Cabral admite que mulher ganhou anel de dono da Delta
Cavendish, dono da Delta, diz ter pago cerca de R$ 800 mil na joia, que teria sido dada para a mulher do ex-governador em 2009
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Política R$ 800 mil
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral admitiu, em nota, que sua mulher, Adriana Ancelmo, foi presenteada com um anel pelo empresário Fernando Cavendish. Cabral, entretanto, diz desconhecer o valor da joia.
"Posteriormente, quando foram divulgadas as denúncias contra Cavendish envolvendo Carlos Cachoeira, o Estado acompanhou o Governo Federal na decretação da inidoneidade da Delta, motivo pelo qual o casal praticou o gesto de devolver o presente", afirma a nota.
Cavendish, dono da empreiteira Delta, diz ter pago cerca de R$ 800 mil na joia, que teria sido dada para a mulher do ex-governador em 2009. A informação é do jornal "O Globo".
O anel teria sido adquirido em Mônaco, na França, onde ele e o governador viajavam acompanhados de amigos. A joia teria sido entregue durante um jantar, como presente de aniversário para a mulher do peemedebista.
Cavendish teria oferecido a informação durante a negociação de sua delação premiada. Como prova, ele supostamente mostrou uma foto em que Adriana usava o anel, a nota fiscal, o comprovante de pagamento do cartão de crédito e o certificado de compra.
Cabral teria devolvido a joia em 2012, quando o ex-governador rompeu relações com Cavendish após surgirem acusações de que o executivo lavava dinheiro usando as empresas do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
A relação com Sérgio Cabral é um dos pontos da possível delação de Cavendish, que promete detalhar suposto esquema de pagamento de propinas a políticos do PSDB e do PMDB.
Entre outras obras no Estado do Rio, sua empreiteira conseguiu contratos para realizar a reforma do Estádio do Maracanã e do Centro Aquático Maria Lenk, usados na Olimpíada Rio-2016.
OPERAÇÃO SAQUEADOR
A proposta de delação, que foi apresentada para o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e para a Procuradoria-Geral da República, acontece no âmbito da Operação Saqueador, que investiga irregularidades em repasses de recursos públicos e fraudes nas obras da Delta.
Cavendish foi alvo da operação em junho, quando ele e Cachoeira foram presos preventivamente. Ambos receberam habeas corpus do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e cumprem prisão domiciliar.
Segundo o Ministério Público, entre 2007 e 2012, a Delta teve mais de 96% de seu faturamento vindo de verba pública -algo em torno de R$ 11 bilhões, sendo R$ 6,6 bi de contratos com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte).
Desse valor, ao menos R$ 370 milhões teriam sido desviados por meio de pagamentos a 18 empresas de fachada.
As delações premiadas do ex-senador Delcídio do Amaral e de executivos da Andrade Gutierrez negociadas na Operação Lava Jato trouxeram indícios da relação entre o dono da Delta e Cachoeira no pagamento de propina a agentes públicos.
Na delação da Andrade, executivos citaram Cabral como beneficiário de propinas por obras do Maracanã, do Comperj e do Arco Metropolitano, o que ele nega. A Delta participou das três obras.
A ação é um desdobramento da Operação Monte Carlo, que em 2012 apontou indícios do envolvimento de Cachoeira com Cavendish no desvio de verbas de obras públicas no Centro-Oeste.
À época, esses crimes não geraram condenações na Justiça para Cavendish. Cachoeira foi sentenciado a 39 anos de prisão por peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha, mas recorria em liberdade.
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