Polícia prende ex-chefe da Casa Civil do governo de Mato Grosso
Paulo Taques é primo do governador Pedro Taques (PSDB
© Mayke Toscano/Secom-MT
Política Cadeia
A Polícia prendeu nesta sexta-feira, 4, o ex-chefe da Casa Civil de Mato Grosso Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques (PSDB), por suspeita de envolvimento com o esquema "barriga de aluguel", a máquina de grampos ilegais instalada no Estado por um núcleo de policiais militares. A prisão de Taques foi decretada pelo desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
+ Relatório da PF aponta mensagens cifradas entre Cunha e Alves em 2012
Perri é o relator da investigação no TJ. Os grampos pegaram mais de cem pessoas, entre políticos da oposição, advogados e até jornalistas. "Barriga de Aluguel" revela que números de telefones eram incluídos ilegalmente em inquérito sobre tráfico de entorpecentes.
A ordem de prisão de Paulo Taques foi motivada também pela suspeita de que o ex-chefe da Casa Civil mandou grampear até sua ex-amante, a publicitária Tatiana Sangalli, e sua ex-assessora Carolina Mariane. A investigação diz que Tatiana é conhecida por "Dama Lora" e Carolina é a "Amiguinha".
Taques, que é advogado e deixou a Casa Civil em maio, também está sob suspeita de tentar destruir provas e documentos da investigação sobre a "barriga de aluguel".
O primo do governador vai ficar detido no Centro de Custódia da Capital.
A prisão de Taques foi pedida pelo delegado Juliano Silva de Carvalho, que investiga "Barriga de Aluguel".
Ao mandar prender o ex-braço direito do governador, o desembargador Perri assinalou: "Destaque-se que Paulo Cesar Zamar Taques, em liberdade, vem buscando, de todas as formas, interferir diretamente na apuração dos fatos, mediante a utilização dos meios de comunicação, sobretudo pelo forte prestígio que ainda possui perante a imprensa de uma forma geral, ou, quiçá, de espaços decorrentes de suas relações com o Governo."
O magistrado cita, em sua decisão, o coronel Airton Benedito de Siqueia Júnior, também alvo da investigação. "Vale ressaltar, ainda, que a utilização da máquina pública, ou de sua influência, pelo ex-secretário-chefe da Casa Civil para fins particulares, não é nenhuma novidade, porquanto na eleição municipal ocorrida em Lucas do Rio Verde, no ano de 2016, Paulo Taques pediu ao coronel. PM Airton Benedito de Siqueira Júnior que resolvesse determinada situação envolvendo seu escritório de advocacia, no que foi prontamente atendido pelo atual Secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos."
Orlando Perri é taxativo. "O que não se pode admitir, repito, é que o ex-chefe da Casa Civil se valha do prestígio que ainda ostenta no intuito de prejudicar as investigações policiais, como, deliberadamente, vem fazendo, a ponto de o Governador do Estado, seu primo, vir a público para dizer que Paulo Taques apenas 'cumpriu seu papel institucional'"
Sobre o grampo que pegou a ex-amante de Taques, o desembargador anotou. "A ex-amante do ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Cesar Zamar Taques, estava grampeada desde outubro de 2014 pelo propalado e inexistente Núcleo de Inteligência da Polícia Militar, e seu grampo ilegal, pela Polícia Judiciária Civil, a mando de Paulo Taques, somente foi uma continuidade da infração penal há tempos praticada."
Orlando Perri ressaltou. "Para melhor demonstrar a umbilical ligação das investigações levadas a efeito, ouso afirmar, sem achismo ou dedução fantasmagórica, que a inserção do terminal telefônico de Tatiana Sangalli nas operações conduzidas pela Polícia Judiciária Civil (Forti e Querubin), no primeiro semestre de 2015 - conforme exigência do então chefe da Casa Civil -, representou, na verdade, mero desdobramento de sua escuta clandestina, uma vez que ela já vinha sendo interceptada ilegalmente desde outubro de 2014, porque inserida ilegalmente naquela investigação conduzida perante o juízo da Comarca de Cáceres."
O desembargador cita trecho da investigação que aponta o nome de João Arcanjo Ribeiro como o pivô do ciúme do ex-Casa Civil. "Paulo Taques asseverou ao então secretário (da Segurança Pública do Estado) que uma das mulheres, interlocutoras da transcrição, era a pessoa de Tatiane Sangalli, sua ex-amante e que ela agora estaria muito próxima de João Arcanjo Ribeiro, inclusive, articulando-se para casar-se com ele, por intermédio da própria filha de Arcanjo."
Orlando Perri assinalou, ainda: "Outra situação concreta que comprova o poder que o representado ainda possui no âmbito do Poder Executivo Estadual diz respeito ao fato de o atual secretário-chefe da Casa Civil, José Adolpho de Lima Avelino Vieira, ter sido, desde o início da gestão, o braço direito do investigado Paulo Cesar Zamar Taques, e, portanto, seu acesso ao Palácio do Governador permanece irrestrito, podendo se valer de tal influência, assim como fez no caso em questão, para cuidar de assuntos estritamente pessoais."
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Paulo Taques e deixou o espaço aberto para manifestação. Com informações da Folhapress.