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Alckmin fica fora do núcleo de poder do governo e foca atuação em militares, agro e oposição

Alckmin tem buscado se consolidar como uma ponte do Executivo com camadas da sociedade mais críticas à esquerda. Aliados dizem que essa atuação é a estratégia dele para manter protagonismo na gestão petista, uma vez que não participa do centro de poder do governo -concentrado na Casa Civil- ou da formulação da política econômica, algo que ocorre principalmente no Ministério da Fazenda.

Alckmin fica fora do núcleo de poder do governo e foca atuação em militares, agro e oposição
Notícias ao Minuto Brasil

11:00 - 25/02/23 por Folhapress

Política Geraldo Alckmin

RENATO MACHADO, MATHEUS TEIXEIRA E MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com uma atuação pública discreta, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) vem se tornando um canal de diálogo do governo com alguns setores mais refratários ao PT, como militares, representantes do agronegócio e parlamentares da oposição.


Alckmin tem buscado se consolidar como uma ponte do Executivo com camadas da sociedade mais críticas à esquerda. Aliados dizem que essa atuação é a estratégia dele para manter protagonismo na gestão petista, uma vez que não participa do centro de poder do governo -concentrado na Casa Civil- ou da formulação da política econômica, algo que ocorre principalmente no Ministério da Fazenda.


O vice-presidente manteve apenas três despachos oficiais com Lula em 45 dias de governo, segundo a agenda do mandatário. Mas interlocutores do vice-presidente, que também é ministro do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços, ressaltam que os dois conversam também por telefone pelo menos uma vez por semana.


Governador de São Paulo por quatro mandatos, Alckmin deixou o PSDB e se filiou ao PSB para viabilizar a aliança eleitoral com Lula. A ida do ex-tucano para a chapa petista fez parte do plano de Lula para reduzir resistências ao PT no setor produtivo e se aproximar do centro e da centro-direita.


Após a vitória, Lula indicou Alckmin para ser o coordenador-geral do governo de transição. Havia uma especulação de que o posto poderia ser ocupado por Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT; ou ainda por Aloizio Mercadante, hoje presidente do BNDES e que coordenou o plano de governo petista.


Pouco depois, o vice foi anunciado como ministro.
Alckmin esteve ao lado de Lula na reunião com governadores logo após os ataques golpistas de 8 de janeiro; também participou da primeira reunião ministerial do governo e do segundo encontro com os chefes dos Executivos estaduais.
Nesse terceiro evento, Lula fez uma brincadeira com o fato de Alckmin não ter sentado em sua cadeira no gabinete presidencial quando o mandatário viajou para Argentina e Uruguai.


Alckmin justificou a pessoas próximas que tampouco se sentou na cadeira do então governador Mário Covas (PSDB) quando era vice em São Paulo e precisava ocupar o cargo interinamente, de 1995 a 2001.


A relação de Lula com os militares está estremecida desde antes da posse. Parte significativa de oficiais e da tropa é crítica ao PT, enquanto o presidente e aliados desconfiam de um setor que consideram contaminado politicamente pelo bolsonarismo.


O próprio ministro da Defesa, José Múcio, chegou a afirmar que o mandatário estava com dificuldades para virar a página.


Nesse sentido, o ministério comandado por Alckmin virou uma ferramenta para tentar distensionar a relação com a caserna. Lula passou a tratar com os comandantes sobre projetos estratégicos para as Forças Armadas e escalou a pasta do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços para coordenar a participação da iniciativa privada nessas ações.


Na primeira viagem internacional de Lula, uma das agendas de Alckmin como presidente interino foi justamente acertar com Múcio e os comandantes militares a criação de um comitê de investimentos para os projetos estratégicos das Forças.
A questão ganhou destaque dentro do ministério de Alckmin, que passou a manter contato direto com Múcio e os comandantes.


Dessa forma, o vice-presidente reforçou o canal de diálogo entre o Planalto e os militares. Aliados de Alckmin afirmam que está sendo construída uma relação de confiança.
O vice também mantém aberto o seu gabinete para políticos de diferentes correntes ideológicas, incluindo a oposição. Recebeu, por exemplo, os governadores bolsonaristas Marcos Rocha (União Brasil-RO) e Jorginho Mello (PL-SC).


Também houve reunião com o ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros (PP), que atualmente é secretário da Indústria, Comércio e Serviços do Paraná.


O vice-presidente teve atuação forte neste início de mandato para fortalecer a bancada no Senado do seu partido, o PSB, e consequentemente ampliar o arco de alianças do governo. Ajudou a trazer para o partido nomes que eram ligados a Bolsonaro, como o ex-vice-líder do governo Chico Rodrigues (RR); e outros que tinham uma atuação mais independente, como Flávio Arns (PR) e Jorge Kajuru (GO).


Em outra frente, Alckmin está abrindo canais com o agronegócio, que apoiou amplamente Bolsonaro e teve empresários acusados de financiar atos golpistas.


A aproximação inicial de Lula com o setor esteve a cargo de Carlos Fávaro, atual ministro da Agricultura. No entanto, interlocutores do governo apontam que Alckmin também está intensificando a aproximação com o agronegócio, principalmente a produção mais voltada para exportação.


Apontam nesse sentido o diálogo e a intensificação de ações e projetos para tratar da questão dos fertilizantes, que se tornou um problema com a guerra entre Rússia e Ucrânia, dois exportadores do produto.


Além disso, Alckmin preside a Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), principal mecanismo de coordenação institucional da relação Brasil-China. O país asiático é o principal parceiro comercial do país e destino prioritário do agronegócio brasileiro.

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