Planalto registrou Bolsonaro e Cid como não vacinados para Covid antes de ida aos EUA
A carteira de vacinação do ex-presidente se tornou o centro de uma suspeita de fraude com dados do SUS e levou Cid à cadeia
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Política vacinas
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Documentos relacionados aos preparativos da viagem de Jair Bolsonaro (PL) aos Estados Unidos, feita em 30 de dezembro de 2022, citam que o ex-presidente e o tenente-coronel Mauro Cid não foram vacinados contra a Covid-19.
Em trocas de emails enviadas à CPI do 8 de janeiro, auxiliares de Bolsonaro enviaram tabelas com nomes de assessores que viajaram com o então presidente.
O campo "DOSES VACINA COVID-19" está preenchido com "nenhuma dose" ao se referir a Bolsonaro e a Cid, que era chefe dos ajudantes de ordem do ex-presidente.
Os emails com o assunto "credenciamento viagem internacional", contendo a tabela, foram enviados em 26 e 28 de dezembro por ajudantes de ordem de Bolsonaro a um funcionário do departamento de eventos e viagens do Planalto.
Além de Cid, outros três ajudantes de ordem foram listados no documento, sendo que todos receberam ao menos uma dose da vacina contra a Covid.
A carteira de vacinação do ex-presidente se tornou o centro de uma suspeita de fraude com dados do SUS e levou Cid à cadeia.
Bolsonaro negou diversas vezes ter se vacinado, mas sua carteira de imunização foi um dos mais de mil temas colocados em sigilo na gestão passada. Ele ainda foi vetor de desinformação sobre as vacinas durante a pandemia e dificultou o acesso às doses.
A Polícia Federal suspeita que dados falsos de vacinação tenham sido inseridos em registros do SUS do ex-presidente para emitir um certificado de imunização contra a Covid.
Para a PF, Bolsonaro, Cid e outros assessores do ex-presidente "se associaram para consecução de um fim comum, qual seja, a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19".
"Tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes, condutas que têm como consequência a prática do crime previsto no art. 268 do Código Penal, ao infringirem determinação do poder público destinada a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a pandemia de Covid-19", afirmou a PF.
Os emails não mostram se o Planalto utilizou as informações sobre a imunização de Bolsonaro e seus auxiliares nos diálogos com autoridades dos Estados Unidos.
A PF mapeou duas tentativas de inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.
As informações teriam sido cadastradas para constar que o então presidente estava vacinado contra a Covid-19, caso fosse cobrado nos Estados Unidos. A suspeita é de que os registros falsos tenham sido removidos após a emissão do documento.
Os emails entregues à CPI também mostram que Cid recebeu mensagem do portal "gov.br", em 22 de dezembro, informando sobre o desbloqueio da conta de Bolsonaro. Horas mais tarde, o mesmo endereço avisou o militar sobre troca de celular e email registrados no cadastro do ex-presidente.
Nesta mesma data, a PF identificou que havia sido gerado um certificado de vacinação para Bolsonaro minutos antes de ser trocado o email da conta do ex-presidente.
Em depoimento à polícia, Bolsonaro negou participação em tentativas de fraudar o certificado e disse que não havia relação entre a mudança no cadastro e a emissão do documento.
Ele afirmou que o novo email era de Marcelo Câmara, um dos nomes que integraria a equipe de assessores que Bolsonaro tem direito como ex-presidente.
"Não tomei a vacina. Nunca me foi pedido cartão de vacina [para entrar nos EUA]. Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso. Havia gente que me pressionava para tomar, natural. Mas não tomava, porque li a bula da Pfizer", disse ainda o ex-chefe do Executivo à imprensa em maio.
Cid optou por ficar em silêncio em oitiva na PF. Já a mulher do militar admitiu que usou certificado falso de vacinação contra a Covid-19. Ela também é investigada no inquérito que apura se foram inseridos dados falsos no registro de imunização de Bolsonaro e de seus assessores.