Articulação de Zanin no Senado envolve aliados, evangélicos e até bolsonaristas
A expectativa é que Zanin seja sabatinado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado no dia 28 de junho
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Política CRISTIANO-ZANIN
(FOLHAPRESS) - Indicado pelo presidente Lula (PT) para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), o advogado Cristiano Zanin tem conversado com senadores de oposição, incluindo evangélicos e bolsonaristas, em busca de apoio para a votação da sua confirmação no Senado.
Zanin almoçou na terça-feira (6) com o presidente da bancada evangélica do Senado, Carlos Viana (Podemos-MG), e o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso. No encontro, tratou de temas considerados caros ao segmento religioso.
Um dia antes, conversou com o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), e o senador Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca do governo Jair Bolsonaro (PL).
A expectativa é que Zanin seja sabatinado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado no dia 28 de junho. Após a aprovação na comissão, o nome do advogado pode ser votado pelo plenário da Casa no mesmo dia ou pouco depois.
O governo Lula queria que Zanin fosse aprovado até 21 de junho, mas concordou que o Senado deve estar esvaziado na data por causa das festas juninas, que mobilizam os parlamentares do Nordeste.
Na próxima semana, o governo quer submeter Zanin a uma sabatina informal com senadores da base aliada. O mesmo deverá ser feito com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, indicado para uma diretoria do BC (Banco Central).
No caso do advogado de Lula, a ideia é não só prepará-lo para perguntas mais duras que podem ser feitas na CCJ, mas também diminuir dúvidas de parlamentares aliados para encurtar a duração da sabatina –em 2015, a do ministro Edson Fachin durou 12 horas.
Zanin também já combinou de se encontrar na próxima semana com o líder do PDT, Cid Gomes (CE), e com a bancada do PSD, a maior da Casa. A reunião com o PSD foi um pedido de Zanin ao líder do grupo, senador Otto Alencar (BA).
"Tive uma conversa com ele sábado por telefone. Conversei com ele como conversei com outros. É uma indicação do presidente, como foi do Bolsonaro. Normal, ninguém indica um inimigo. Bolsonaro indicou o [ministro] Kassio [Nunes Marques], mesma coisa", afirma Otto.
Senadores da base aliada de Lula calculam que Zanin deverá ter cerca de 55 votos, 14 a mais que o necessário. Na votação para presidente do Senado -que tem sido usada de parâmetro sobre o tamanho da base–, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) recebeu 49 votos.
Tanto o presidente do Senado como o presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), têm afirmado ao Palácio do Planalto que Zanin deve ser aprovado com facilidade. O PL de Jair Bolsonaro, por exemplo, tende a liberar os senadores para que votem da forma como quiserem.
Uma das expectativas, no entanto, é pelo reencontro na sabatina entre Zanin e Sergio Moro (União Brasil-PR), um dos 27 titulares da CCJ. Na defesa de Lula durante a Operação Lava Jato, Zanin já tomou como "elogio" uma crítica feita em tom de ironia pelo então juiz da Lava Jato.
Questionado pela Folha se já tinha sido procurado por Zanin e se toparia recebê-lo, Moro desconversou. "Você tem que perguntar para o Zanin se ele me procurou ou não. Vou ficar te devendo essa. [Sobre recebê-lo] é uma situação hipotética, prefiro não me manifestar."
Nos últimos dias, o advogado de Lula almoçou e jantou com parlamentares em busca de votos.
Segundo relatos, o encontro na segunda-feira (5) com Carlos Portinho e Jorge Seif, ambos do PL de Bolsonaro, ocorreu por acaso. Os dois senadores estavam jantando em um restaurante de Brasília quando Zanin chegou. Os três então conversaram e, de acordo com pessoas que estavam presentes, o advogado mais ouviu do que falou.
Para o almoço do dia seguinte com evangélicos, Zanin chegou ao presidente da bancada, Carlos Viana, por meio da presidente do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP). O senador petista Rogério Carvalho (PT-SE) também estava presente.
De acordo com pessoas que participaram do encontro, o advogado foi questionado sobre temas como aborto, casamento homoafetivo e descriminalização das drogas -sendo que este último deve voltar a ser julgado pela corte ainda neste ano.
Segundo relatos, Zanin declarou que é a favor de manter a legislação atual sobre aborto -nem ampliando nem retirando direitos- e disse que o casamento entre pessoas do mesmo sexo está bem definido no país.
O advogado também se colocou à disposição para conversar com os demais integrantes da bancada evangélica do Senado e disse que ainda não se sentia aprovado. O almoço causou boa impressão no grupo.
No mesmo dia, à noite, o indicado foi a um jantar na casa da ex-senadora Kátia Abreu (PP-TO), em que estavam Gilmar Mendes e Dias Toffoli, ministros do STF, e Bruno Dantas, presidente do TCU (Tribunal de Contas da União).
Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso, Jaques Wagner (PT-BA), líder no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) e Weverton Rocha (PDT-MA) também estavam.
Na ocasião, o cientista político Antonio Lavareda fez uma explanação sobre o cenário político. Zanin foi chamado de última hora, segundo participantes.
De acordo com aliados, Werverton deve promover um jantar para Zanin na próxima semana com a presença de mais parlamentares.
Alcolumbre ainda não definiu quem será o relator da indicação na CCJ, mas está entre cinco nomes: Renan, Weverton, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), Jader Barbalho (MDB-PA) e Efraim Filho (União Brasil-PB).
Os senadores estão empenhados sobretudo em ajudar o indicado a conseguir votos na oposição. A expectativa é que ele procure todos os líderes partidários para reuniões individuais.
Apesar da abertura que tem sido dada por parte dos bolsonaristas, Zanin ainda encontra críticas entre oposicionistas no Senado. O senador Magno Malta (PL-ES) disse à Folha que pretende votar contra o indicado de Lula.
Na semana passada, o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), também fez críticas. "A questão da quebra da impessoalidade, na nossa opinião, não é o fato de ele ter sido advogado [de Lula], mas é o relacionamento pessoal que ele tem com o presidente", disse.
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