Bolsonaristas usam pacote de cortes para tirar foco de golpe e desgastar Lula
O próprio Bolsonaro compartilhou um vídeo com imagens antigas de Lula falando negativamente sobre o mercado e comparando a postura do petista com declarações suas em defesa da responsabilidade fiscal.
© Getty
Política BOLSONARO-ALIADOS
JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Expoentes do bolsonarismo voltaram as atenções para o corte de gastos anunciado pelo governo Lula (PT) e inundaram suas redes sociais com críticas ao pacote, tirando o foco do indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outras 36 pessoas na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.
O próprio Bolsonaro compartilhou um vídeo com imagens antigas de Lula falando negativamente sobre o mercado e comparando a postura do petista com declarações suas em defesa da responsabilidade fiscal.
Também recuperou postagem de 2022 de Simone Tebet, então senadora e hoje ministra do Planejamento, em que ela atribuía a cotação do dólar acima dos R$ 5, naquele momento, à "instabilidade política e jurídica" do governo Bolsonaro.
Os conteúdos do ex-presidente quebraram uma sucessão de posts em que ele contestava as acusações de envolvimento no plano golpista.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez cinco postagens em sequência no X (antigo Twitter) nesta quinta-feira (28) com provocações a Lula e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O filho do ex-presidente destacou a cotação do dólar a R$ 6, recorde histórico, e disse que a economia "já está sofrendo". As últimas publicações rebatendo o relatório da Polícia Federal sobre o golpe são desta quarta (27).
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), também filhos do ex-mandatário, resgataram um texto publicado no site do PT em 2019 com o título "Incapacidade da gestão Bolsonaro faz dólar bater recorde de R$ 4,26".
No Instagram, Carlos ironizou "quem achou que ia comer picanha" e fez especulações sobre disparada de preços nos supermercados. O vereador alternou postagens no X sobre a situação econômica com outras sobre o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e regulação de redes sociais.
"Volta, Paulo Guedes!! O Brasil está sofrendo muito sem você à frente da economia!", afirmou a deputada Carla Zambelli (PL-SP) no X, citando o ministro da Economia sob Bolsonaro.
"Pela primeira vez na história, dólar atinge a cotação de R$ 6. Parabéns a todos os envolvidos. Faz o L, de ladeira abaixo", escreveu o deputado federal Zucco (PL-RS).
Influenciadores como a comentarista Ana Paula Henkel e Bárbara Destefani, do perfil Te Atualizei, também exploraram a pauta econômica. Ana Paula relembrou postagem de 2021 de Flávio Dino, hoje ministro do STF, afirmando que, "de confusão em confusão, essa turma de incompetentes vai jogando o dólar para cima, causando aumentos generalizados em preços". Na época, o presidente era Bolsonaro.
Bolsonaristas já vinham explorando outros assuntos, como a PEC (proposta de emenda constitucional) que proíbe o aborto no Brasil e foi colocada em votação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira. O projeto foi aprovado em meio a uma ofensiva dos parlamentares conservadores para avançarem com outras propostas da pauta ideológica.
A deputada Caroline de Toni (PL -SC), presidente da CCJ, dividiu suas publicações entre comemorações pela aprovação do projeto antiaborto e críticas ao corte de gastos. No Instagram, ela escreveu que no pronunciamento desta quarta à noite Haddad "falou, falou e não disse nada".
No front governista, uma das manifestações em defesa de Lula veio da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que usou o X para criticar o mercado. Ela disse ser "impressionante a especulação contra o Brasil" e afirmou que os agentes "mandam o dólar pra Lua".
Leia Também: Bolsonaro considera pedir refúgio em embaixada caso seja condenado