Para contornar crise, Temer manda Imbassahy procurar Maia
Relação entre os presidentes da República e do Senado ficou ainda mais desgastada após divulgação de vídeos da delação de Lúcio Funaro
© Marcos Corrêa/PR
Política Crise
A disponibilização dos vídeos com a delação premiada do operador financeiro Lúcio Funaro no site da Câmara dos Deputados, às vésperas da votação da denúncia contra Michel Temer, agravou ainda mais a crise na relação entre o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente da República.
Na última sexta, a Folha de S. Paulo divulgou trechos da gravação em que o delator faz acusações sobre a existência de um suposto esquema de propina envolvendo o peemedebista, aliados dele e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Maia, no entanto, se defende dizendo que seguiu "determinação do ministro Fachin" para liberar o material. "Eu levei o responsável da Câmara para reunião com a presidente [do STF], Cármen Lúcia. Ela chamou o ministro Fachin, que deixou claro aquilo que estava sob sigilo, e os funcionários da Câmara estão executando a determinação dele", disse Maia.
Já Fachin afirmou, por meio de sua assessoria, conforme informações do portal G1, que não retirou o sigilo da delação de Lúcio Funaro e que as imagens "não deveriam ter sido divulgadas".
+ Novos vídeos agravam situação de Temer em meio à votação de denúncia
O impasse levou, então, a defesa do presidente Michel Temer a considerar o vazamento como “criminoso” e produzido por quem pretende “insistir na criação de grave crise política no país”. “É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no país, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa”, diz texto assinado pelo advogado Eduardo Carnelós.
Se antes dos últimos acontecimentos a relação entre Temer e Maia já estava estremecida, após líderes do partido do presidente da República "entrarem em campo" para convencer dissidentes do PSB a se filiarem à legenda, agora mereceu a intervenção até mesmo do ministro Antonio Imbassahy (PSDB), da Articulação Política.
Nesse domingo, Temer entrou em contato com o tucano e pediu que ele tentasse contornar o novo atrito. De acordo com o blog da Andréia Sadi, do portal G1, durante a conversa, o ministro quis saber detalhes da reação de Maia ao advogado do presidente Eduardo Carnelós.
Na ocasião, o presidente da Câmara teria demonstrado toda a insatisfação e chegou a ameaçar subir o tom caso o advogado de Temer não divulgasse nova nota se desculpando.
Nos bastidores, o Planalto avalia que o gesto de Maia foi mais um no sentido de se distanciar do presidente. No fim de setembro, em entrevista ao Valor Econômico, Maia não deu garantias de que se esforçará para, mais uma vez, livrar Temer da denúncia.
Pelo contrário, demonstrou que a relação entre DEM e o PMDB, de fato, ficou abalada. "Desesperado, Michel pediu para jantar aqui comigo para esclarecer que era mentira (a tentativa de atrair dissidentes do PSB). O presidente do PMDB (senador Romero Jucá) ligou para o presidente do DEM (senador Agripino Maia) para dizer que eles não tinham nenhum interesse nos parlamentares do PSB e o que estamos vendo é outra coisa. E o Romero, depois dessa denúncia, continuou fazendo a mesma coisa. A relação do PMDB com o DEM hoje é muito difícil", admitiu Maia.
O presidente da Câmara ainda criticou a presença de dois importantes peemedebistas na filiação do ministro de Minas e Energia, Fernado Bezerra Coelho: os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha. Segundo Maia, o gesto significa uma "posição do governo".
"Como o presidente do PMDB e o próprio presidente da República falam uma coisa e o partido faz outra? E os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha vão à filiação do Fernando Coelho respaldar que aquilo é uma posição do governo? Eles são muito corajosos", ironizou. "Um deputado do DEM pode pensar: 'Por que eu vou me meter nesse desgaste se o governo quer prejudicar meu partido?'", completou o presidente da Câmara.