Boulos ganha respiro com Marçal, Datena e ex-Rota, mas se consolida como alvo
A entrada de Pablo Marçal (PRTB) no páreo forçou Ricardo Nunes (MDB) a ceder à pressão de Jair Bolsonaro (PL) e acatar a indicação de Mello Araújo (PL) para vice. Isso reforça a estratégia de Boulos de vincular o prefeito ao ex-presidente, padrinho rejeitado por 61% dos eleitores, segundo o Datafolha.
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Política ELEIÇÕES-SP
JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL), que na ótica de adversários enfrenta um cenário de estagnação em sua campanha à Prefeitura de São Paulo, ganhou um alívio com a desintegração do campo da direita nas últimas semanas, mas também se consolidou como alvo a ser derrotado.
A entrada de Pablo Marçal (PRTB) no páreo forçou Ricardo Nunes (MDB) a ceder à pressão de Jair Bolsonaro (PL) e acatar a indicação de Mello Araújo (PL) para vice. Isso reforça a estratégia de Boulos de vincular o prefeito ao ex-presidente, padrinho rejeitado por 61% dos eleitores, segundo o Datafolha.
Marçal, empresário e coach que tem nas redes sociais sua principal plataforma de campanha, acendeu um alerta no entorno de Nunes ao flertar com o eleitorado bolsonarista dizendo-se mais alinhado ideologicamente ao ex-presidente. Nunes, até então, procurava manter distância segura de Bolsonaro, mas foi obrigado a fazer gestos para assegurar a aliança. Publicamente, aliados negam incômodo.
O emedebista vivia um cenário confortável, depois de ter conseguido evitar que o ex-presidente lançasse candidato próprio e se firmado como aglutinador dos segmentos à direita.
Outra fissura aberta foi o lançamento da pré-candidatura de José Luiz Datena (PSDB), com a promessa do apresentador conhecido pelas desistências de que desta vez vai "até o fim".
Apoiado pelo presidente Lula (PT), Boulos pode ser beneficiado pela pulverização num campo antes dominado por Nunes. A avaliação entre aliados do deputado federal é que Marçal e Datena ajudam a desidratar o emedebista, papel que já era também desempenhado por Tabata Amaral (PSB).
No caso do apresentador da Band, duas dúvidas persistem: a primeira, e fundamental, é se ele irá oficializar a candidatura, e a outra é se ele não pode também tirar votos de Boulos em faixas do eleitorado com menor renda e baixo nível de instrução, dada sua popularidade pelos anos na TV.
Datena vocalizou críticas indiretas a Nunes ao lançar seu nome, no dia 13, e atacou o que chamou de infiltração do crime organizado na gestão, em alusão às denúncias envolvendo o PCC. O tucano mantém relação respeitosa com Boulos, mas está mais próximo de Tabata, que o deseja como vice.
O fato recente mais comemorado pelo consórcio PSOL-PT é a confirmação de Mello Araújo como companheiro de chapa de Nunes. O ex-coronel da Rota carimbou no prefeito o rótulo de bolsonarista, na opinião dos rivais, que ressaltam a ascendência do ex-presidente sobre o aliado.
Nunes buscava tratar Bolsonaro como um dentre vários apoiadores, numa tentativa de se distanciar de alas mais barulhentas, adotar o figurino de político de centro e evitar a nacionalização do confronto. Ele trabalha para pintar o pré-candidato do PSOL como radical e representante da extrema esquerda.
Boulos declarou que a escolha de Mello Araújo "deixa claro que é Jair Bolsonaro quem vai mandar na cidade caso o prefeito seja reeleito" e que "o nome do policial foi enfiado goela abaixo de Nunes".
Com 24% das intenções de voto na pesquisa Datafolha mais recente, de maio, Boulos vinha suscitando dúvidas sobre sua capacidade de crescimento. Ele está empatado com Nunes (23%) e dando sinais de ter chegado a um teto. Ao mesmo tempo, tem a mais alta rejeição entre todos os postulantes (32%).
