Cid e auxiliares de Bolsonaro monitoraram Moraes e orientaram manifestantes golpistas
Segundo a Polícia Federal, o objetivo é que Moraes fosse preso assim que ocorresse o golpe de Estado
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Política PF
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com ajuda de outras pessoas, o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), monitorou a agenda e o deslocamento do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Segundo a Polícia Federal, o objetivo é que ele fosse preso assim que ocorresse o golpe de Estado que os aliados de Bolsonaro são suspeitos de terem planejado após a derrota eleitoral para o presidente Lula (PT), em 2022.
Cid também deu orientações em suas conversas sobre onde manifestantes golpistas deveriam fazer os seus atos.
Na decisão que autorizou prisões e buscas nesta quinta-feira (8), Moraes aponta a "existência de um núcleo de inteligência, formado por assessores próximos ao então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro" que monitorava o deslocamento de autoridades.
As mensagens que discutem o monitoramento estavam no celular de Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada.
Em 16 de dezembro de 2022, outro ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, manda a Cid um itinerário: "Viajou para São Paulo hoje (15/12), retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente pra SP no mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe informo".
Nos dias 21 e 24 do mesmo mês, Cid questiona Marcelo Câmara sobre "onde está a professora", e Câmara responde "Na residência em SP. Eu não sei onde fica".
Esses deslocamentos são coincidentes com o de Moraes à época, e os investigadores afirmam que "professora" é um codinome utilizado por Cid e Câmara para o ministro. Marcelo Câmara foi preso nesta quinta.
"A agenda do ministro em comparação com as datas em que os diálogos foram realizados guardam contemporaneidade com as reuniões já descritas que ocorreram no Palácio da Alvorada com[o ex-auxiliar de Bolsonaro] Filipe Martins, [o advogado] Amauri Saad e, posteriormente, com os chefes das Forças Armadas e com o então ministro da Defesa", diz a PF.
"Considerando que a minuta do decreto que declarava o golpe de Estado previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, o acompanhamento e monitoramento da autoridade –inclusive durante o Natal (24/12/2022)– demonstra que o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático, procedendo a eventual captura e detenção do chefe do Poder Judiciário Eleitoral."
Segundo a Polícia Federal, Câmara tinha pelo menos desde o dia 15 de dezembro o itinerário exato de deslocamento de Moraes pelos próximos 15 dias, o que demonstraria "acesso privilegiado de informações pelo grupo".
"As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle", diz a PF.
Outro que teve mandado de prisão foi o major Rafael Martins de Oliveira, conhecido como Joe, que era o interlocutor de Mauro Cid nas discussões sobre onde deviam ocorrer as manifestações.
Em 11 de novembro de 2022, ele solicitou orientações a Cid sobre locais para a realização dos atos e se as Forças Armadas garantiriam a permanência de pessoas no local.
De acordo com a PF, Cid disse que os alvos são o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal e sinalizou que as tropas garantiriam a segurança dos manifestantes.
"Logo após, os dois trocam mensagens de chamamento para as manifestações do feriado de 15.nov.2022 (Proclamação da República), o que demonstra que os protestos convocados não se originavam da mobilização popular, mas sim da arregimentação e do suporte direto do grupo ligado ao então presidente Jair Bolsonaro, como estratégia de demonstração de 'apoio popular' aos intentos criminosos", afirma a PF.
A ação da PF desta quinta foi batizada de Tempus Veritatis e investiga uma organização criminosa que, diz a PF, atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito "para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder".
Além das prisões e buscas, a PF também cumpre medidas diversas como a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.