Para barrar denúncia, Temer negociará pessoalmente com membros da CCJ
Decisão de atuar pessoalmente se dá porque os aliados, principalmente os partidos do "centrão", já demonstraram insatisfação com o ministro Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, e não admitem mais negociar com ele
© Adriano Machado / Reuters
Política Estratégia
Depois da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer, por obstrução de justiça e organização criminosa, o próprio presidente deve "entrar em campo" para tentar convencer os membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) a votar contra o encaminhamento do processo.
Para isso, deve receber os deputados que compõem o colegiado, segundo fontes ouvidas em Brasília. Segundo avaliação dos aliados de Temer, ele terá mais facilidade para rejeitar a denúncia, depois do "desgaste" causado ao Ministério Público Federal (MPF) pela reviravolta nas delações da JBS. Executivos da empresa tiveram os acordos de colaboração revisados e os benefícios rescindidos após áudios indicarem que eles omitiram informações importantes aos investigadores.
A decisão ainda precisa ser homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo tribunal Federal (STF). O ministro deu dez dias para que Joesley e Saud se manifestem sobre a rescisão.
Além disso, a possível atuação do ex-procurador Marcelo Miller, a favor do grupo empresarial enquanto ainda estava na PGR, põe em xeque o próprio Janot e as investigações, diz a base governista.
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Para o vice-líder na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), Janot teve "ânsia" de apresentar a denúncia, porque está para sair da PGR.
"É uma ânsia muito grande do procurador Janot e de toda equipe dele de colocar todas essas denúncias para fora da Procuradoria agora. Só espero que haja bastante serenidade neste processo. Que o STF não encaminhe antes de quarta-feira", disse Beto Mansur, depois de falar com o advogado de Temer, Antônio Mariz.
A decisão de atuar pessoalmente se dá porque os aliados, principalmente os partidos do "centrão", já demonstraram insatisfação com o ministro Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, e não admitem mais negociar com ele.
"A base vai vender dificuldades para colher facilidades", resumiu um interlocutor de Temer ao O Globo.
Quando da primeira denúncia, por corrupção passiva, o Planalto teve de mudar boa parte dos membros da CCJ para conseguir barrar o relatório do deputado Sergio Zveiter (Pode-RJ), que era favorável ao prosseguimento das investigações contra Temer. Conseguiu. Agora, acredita que não há mais riscos de traições, embora a orientação seja permanecer atento.
A indicação do relator, aliás, é outra preocupação do governo. O presidente da comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), deu trabalho à base, à época da primeira denúncia, ao escolher Zveiter, que teve o relatório recusado, após a "dança das cadeiras". Pacheco foi, então, enquadrado, e acabou nomeando o peemedebista Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) para ser relator do novo e vencedor parecer.
Outra estratégia do Planalto é tentar paralisar a denúncia o máximo possível, no âmbito da Justiça, pelo menos até a próxima quarta-feira (20), quando o STF retomará o julgamento sobre as irregularidades no processo de delação dos donos da JBS.
Se, ainda assim, o processo passar e chegar à Câmara, o governo quer uma tramitação rápida. E o motivo tem nome e sobrenome: Geddel Vieira Lima. Preso depois de a Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões em apartamento que seria usado por ele, o governo já teme uma delação do ex-ministro. Ele foi chefe da Secretaria Geral de Temer e é amigo do presidente.