Serra espera que "jogo" de Trump seja melhor que "treino"
Em entrevistas nos meses de junho e julho, Serra disse "nem pensar" na hipótese de o republicado vencer a disputa
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Três meses depois de dizer que a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos seria um "pesadelo", o ministro José Serra (Relações Exteriores) disse esperar que o "jogo" do republicano seja melhor que o "treino", em referência a promessas polêmicas que o bilionário fez durante sua campanha.
O chanceler afirmou nesta quarta-feira (9), no Palácio do Itamaraty, acreditar que a vitória de Trump não estimule o recrudescimento do protecionismo do país, o que poderia prejudicar as relações comerciais entre a Casa Branca e o governo brasileiro. "Agora, tendo o resultado da eleição, vamos olhar os interesses do nosso país e fazer votos para que ele [Trump] se saia bem e abra posições positivas em relação ao mundo e ao Brasil", declarou.
Serra disse ainda que as declarações feitas durante a campanha, seja pelos candidatos como por observadores políticos do mundo inteiro, lembrariam uma frase do ex-jogador da seleção brasileira de futebol Didi. "Treino é treino, jogo é jogo. E o jogo começa agora", disse o tucano.
O próprio chanceler foi um dos que fizeram avaliações com antecedência sobre as eleições nos Estados Unidos. Em entrevistas nos meses de junho e julho, Serra disse "nem pensar" na hipótese de o republicado vencer a disputa à Casa Branca e que "todos os que querem o bem do mundo" deveriam apoiar a então candidata democrata, Hillary Clinton.
Na avaliação de Serra, será preciso "muita análise sociológica" sobre a crise contemporânea para entender o resultado das eleições americanas, mas que não é papel dele fazer esse tipo de diagnóstico.
"As decisões do eleitorado se respeitam e se cumprem não apenas pelos eleitos, mas por quem está ao lado", declarou.
Ainda nesta quarta (9), horas após a oficialização da eleição de Trump, o presidente Michel Temer disse em entrevista que a vitória do bilionário "não mudaria em nada" a relação com o Brasil, considerada pelo peemedebista como "institucional".
Temer enviou um telegrama a Trump em que desejou "pleno êxito" a ele e disse estar certo de que os dois países trabalharão juntos para estreitar "laços de amizade e cooperação".
Nos bastidores do Planalto, porém, a eleição de Trump causou preocupação. A avaliação de auxiliares de Temer é que a mudança no comando dos EUA pode atrasar a retomada de um crescimento econômico no Brasil para o ano que vem. Isso porque, dizem assessores da área econômica, empresários vão "evitar investimentos de risco" e o mercado brasileiro pode ser um dos prejudicados.
REFORÇAR RELAÇÃO
Serra disse que o governo brasileiro vai acompanhar a montagem da equipe de Trump nos próximos dias com atenção, por meio do embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral, e reforçou a ideia de "cooperação" ecoada por Temer.
"Acreditamos que, de ambos os lados, prevalecerá a determinação de reforçar as relações. Quero lembrar também que o Brasil não fez parte da campanha [nos Estados Unidos], não foi objeto de controvérsias nem de disputadas", disse o chanceler.
Para ele, o discurso de vitória de Trump mostrou "uma face de interlocução, de levar em conta todas as forças", mas Serra reforçou que esse tipo de fala conciliadora "não é novidade", mas "reflete conteúdo".
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