Cunha é suspeito de atuar em esquema de desvio de dinheiro em Furnas
Superfaturamento teria ocorrido no consórcio formado para a construção de uma usina hidrelétrica na Serra do Facão, em Goiás
© Ueslei Marcelino / Reuters
Política Apuração
Foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (8) a Operação Barão Gatuno, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, com o cumprimento de 33 mandados de busca e apreensão, sendo 25 no Rio de Janeiro e oito em São Paulo. A operação investiga um esquema de lavagem de dinheiro por crime contra a administração e corrupção passiva na empresa de energia Furnas, subsidiária da estatal Eletrobras. 1
Em coletiva de imprensa na Cidade da Polícia, o delegado titular da Delegacia Fazendária, Gilberto Ribeiro, explicou que o trabalho inicial se baseou no termo de cooperação da delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral, sendo que a operação de hoje foi para coletar provas, em um possível esquema de desvio em operações de compra e venda de ações de empresas, envolvendo o consórcio formado para a construção de uma usina hidrelétrica na Serra do Facão, em Goiás.
“Entre os participantes do consórcio, Furnas tinha 49%, e a empresa Oliver Trust tinha 29%. A Oliver Trust foi oferecida a Furnas por R$ 7 milhões. Mas uma lei impedia Furnas de ter participação maior do que 49% nesse tipo de empreendimento. A Oliver Trust então vendeu as ações para a empresa Serra da Carioca 2, constituída poucos dias antes da negociação. Menos de seis meses depois, havia em tramitação no Congresso Nacional uma medida provisória sobre questão de energia. Foi feita uma emenda que passou a permitir que Furnas tivesse mais de 50% das ações. Em seguida, Furnas adquiriu as ações da Serra da Carioca 2 por R$ 80 milhões”.
A negociação para venda da Oliver Trust começou em dezembro de 2007. O delegado explicou que a investigação ainda está muito inicial e, portanto, ainda não é possível dizer se houve desvio e quem teria sido beneficiado por ele. A delegada assistente Ana Paula Costa explicou que a operação deflagrada hoje foi a primeira em âmbito estadual dentro da Lava Jato, em função do declínio de competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para a justiça estadual, já que nenhum dos investigados têm prerrogativa de foro. Segundo ela, a investigação aponta que o ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro operaram a mudança legislativa para possibilitar a operação.
“O nosso inquérito tramita em segredo de Justiça, mas os fatos são de caráter público, uma vez que a delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral foi vazada no ano passado e se tornou público. No termo de colaboração dele, é apontado que esse esquema e as empresas teriam ligação com Eduardo Cunha e Lúcio Bolonha Funaro. A alteração legislativa foi operada por meio de medida provisória, cuja relatoria coube ao então deputado Eduardo Cunha”.
Furnas
Em nota, Furnas informou que recebeu a Polícia Civil Fazendária na sede da empresa, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, na manhã de hoje, durante desdobramento da Lava Jato. “A companhia colabora com as investigações e identificação dos documentos solicitados pelos policiais, e reforça que é a principal interessada na elucidação dos fatos”. Com informações da Agência Brasil.