Em depoimento, Palocci nega envolvimento com esquema
A defesa do ex-ministro nega peremptoriamente, e apresentou dois argumentos centrais à polícia
© Reuters / Ueslei Marcelino
Política Lava Jato
Num depoimento de cerca de quatro horas à Polícia Federal, nesta quinta-feira (29), o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci negou envolvimento com corrupção, disse não ser o "italiano" procurado pelos policiais e rebateu os motivos que o levaram à prisão.
Preso desde a última segunda (26) na Operação Lava Jato, Palocci é investigado sob suspeita de ter solicitado e recebido pagamentos de propina da empreiteira Odebrecht, em troca de atender demandas da empresa no governo federal.
A defesa do ex-ministro nega peremptoriamente, e apresentou dois argumentos centrais à polícia.
Um deles foi negar que Palocci fosse o "Italiano" ou "Itália", apelidos mencionados em e-mails de Marcelo Odebrecht e na planilha que, para a PF, demonstra que Palocci intermediou o pagamento de R$ 128 milhões em propina.
O documento, intitulado "Posição Programa Especial Italiano", lista uma série de pagamentos feitos entre 2008 e 2012, e aponta um saldo de R$ 6 milhões para "Itália" -o que, para a PF, pode indicar valores ilícitos que Palocci teria recebido.
O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, afirmou que encontrou e-mails de Marcelo em que ele se refere a Itália como uma mulher.
"A mensagem diz: 'Estive com Itália. Ela saiu da reunião e voltou'", disse Batochio.
"Ora, Palocci é ele. Não pode ser ela. Ele não é o italiano."
A Folha encontrou um e-mail, nos autos, com a frase "No final da reunião Itália saiu comigo (e voltou depois)". Porém, não há menção a "ela" na sequência.
O uso do pronome feminino é feito antes, em referência a outra pessoa presente na reunião e tratada na mensagem apenas como "ela". A reportagem tentou confirmar com Batochio se era esse e-mail de que a defesafalava, mas o advogado não deu retorno.
E-mails usados pela PF para justificar a prisão de Palocci também usam o pronome "ele", após a referência ao "italiano", mas o defensor negou que o apelido se refira ao ex-ministro. "Temos um apelido em busca de um personagem", disse.
VOTAÇÃO
O outro argumento foi em relação à conversão em lei da Medida Provisória 460, que concederia créditos tributários a grandes empreiteiras como a Odebrecht. A Polícia Federal, com base em e-mails de Marcelo
Odebrecht, afirma que Palocci atuou a favor da empreiteira e ofereceu "compensações" à empresa, inclusive com contratos na Petrobras, depois de ela ter sido vetada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A defesa do ex-ministro afirma que, na época, ele era deputado federal e votou contra a medida -o que foi confirmado pela Folha de S.Paulo em consulta ao site da Câmara.
"Votou contra, portanto, os interesses da Odebrecht. Não tem o menor sentido; é uma acusação que desmoronou."
Sobre a suspeita de que Palocci intercedeu para ampliar empréstimos do BNDES à Odebrecht, também baseada em e-mails dos executivos da empresa, o ex-ministro voltou a negar qualquer atuação.
"Ele era conhecido como um inimigo ferrenho do BNDES; achava absolutamente imprópria essa política do banco de atuar no setor privado", disse o advogado.
RELACIONAMENTO
Em entrevista à imprensa, Batochio não negou que o ex-ministro tivesse um bom relacionamento com Marcelo Odebrecht -mas afirmou que isso fazia parte de seu trabalho na Fazenda.
"[Tinha bom relacionamento] com ele e com a torcida do Corinthians. Ele falava com todo o empresariado", declarou o advogado.
Para o defensor de Palocci, é dever do titular do ministério manter uma boa interlocução com o setor empresarial. "Daqui a pouco, vai ser proibido a um ministro atender pessoas. Precisamos parar com esse clima de caça às bruxas."
A prisão temporária de Palocci vence nesta sexta (30), assim como de seus dois ex-assessores, Juscelino Dourado e Branislav Kontic, que também negaram irregularidades.
Com base nos depoimentos e nas provas colhidas na investigação, a PF pode pedir a prorrogação das prisões por mais cinco dias, ou sua conversão em prisão preventiva (sem data para terminar), ou ainda a libertação dos investigados.
Quem decide sobre a prisão, após a manifestação do Ministério Público Federal, é o juiz Sergio Moro. Com informações da Folhapress.