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Dilma: 'Seria mais fácil ter apoiado Cunha, mas o preço era muito alto'

Ex-presidente considera que Cunha é uma pesso que usa de todos os métodos para ter poder

Dilma: 'Seria mais fácil ter apoiado Cunha, mas o preço era muito alto'
Notícias ao Minuto Brasil

09:27 - 02/09/17 por Notícias Ao Minuto

Política Entrevista

Um ano após o impeachment, a ex-presidente Dilma Roussef deu uma entrevista exclusiva para a jornalista Mariana Godoy, da RedeTV!. A entrevista, que ocorreu nos estúdios da emissora no Rio de Janeiro, foi ao ar na noite de sexta-feira (1º). Confira alguns destaques do que a ex-presidente Dilma falou.

Impeachment

"A gente só consegue ter a noção [de que não vai dar mais] na hora da votação. Necessariamente, você tem que avaliar o que é, de fato, possível fazer de absurdo, porque tratava-se de tirar um mandato com 54 milhões e meio de votos. Quando se ousa tirar um mandato assim tende a haver, por parte de quem é democrata pelo menos, uma esperança de que esse país tenha representantes à altura dele, que honrem o povo brasileiro e que respeitem a democracia, pois ali estavam jogando a democracia, mais uma vez, no lixo da história. Então a minha incredulidade tem a ver com isso."

+ Dilma diz que prefere Alckmin a Bolsonaro ou João Doria em 2018

Denúncia contra Temer na Câmara

"Nem um pouco surpresa porque o motivo pelo qual me tiraram e o grupo político que sustentou a minha saída tem por base o chamado "Centrão", dominado e comprado pelo deputado Eduardo Cunha, hoje preso. Lá de Brasília, sabia-se que ele detinha o controle de um conjunto de deputados e quem procedeu ao impeachment foi essa base política e é ela que sustenta a corrupção, a perda de direitos, o retrocesso, a privatização de empresas públicas e recursos naturais, como a reserva do cobre, por exemplo. É essa mesma base que permite a impunidade do atual presidente da República."

Relacionamento amistoso com Eduardo Cunha

"A relação com uma pessoa do tipo dele implica que você desça vários degraus e chegue a um certo nível de criminalidade que eu não me disponho a assumir por preço nenhum. Ele é um corrupto, uma pessoa que usa de todos os métodos para ter poder. (...) Já em dezembro de 2015 todos os elementos para condená-lo ou suspendê-lo da presidência da Câmara existiam. Então a prisão dele foi uma prisão, digamos assim, tardia, e eu não acho que ela signifique necessariamente que a corrupção esta sendo combatida. (...) Seria mais fácil ter apoiado Cunha, mas o preço era muito alto."

Combate à corrupção e Lava Jato

"Eu acho que o combate à corrupção saiu do controle. Não é que passou do ponto, ele rompeu coisas que não podiam ter sido rompidas. Por exemplo, direito de defesa ou aceitar delação pelo seu valor de face, sem exigir provas. Tem uma questão que qualquer combate ou processo judicial tem de respeitar que é o direito de defesa, porque vai chegar um ponto que esses excessos serão usados para se voltar contra a própria Lava Jato. Acho que isso é muito grave e estou me referindo a todas as delações, porque a delação é um indício, não é uma prova definitiva. Há problemas com as delações. Vazamentos seletivos da delação sem provas e depois passa um ano e descobre que não é bem assim e todo processo já ocorreu. Mas tem um problema gravíssimo que é o fato da prova não ter ocorrido, e isso vai contaminar a Lava Jato, destruí-la por dentro."

Comparação à operação Mãos Limpas

"Há diferenças. Na Itália, dificilmente você tinha uma politização tão grande do judiciário, por exemplo. Você não tinha o juiz falando fora dos autos. Veja o caso da divulgação da gravação da minha conversa com o presidente Lula. (...) O que aconteceria em qualquer país sério do mundo? Não havia autorização do Supremo para gravar a presidente da República. Nos Estados Unidos isso dá cadeia com a lei de segurança nacional. (...) Você não pode deixar um país entrar em crise institucional, que é quando um poder briga com o outro. No Brasil, hoje, todos os poderes brigam entre si. Pessoas de um poder agridem verbalmente pessoas de outro poder e não há a menor estabilidade institucional."

Crise e arrependimentos

(...) Um erro meu: num determinado momento, nós desoneramos os grupos empresariais, visando impedir a redução de emprego e o aumento da capacidade ociosa. Com isso, reduzimos os impostos. O que os empresários fazem? Eles aumentam a margem de lucro, embolsam o benefício e não investem. Era de se prever que eles fariam isso, mas achamos que ainda haveria o impulso. Então eu errei, avaliamos mal. Não é possível acreditar que redução de imposto leve a um aumento de investimento, porque não leva. Redução de impostos leva substantivamente ao aumento da margem de lucro."

Oposição

"Depois de tudo o que aconteceu neste um ano, quem bateu panela, fez isso contra os próprios interesses. Porque veja, a bandeira era tirar a presidente para acabar com a corrupção. O que aconteceu? Colocaram no meu lugar um governo explicitamente corrupto."

Financiamento de empresas e BNDES

"Desde quando financiar empresas neste país é corrupção? Pelo contrário, o crédito é um dos instrumentos de crescimento econômico. Nenhum país cresce sem crédito. Ninguém vai garantir nossa capacidade de expandir energia sem crédito. Ninguém faz estrada sem crédito, portos e grandes obras necessárias sem crédito e não há provas de que o BNDES tenha praticado corrupção.”

Taxa de Longo Prazo (TLP)

"Sabe o que vai haver com essa TPL? Não vai haver investimento. Nenhum empresário gosta de investir com capital próprio. (...) O Brasil vai ter de começar a discutir porque paga os maiores juros do mundo. Meu impeachment começou quando tentei reduzir juros. Ali eu comecei a cair."

Parlamentarismo

"O parlamentarismo faz parte da segunda etapa do golpe. O golpe foi um processo e não se esgotou no meu impechment, que foi o primeiro ato. Na sequência há vários outros como essa tentativa deliberada de impedir que Lula seja candidato através de uma condenação sem base de um também inocente. E aí já está a fala dele que acho precisa: 'preso ou solto, condenado ou absolvido, vivo ou morto, eu participarei da eleição de 2018'. Esse compromisso dele de participar é porque temos a clareza dessa segunda etapa do golpe. E tem também há uma terceira etapa que é o parlamentarismo. Uma coisa ficou clara nisso tudo, conseguiram destruir o PSDB que era o grupamento de centro-direita que apresentava propostas. Ele se destruiu ao se aliar ao golpe e ao processo de corrupção deste governo. Uma outra questão é o surgimento do Bolsonaro como representante da extrema-direita, que no contexto brasileiro estava meio dentro do armário. Então isso leva à possibilidade de alguns falarem: 'mas como nós chegaremos e nos manteremos no poder?'. Sem voto? Só há um jeito: o parlamentarismo, que aliás é o sistema que sempre é colocado à mesa quando há crise constitucional."

Possíveis candidaturas

"Dilma Rousseff vai ficar muito calma, olhando o cenário para ver como é que as coisas vão ficar e vai apoiar a presença do ex-presidente Lula neste processo eleitoral. Recebi convites, mas não estou avaliando ainda. Estou calma."

O que fez no último ano

"Necessariamente, no último ano pude ser mais 'Dilma avó' do que fui em algum momento ano passado, porque eu não convivia com eles diariamente. Posso não conviver todos os dias ainda, mas hoje os vejo mais dias do ano do que já vi, então fui mais 'Dilma avó'."

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