Ex-procurador esteve na JBS um dia antes de Joesley grampear Temer
Marcello Miller foi à empresa acompanhado de Esther Flesch, então chefe da área de compliance do Trench Rossi Watanabe, escritório de advocacia no qual passou a atuar, depois de deixar a PGR, e que era um dos responsáveis por atender o grupo empresarial na negociação do acordo de leniência
© Paulo Whitaker/Reuters
Política Desdobramentos
O ex-procurador Marcello Miller, considerado ponto-chave na reviravolta envolvendo a delação da JBS, esteve na sede da empresa dos irmãos Batista, um dia antes de Joesley se encontrar com Michel Temer, no Palácio do Jaburu, na "calada da noite" e fora da agenda oficial.
Na oportunidade, o empresário gravou a conversa que teve com o presidente. No diálogo, chegou a falar sobre a "compra" de um procurador, com o objetivo de atrapalhar as investigações da Lava Jato, e sobre o pagamento de mesada a Eduardo Cunha, para mantê-lo em silêncio na prisão.
O áudio foi usado pela Procuradoria-Geral da República para embasar, junto com outras provas, a primeira denúncia oferecida contra Temer, por corrupção passiva, e que já foi rejeitada, durante votação ocorrida no plenário da Câmara, no dia 2 de agosto.
De acordo com o colunista Lauro Jardim, de O Globo, no dia 6 de março, Miller esteve na JBS acompanhado de Esther Flesch, então chefe da área de compliance do Trench Rossi Watanabe, escritório de advocacia no qual passou a atuar, depois de deixar a PGR, e que era um dos responsáveis por atender o grupo empresarial na negociação do acordo de leniência da empresa.
O ex-procurador Marcello Miller deve depor sobre o caso nesta sexta-feira (8).
+ PT torce por decisão sobre Lula até abril
+ PF cumpre mandado e prende Geddel Vieira Lima
Nos últimos materiais entregues aos investigadores, constam diversos áudios, um dos quais possui cerca de quatro horas de duração, aparentemente gravado em 17 de março deste ano, e que traz uma conversa entre os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud. No diálogo, falam sobre suposta atuação do então procurador da República Marcello Miller, dando a entender que ele estaria auxiliando na confecção de propostas de colaboração para serem fechadas com a Procuradoria-Geral da República. Tal conduta configuraria, em tese, crime e ato de improbidade administrativa.
No entanto, tanto Miller quanto os empresários negam a sua atuação nas tratativas do acordo de delação. A versão de Joesley é a de que buscou o escritório Trench Rossi Watanabe antes da chegada de Miller e que não tem relação com a contratação do ex-procurador pela banca.
Miller pediu o desligamento do Ministério Público Federal no dia 23 de fevereiro, mas a saída só foi oficializada no dia 5 de abril.
Por causa dessa nova gravação entregue pela JBS, o procurador-geral, Rodrigo Janot, anunciou abertura de investigação para apurar omissão de informações, com ameaça de revisão dos benefícios concedidos a três dos sete delatores da empresa, incluindo a imunidade penal.