Lula acumula declarações embaraçosas no governo, de meta fiscal solta à PF em xeque
A declaração do presidente pegou membros do Executivo de surpresa, inclusive da equipe econômica.
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Política LULA-DECLARAÇÕES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) vem acumulando declarações embaraçosas para o governo desde o início de seu terceiro mandato.
Em café com jornalistas no Palácio do Planalto nesta sexta-feira (27), por exemplo, o mandatário disse que a meta fiscal não precisa ser de déficit zero, como quer o ministro Fernando Haddad (Fazenda). A declaração do presidente pegou membros do Executivo de surpresa, inclusive da equipe econômica.
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A equipe econômica ainda avalia o estrago da declaração do presidente Lula (PT) sobre a meta fiscal de 2024. O principal temor é que a fala desencoraje os parlamentares a votar as medidas necessárias para elevar a arrecadação do governo no ano que vem.
O mandatário disse que a meta fiscal não precisa ser de déficit zero, como quer o ministro Fernando Haddad (Fazenda), e que esse resultado dificilmente será atingido, pois não quer realizar cortes em investimentos e obras no ano que vem.
Segundo interlocutores do governo ouvidos pela Folha, a declaração do presidente pegou membros do Executivo de surpresa, inclusive da equipe econômica, com quem não houve qualquer tipo de combinado prévio.
MULHERES NO GOVERNO (27.OUT.2023)
No mesmo café da manhã com jornalistas, Lula afirmou não poder fazer nada quanto à falta de ministras e presidentes mulheres nos cargos. Na quarta (25), Lula demitiu a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano.
"Eu lamento, porque o que eu quero fortalecer no governo é passar a ideia de que a mulher veio para a política para ficar", disse. "Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não tem mulher, eu não posso fazer nada", concluiu o mandatário.
Lula, porém, indicou três homens para cada mulher em sua cota pessoal de ministros -aqueles sem filiação partidária.
Dos 38 ministérios, 9 deles são ocupados sem indicação partidária. Somente 3 deles, porém, foram entregues para mulheres pelo presidente da República. São elas Nísia Trindade (Saúde), Margareth Menezes (Cultura) e Anielle Franco (Igualdade Racial).
EXISTÊNCIA DE TRIBUNAL PENAL (11.SET.2023)
O presidente afirmou em setembro que não sabia da existência do TPI (Tribunal Penal Internacional). A declaração foi dada em uma entrevista coletiva após a cúpula do G20, em Nova Déli, na Índia.
"Eu nem sabia da existência desse tribunal", disse o petista, acrescentando que pretendia investigar a razão pela qual o Brasil era signatário do Estatuto de Roma, tratado fundador da corte, enquanto grandes potências como Estados Unidos e China não eram. "Me parece que os países do Conselho de Segurança da ONU não são signatários, só os 'bagrinhos'", completou.
Há, porém, uma série de evidências de que Lula tem, sim, conhecimento da existência do tribunal.
Em fevereiro de 2003, ele se envolveu na indicação da primeira juíza brasileira a participar da corte, Sylvia Steiner. Além disso, conforme mostrou o Painel, ele e outras lideranças petistas manifestaram-se favoravelmente ao TPI nos últimos anos, defendendo que o órgão julgasse Jair Bolsonaro (PL) por crimes contra a humanidade relacionados à pandemia de Covid-19.
OBESIDADE DE DINO (15.JUL.2023)
Lula voltou a comentar em tom de piada a obesidade do ministro Flávio Dino (Justiça), apesar de já ter recebido críticas por menções anteriores ao tema.
"Essa reunião vai demorar pelo menos umas 6 horas ou um pouco mais. Não teremos almoço. O almoço será uma comida leve servida aqui na mesa, ninguém precisa se levantar. Enquanto um fala os outros comem e assim a gente vai se revezando a nossa degustação na hora do almoço", afirmou o presidente.
"O Flávio Dino também, mas nós vamos trazer pouca comida para ele", completou, arrancando riso dos presentes. Logo depois, uma participante não identificada fala: "Isso é bullying".
ILAÇÃO SOBRE MORO (23.MAR.2023)
Lula afirmou, no dia 23 de março, achar ser "uma armação" do senador Moro o plano do PCC descrito pela Polícia Federal para atacar o ex-juiz da Operação Lava Jato.
"Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro", disse o presidente.
Moro reagiu: "O senhor não tem decência?"
A ameaça contra o senador foi descrita pelo próprio ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), ao divulgar a operação da PF contra a facção criminosa no dia 22 de março.
PALAVRÃO AO VIVO (21.MAR.2023)
Em entrevista ao Brasil 247, no dia 21 de março, o petista lembrou que, quando estava preso, dizia que "só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro", em referência ao ex-juiz que o sentenciou à cadeia.
"De vez em quando ia um procurador, entrava lá de sábado, dia de semana, para perguntar se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: 'Está tudo bem?' '[Eu respondia:] não está tudo bem. Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro. Vocês cortam a palavra 'foder'", afirmou.
Apesar da sinalização do presidente para editar o vídeo, a entrevista estava sendo transmitida ao vivo.
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