Ministro via Lava Jato com ceticismo e partidos como 'central de negócios'
"Partido político hoje é uma central de negócios. Todos têm o mesmo programa. Todos têm o mesmo propósito", disse Torquato Jardim, novo ministro da Transparência
© Beto Barata/PR
Política Transparência
O novo ministro da Transparência, Controle e Fiscalização, Torquato Jardim, avaliou que atualmente os partidos políticos no país são "uma central de negócios" e reagiu com ceticismo à possibilidade da Operação Lava Jato trazer mudanças à cultura da corrupção no país.
Em entrevista ao jornal "Diário do Povo do Piauí", concedida no final do mês passado e antes de ser convidado para assumir um cargo na Esplanada dos Ministérios, o ministro avaliou que não há mais ideologia partidária e que se formou no Congresso um centrão "para fazer pressão ao governo para conseguir mais cargos".
"Partido político hoje é uma central de negócios. Todos têm o mesmo programa. Todos têm o mesmo propósito. Todos querem a mesma coisa, varia o mecanismo de um ou de outro. E outros nem mecanismo têm", disse.
As declarações do ministro foram confirmadas pela assessoria de imprensa do Ministério da Transparência, Controle e Fiscalização.
Sobre a Operação Lava Jato, o ministro lembrou que, mesmo após o impeachment de Fernando Collor e as condenações do mensalão, continuaram a acontecer escândalos de corrupção.
"O que mudou com o impeachment de Fernando Collor? O que mudou no Brasil depois da CPI do Orçamento quando os sete anões foram cassados? O que mudou com o mensalão? O que vai mudar com a Operação Lava Jato?", questionou.
Na entrevista, ele disse ser contra a reeleição para cargos do Poder Executivo e disse que ela é um dispositivo que é sinônimo de corrupção.
"A reeleição no Brasil é sinônimo de corrupção. Foi um momento triste da história do Brasil. O projeto era para a reeleição apenas do presidente Fernando Henrique Cardoso. Não houve maioria no Congresso, então se estendeu para governadores e prefeitos", disse.
Escolhido por Michel Temer na noite de terça-feira (31), o novo ministro também discorda de um dos argumentos centrais da defesa do presidente interino no processo de cassação da chapa presidencial que tramita na Justiça Eleitoral.
Em artigo publicado em julho no site de seu escritório de advocacia, o ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) entre 1988 a 1996 defende que caso a presidente afastada Dilma Rousseff tenha seu diploma cassado, o do presidente interino também deverá ser desconstituído, uma vez que, segundo ele, "a eleição do vice-presidente é mera decorrência da eleição do titular".
Em linha oposta a de Jardim, o presidente interino tenta separar na Justiça Eleitoral sua conduta da de Dilma para evitar que uma condenação leve à cassação do mandato de ambos. Em representação protocolada em abril, ele afirma que seria cassado por "arrastamento", "sem ter praticado qualquer das condutas" denunciada pelos autores da denúncia.
No artigo, o novo ministro também se posiciona favorável à utilização no processo de "prova emprestada", incluindo as referentes à Operação Lava Jato. Em manifestação à Justiça Eleitoral, o peemedebista, contudo, já saiu em defesa das contribuições recebidas pela campanha à reeleição e afirmou que não se pode demonizar doações eleitorais. Com informações da Folhapress.