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Políticos admitem 'caixa três' da Odebrecht em campanhas

Construtora usou empresas laranjas para fazer os repasses de dinheiro aos candidatos

Políticos admitem 'caixa três' da
Odebrecht em campanhas
Notícias ao Minuto Brasil

09:53 - 25/06/17 por Folhapress

Política Ilegal

Apelidado pelos executivos da Odebrecht de "Boca Mole", o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) é um dos políticos que admitem ter recebido da empreiteira doação eleitoral por meio de empresas laranjas.

A prática, chamada de "caixa três", consiste em uma triangulação do dinheiro de campanha com o objetivo de escamotear quem era o real financiador.A fórmula é uma variação do legal "caixa um" - o valor doado sem intermediários e declarado à Justiça - e do ilegal "caixa dois", que é a movimentação de recursos de campanha por fora.

"Eu declarei, foi tudo por dentro. Não sei por qual motivo a Odebrecht não quis dar o dinheiro e passou para outras duas empresas. Acho que havia muita pressão na época e ela não queria aparecer muito", diz Heráclito.Só nas eleições de 2010, a Odebrecht - a principal empreiteira investigada nos devios da Petrobras - usou o caixa três para direcionar R$ 5,5 milhões para 28 candidatos.

Na prestação de contas eleitorais desses políticos, a empreiteira não figurou como a real fonte dos recursos, e sim a Praiamar e a Leyroz. As investigações apontam que essas duas empresas eram distribuidoras do grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava.

Em delação premiada, executivos da Odebrecht contaram ao Ministério Público que a cervejaria foi usada diretamente em 2014 para replicar o esquema. De acordo com explicações dadas aos procuradores, havia dois motivos para a utilização do modelo: não estourar o teto estabelecido por lei para doações e evitar cobranças de políticos preteridos.

"Na verdade a empresa [Odebrecht] me fez uma doação e apareceu por meio dessas duas empresas", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que nega conhecer a Praiamar e a Leyroz.

"Não tenho a menor ideia [do porque da triangulação]. Como é a doação empresarial? Você vai na empresa e declina a sua conta. Aí aparece essas empresas [na prestação de contas]."

Já o líder da bancada do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), diz que recebeu das duas empresas, mas afirma não se lembrar das circunstâncias nem conhecer a relação delas com a Odebrecht.

Nas palavras do Ministério Público, trata-se de uma "inequívoca ilicitude", um "engodo, uma artimanha para mascarar o verdadeiro autor da doação, que por vias indiretas injeta dinheiro em uma campanha sob o véu do anonimato".

"Está-se diante de uma nova modalidade de contabilidade espúria de campanha", diz o MP."Só existe um modo de financiamento legal, que é o caixa 1 puro. O resto está no campo das ilegalidades", diz o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral. Ele relatou o pedido de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer.

Presidente do TSE, Gilmar Mendes diz que é preciso examinar caso a caso e que, a princípio, o problema maior é do doador. "Não precisa haver necessariamente crime. Herman e o Ministério Público veem crime em tudo. Se se trata de manipular limites de doação podemos ter um problema", afirma, se referindo ao teto de doações de empresas, de 2% do faturamento bruto.

O financiamento empresarial acabou em 2015, ano em que o Supremo Tribunal Federal proibiu a prática.

A reportagem também procurou as assessorias dos tucanos Aécio Neves, senador afastado, e Bruno Araújo, ministro das Cidades, que também receberam da Praiamar e da Leyroz. Não houve resposta.

A Odebrecht disse que a empresa está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. "Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas".

A assessoria da Petropólis afirmou que a Leyroz e a Praiamar eram distribuidoras terceirizadas de produtos do Grupo Petrópolis. "Todas as doações feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral." Com informações da Folhapress.

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