A Justiça teve acesso a um diálogo entre o novo chefe de gabinete na Presidência, Jaques Wagner, e o presidente do PT, Rui Falcão. A gravação foi feita no dia 10 de março, após o Ministério Público de São Paulo denunciar o ex-presidente pelos crimes falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

A reportagem do jornal O Globo cita que durante a chamada Falcão cobra de Wagner uma reação do governo, e diz que o promotor Cássio Conserino é “louco” por pedir a prisão preventiva de Lula.

Em conversa, o presidente do PT demonstra preocupação e cobra de Jaques e da equipe do governo alguma iniciativa. Falcão parece temer que a juíza da 4ª Vara de São Paulo, Maria Priscilla Ernandes, fosse capaz de acatar o pedido de prisão do MP no mesmo dia da denúncia. No entanto, a juíza encaminhou, quatro dias depois, o caso para o juiz federal Sérgio Moro.

Ainda durante a chamada, Rui Falcão pergunta para Wagner o que aconteceria se Lula fosse nomeado ministro naquele mesmo dia, supondo uma hipótese. Jaques responde que não sabia. Em seguida ele pergunta a Falcão se Lula já havia aceitado assumir algum ministério de Dilma. O presidente do PT responde que não, mas destaca que aliados do ex-presidente, incluindo o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e integrantes de movimentos sindicais, estavam pressionando Lula para aceitar o cargo.

Jaques Wagner então cita que, caso a prisão de Lula fosse decretada, todos deviam cercar o prédio onde mora o líder petista, em São Bernardo do Campo, e se preparassem para “sair na porrada”. No final, Rui Falcão pede que Wagner tome uma decisão de “Estado-Maior”.

Ilegal

Em seu perfil no Twitter, Jaques Wagner afirmou que irá pedir investigação do grampo em que ele aparece conversando com o presidente do PT Rui Falcão. Wagner ressalta que a escuta é ilegal porque nem ele nem Falcão são investigados.

A íntegra da conversa foi transcrita pelo jornal O Globo, confira:

RUI FALCÃO: Alô, seu ministro, você tá no celular, é?

ASSESSOR DE JAQUES WAGNER: É.

RUI FALCÃO: Ele sabe as condições que tão o celular dele né?

ASSESSOR DE JAQUES WAGNER: O presidente Rui Falcão quer falar com o senhor rapidinho.

JAQUES WAGNER: Alô.

RUI FALCÃO: Alô.

JAQUES WAGNER: Oi.

RUI FALCÃO: Oi, Jaques. O louco do Conserino aqui pediu a preventiva do Lula.

JAQUES WAGNER: É, eu vi porra.

RUI FALCÃO: Sim, e eles vão deslocar alguém pra cá, como é que é?

JAQUES WAGNER: Deslocar em que sentido?

RUI FALCÃO: Não, acho que tem que vim (sic) alguém pra cá, porra, pra se mexer aqui também.

JAQUES WAGNER: Mas alguém quem? Só pra eu entender. Não, que eu não tô raciocinando.

RUI FALCÃO: Não tem ministro da Justiça, não tem.

JAQUES WAGNER: Não, tem ministro da Justiça. Ele tá no ministério. Claro. Ele tá no posto.

RUI FALCÃO: Alguma iniciativa vocês precisam tomar. Porque tá na mão de uma juíza da Quarta Vara que não sabe quando toma decisão, mas pode tomar decisão hoje. Nós...

JAQUES WAGNER: Ah, ele pediu a preventiva do cara em cima do quê?

RUI FALCÃO: Não... não tem... em cima do triplex, da denúncia, ele é louco. Os três promotores aqui, Jaques.

JAQUES WAGNER: Tá bom. Deixa eu fazer alguma coisa aqui.

RUI FALCÃO: É, porque eles podem, a juíza pode despachar agora, tá? Tem os advogados tá lá (sic), "tamo" chamando deputado...

JAQUES WAGNER: Falou, ok.

RUI FALCÃO: A outra coisa é o seguinte: se nomear ele hoje, o que que acontece?

JAQUES WAGNER: Aí não sei, eu tô por fora.

RUI FALCÃO: Então, consulta isso também...

JAQUES WAGNER: Mas ele já decidiu?

RUI FALCÃO: Não, mas nós "tamo" todo mundo pressionou ele aqui. Fernando Haddad, todo movimento sindical, todo mundo.

JAQUES WAGNER: Tá bom.

RUI FALCÃO: Tá.

JAQUES WAGNER: Eu acho que tem que ficar cercado em torno do prédio dele e sair na porrada, Rui.

RUI FALCÃO: Tem nada.

JAQUES WAGNER: Não, tudo bem, ué? Mas tem que cercar tudo.

RUI FALCÃO: Não, eu sei, mas enquanto isso...

JAQUES WAGNER: Tudo bem, deixa eu falar aqui.

RUI FALCÃO: Alerta a presidente. Toma a decisão de Estado-Maior aí.

JAQUES WAGNER: Falou, ok...

RUI FALCÃO: E mantém a gente informado. Ele, tá?

JAQUES WAGNER: Tá bom.