do navio da Marinha, após o término da cerimônia e foi embora sem falar com a imprensa. O Planalto não comentou.
Em 2009, a ex-presidente Dilma Rousseff, quando ainda era ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência da República, acompanhou o Círio de Nazaré e chegou a fazer propaganda da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do projeto Minha Casa, Minha Vida.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi convidado pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para participar do Círio neste ano, mas recusou o convite.
"Eu não gosto de fazer nenhum gesto que possa parecer que eu estou utilizando a religião para fazer política. Uma das coisas que eu tinha vontade de ver há muito tempo é o Círio de Nazaré, mas eu não vou porque é um ano de eleição", disse Lula.