Joaquim Barbosa sobre impeachment de Dilma: 'Aquilo foi uma encenação'
Ex-ministro do STF afirma também que governo Temer corre risco de não chegar ao fim
© Agência Brasil
Política Entrevista
O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa, há quase um ano sem dar entrevistas, disse à Folha de S. Paulo que o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef foi "uma encenação", uma volta ao passado, "no qual éramos considerados uma República de Bananas" e que acredita que o governo de Temer pode não chegar até o fim.
Quando questionado sobre a sua declaração no Twitter de que o processo que tirou Dilma do poder foi um "impeachment Tabajara", ele disse que tudo já estava planejado pelos políticos.
"O que houve foi que um grupo de políticos que supostamente davam apoio ao governo num determinado momento decidiu que iriam destituir a presidente. O resto foi pura encenação. Os argumentos da defesa não eram levados em consideração, nada era pesado e examinado sob uma ótica dialética", explicou.
Para o ex-ministro do STF, parlamentares fizeram manobras para acobertar os seus próprios crimes, mas, mesmo assim, não considera que houve golpe. "Acuados por acusações graves, eles tinham uma motivação espúria: impedir a investigação de crimes por eles praticados", disse.
Ministrando palestras atualmente, Barbosa diz que por algum tempo questionou aos seus ouvintes se o Brasil sobreviverá à turbulência política. Para ele, "isso só vai acabar no dia em que o Brasil tiver um presidente legitimado pela soberania popular".
Quando questionado sobre a gestão do atual presidente Michel Temer, o ex-ministro diz acreditar que o governo pode não resistir. "Corre o risco. É tão artificial essa situação criada pelo impeachment que eu acho, sinceramente, que esse governo não resistiria a uma série de grandes manifestações", respondeu.
Falando sobre o ex-presidente Lula, Barbosa se mostrou preocupado com uma possível prisão, pois acredita que isso só iria piorar a visão que o mundo tem do Brasil.
Sei que há uma mobilização, um desejo, uma fúria para ver o Lula condenado e preso antes de ser sequer julgado. E há uma repercussão clara disso nos meios de comunicação. Há um esforço nesse sentido. Mas isso não me impressiona. Há um olhar muito negativo do mundo sobre o Brasil hoje. Uma prisão sem fundamento de um ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais negativo. Teria que ser algo incontestável."
Para finalizar, o ex-ministro do STF disse que não pensa em assumir a presidência da República, como foi clamado por muitos brasileiros quando ainda estava à frente do STF.
Seria uma aventura muito grande eu me lançar na política, pelo meu temperamento, pelo meu isolamento pessoal, pelo meu estilo de vida. Eu não tenho por trás de mim nenhuma estrutura econômica, de comunicação. Nem penso em ter."Leia também: Metade dos que votaram pelo pacote anticorrupção está na Lava Jato