Alerta sobre risco de piora da crise com Congresso marca reunião ministerial
Todos os ministros foram convidados
© Getty
Política GOVERNO-LULA
A reunião ministerial realizada ontem no Palácio do Planalto deixou explícita no primeiro escalão do governo federal os apuros que a gestão Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta no Legislativo. O tema permeou boa parte do encontro, que durou cerca de nove horas. Lula cobrou empenho dos ministros para resolver a crise com o Centrão. Segundo ele, a determinação do núcleo do governo sobre liberação de cargos e emendas parlamentares precisa ser cumprida, sob pena de a turbulência política se agravar.
O articulador do Planalto com o Congresso, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deixou ainda mais claro o recado: pediu aos colegas que atendam às reivindicações de deputados e senadores, se não quiserem enfrentar uma crise ainda pior.
Alvo de investidas do Centrão, Padilha chamou Lula de "Pelé" e o vice Geraldo Alckmin de "Tostão", mas disse que, embora o governo conte com muitos "craques" na política, ficou com a imagem de ser avesso ao Parlamento. "Cada porta que se fecha para um parlamentar é uma porta trancada para o governo no Congresso", afirmou Padilha na reunião. A declaração soou como um pito nos colegas. Mas está alinhada à retórica de Lula sobre a relação com o Legislativo em seu terceiro mandato.
Mais cedo, em entrevista a um pool de rádios de Goiás, o presidente havia defendido "repartir a governança do País". "A coisa mais normal que existe na política é divergência. A gente repartiu a nossa vitória, temos que repartir a governança", declarou Lula, destacando que Padilha "trata todo mundo com máximo de respeito e de decência".
Padilha pediu na reunião ministerial - a terceira desde o início da nova gestão petista - que os representantes da Esplanada levem parlamentares a tiracolo nas viagens que fizerem pelo País para inaugurações de obras. Conforme o ministro, se os colegas não agirem assim, o Executivo sofrerá retaliações e eles podem até ser convocados em CPIs.
Acusado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de falhas na articulação política, Padilha disse ter enviado "mais de 400" nomes indicados por parlamentares para ocupar cargos nos Estados, mas que nada saiu do papel.
NOMEAÇÕES
O Centrão cobra que o governo libere cargos. Pelo relato de Padilha, porém, os ministérios não encaminharam as indicações para o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc), abrigado na Casa Civil. O sistema reúne os nomes de pessoas que podem ocupar postos no governo. Nos bastidores, ministros põem a culpa pelo atraso nas nomeações justamente na Casa Civil, comandada por Rui Costa, que demora a fazer um "pente-fino" nos currículos de aliados não petistas. Durante a reunião de ontem, Padilha disse que, se os ministérios não encaixam as indicações no Sinc, a Casa Civil não tem como fazer a análise dos nomes.
Mais tarde, em entrevista coletiva, Costa disse que Lula fez um apelo para que todos ajudem Padilha com as nomeações para que elas se concretizem o quanto antes. Segundo o titular da Casa Civil, o presidente falou como um "treinador", ao pedir que todos os auxiliares "joguem entrosados".
A demora no preenchimento de cargos como os da Codevasf, do Dnit, da Suframa e da Caixa e também a falta de liberação das emendas parlamentares são as principais queixas do Centrão sobre o governo. Lira sugeriu a Lula que trocasse seus interlocutores com o Congresso e propôs que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assumisse a articulação política. No desenho idealizado pelo deputado, o secretário executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo - indicado para uma diretoria do Banco Central -, poderia ir para a Fazenda. Lula não aceitou.
TURISMO
Prestes a deixar o cargo, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, usou uma frase do escritor Mário Sérgio Cortella para definir sua situação. "Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda", disse.
Daniela pediu a desfiliação do União Brasil e o partido pressionou Lula por sua substituição na equipe. O mais cotado para o lugar de Daniela é o deputado Celso Sabino (União Brasil- PA), ligado a Lira.
Em sua exposição, a ministra mostrou um vídeo produzido pelo Turismo para divulgar o Brasil no exterior. Lula disse, então, que faltavam ali as imagens de Santarém, no Pará, onde o Rio Tapajós se encontra com o Amazonas. Não foram poucos os que notaram que Pará é o Estado de Sabino.
Ao abrir a reunião no Planalto, o presidente voltou a dizer que "novas ideias" estão "proibidas" e que o governo terá de cumprir o que prometeu. Ele pediu ainda que os auxiliares dissessem o que já foi feito em suas respectivas pastas, citassem as dificuldades e adiantassem os passos seguintes.
Todos os ministros foram convidados. A titular do Meio Ambiente, Marina Silva, não participou. Ela foi internada em São Paulo com fortes dores na coluna. De acordo com boletim médico do Incor, Marina deu entrada na segunda-feira. O quadro é estável e há previsão de alta para os próximos dias. Ela foi representada pelo secretário executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Leia Também: PF encontra 'roteiro de golpe' em celular de ajudante de ordens de Bolsonaro, diz revista