PF prende 4 e apura fraude em campanhas de Campos
Polícia Federal investiga se recursos ilícitos geridos por empresários detidos abasteceram a campanha de Eduardo Campos ao governo de PE e à presidência
© Reuters / Arquivo
Política Turbulência
Quatro pessoas foram presas nesta terça-feira (21) em uma operação da Polícia Federal que apura um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a compra do avião que caiu matando o ex-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB), em 2014.
A PF investiga se recursos ilícitos geridos por empresários detidos abasteceram a campanha de Campos ao governo de Pernambuco, em 2010, e a presidente, há dois anos. Após a morte dele, a ex-senadora Marina Silva assumiu a cabeça de chapa, terminando a eleição presidencial de 2014 em terceiro lugar.
Três dos empresários detidos, João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira, são donos do Cessna Citation PR-AFA, a aeronave do acidente.
Foi a partir do avião que a PF descobriu operações suspeitas na conta de empresas envolvidas na sua aquisição. Os investigadores suspeitam que o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho, hoje senador pelo PSB de Pernambuco, tenha sido o responsável por recolher recursos para as campanhas de Campos.
Segundo a delegada Andréa Albuquerque, que chefiou a operação, batizada de "Turbulência", Bezerra Coelho recebia recursos ilícitos da empresa Câmara & Vasconcelos Locação, que ajudou a comprar a aeronave.
A Câmara & Vasconcelos, já mencionada em delação premiada pelo doleiro Alberto Youssef, recebeu R$ 18,8 milhões da empreiteira OAS por suposta locação e terraplanagem nas obras de transposição do São Francisco.
Esse montante, segundo os investigadores, pode ter servido à aquisição da aeronave e também para outras despesas e dívidas de campanha. A Operação Turbulência compartilhou informações com a investigação da Lava Jato.
"Vimos que a movimentação financeira não foi só para a compra do avião. Eles [empresas de fachadas e laranjas] intercambiavam muito entre si. Desde 2010 as empresas tinham transações volumosas, que se intensificaram em 2014. Por coincidência ou não, as transações caíram após o acidente", detalhou Albuquerque.
FORO PRIVILEGIADO
A delegada da PF diz que Fernando Bezerra Coelho não é "o foco da investigação". O senador possui foro privilegiado e é alvo de inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal.
Os dados sobre o pagamento de R$ 18,8 milhões da OAS à Câmara & Vasconcelos estão em uma das investigações que correm em Brasília.
O esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria financiado a compra do avião, segundo a PF, se utilizou no total de 18 contas bancárias, entre pessoas físicas e jurídicas.
Além das campanhas presidencial e para governador, a polícia suspeita que os recursos ilícitos foram injetados também na campanha ao Senado do ex-ministro.
PRISÕES
Embora não apareça no quadro societário da Câmara & Vasconcelos, Paulo Cesar de Barros Morato é considerado pela PF como proprietário dela. Ele teve mandado de prisão preventiva expedido e não foi localizado.
Dois empresários, Melo Filho e Bezerra Leite, foram presos ainda de madrugada, quando desembarcavam em São Paulo vindos do Recife. O último transportava US$ 10 mil em espécie e estava com viagem marcada para Miami. Os outros dois, Apolo Santana Vieira e Arthur Roberto Lapa Rosal, foram detidos na capital pernambucana.
Ao todo, foram cumpridos na operação 35 mandados de busca e apreensão e 16 de condução coercitiva, além do sequestro de embarcações, dois helicópteros e um avião.
O ex-governador de Pernambuco morreu em Santos (SP), na manhã de 13 de agosto de 2014, após o avião em que viajava cair sobre um bairro residencial. Outras seis pessoas morreram. Com informações da Folhapress.