Auxiliares do deputado contestam a ideia de que sua pré-candidatura enfrenta um marasmo, argumentando que ele se mantém competitivo mesmo diante de um adversário que está no cargo, com estrutura da máquina, recursos vultosos para publicidade e apoio de 12 partidos.
Em conversas privadas, o diagnóstico é o de que, nessas condições, o emedebista já deveria ter aberto vantagem. Também se diz que o eleitorado do prefeito, ao contrário do de Boulos, é pouco sólido.
Nunes teve uma arrancada nas pesquisas nos últimos meses, acirrando o confronto com Boulos, mas sofre engasgos na avaliação da gestão. A opinião sobre seu governo ficou estável no Datafolha de maio, com 45% das pessoas respondendo que a administração é regular (em março, eram 43%).
A multiplicação de opções no campo da direita, no entanto, embute um efeito colateral para o deputado, já que ele se solidificou como o candidato da esquerda, reunindo os principais partidos desse campo ao seu redor –Tabata, apesar de integrar o governista PSB, se coloca como uma alternativa de centro.
Boulos é o alvo preferencial de ataques do campo adversário, com destaque nos últimos dias para a ofensiva de Marçal. À Folha o coach disse que só entrou na disputa para tirá-lo do caminho.
O tom de guerra foi reiterado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. No fim de semana passado, ele disse a correligionários que Boulos é o único inimigo a ser combatido em São Paulo. A ordem é mirar nele e poupar Lula. Valdemar vem repetindo que, se eleito, o membro do PSOL vai "pôr fogo no Brasil".
O dirigente afirmou ainda que eleger Nunes é caso de "vida ou morte".
Boulos se ancora no apoio de Lula e aposta no período oficial de campanha, que começa em agosto, para impulsionar sua candidatura. São tratadas como trunfos a entrada do petista, tida como chamariz para eleitores das classes C e D, e a presença da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice.
Para Josué Rocha, coordenador da pré-campanha de Boulos, o surgimento de novas candidaturas à direita força uma discussão sobre quem é o postulante mais ligado à extrema direita e ao bolsonarismo. "O cenário atual revela a verdadeira face do Nunes, que ele estava tentando omitir, e isso demonstra à cidade a importância da articulação de todos os setores contra o avanço do bolsonarismo", diz.
Rocha rebate Valdemar, afirmando que o chefe do PL se ampara em preconceitos e fake news na tentativa de descredibilizar o pré-candidato do PSOL. "Vamos fazer uma campanha mostrando a verdade e também quem está de fato interessado em resolver os problemas da população."
Presidente municipal do MDB, Enrico Misasi afirma que a pré-candidatura de Nunes mantém "o ritmo habitual", a despeito das alterações no quadro.
"Ele segue fazendo o que sabe fazer de melhor: trabalhar, entregar e pensar uma cidade para todos, com desenvolvimento, qualidade de vida e oportunidades", diz Misasi, que também é secretário municipal de Relações Institucionais.
Datafolha mostrou empate entre Boulos e Nunes em intenções de voto
Guilherme Boulos (PSOL) 24% Ricardo Nunes (MDB) 23% José Luiz Datena (PSDB) 8% Tabata Amaral (PSB) 8% Pablo Marçal (PRTB) 7% Marina Helena (Novo) 4% Kim Kataguiri (União Brasil) 4% João Pimenta (PCO) 1% Ricardo Senese (UP) 1% Fernando Fantauzzi (DC) 1% Altino (PSTU) 1% Em branco/nulo/nenhum 13% Não sabem 5% Fonte: Pesquisa Datafolha realizada presencialmente, com 1.092 pessoas de 16 anos ou mais em São Paulo nos dias 27 e 28 de maio; margem de erro de 3 p.p., para mais ou para menos. Registro na Justiça Eleitoral sob o protocolo TRE-SP 08145/2024