JBS firmou contrato fictício para repassar R$ 3 mi ao casal Garotinho
Anthony e Rosinha foram presos, na manhã de hoje, pela Polícia Federal, acusados de arrecadar fundos de maneira ilícita para financiar campanhas eleitorais
© Sergio Moraes / Reuters
Política Corrupção
Os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho foram presos na manhã desta quarta-feira (22) em mais um desdobramento da Operação Chequinho, que já havia levado à cadeia o primeiro por duas vezes. É a primeira vez que a mulher também é detida.
A investigação do Ministério Público Eleitoral do Rio e da Polícia Federal apura os crimes de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação de contas eleitorais.
O inquérito identificou que a JBS firmou contrato fictício com uma empresa para repassar R$ 3 milhões ao grupo político do casal para uso em campanhas eleitorais.
"Empresários também informaram à PF que o ex-governador cobrava propina nas licitações da prefeitura de Campos, exigindo o pagamento para que os contratos fossem honrados pelo poder público daquele município", diz nota da Polícia Federal.
O Ministério Público do Rio pediu a prisão do casal por considerar que há indícios de que os crimes eleitorais podem se repetir nas próximas eleições. Afirma ainda que um delator do esquema foi "assediado" por membros do grupo.
+ Após noite em cela com 3 presos, deputados têm pão com café nesta manhã
A promotoria pediu também a prisão do presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues, sob a justificativa de que "há fortes indícios de que continuará realizando as tratativas ocultas ilegais à frente do partido".
A prisão é um desdobramento da Operação Chequinho, que apura suposta compra de votos na eleição de Campos, em 2016, por meio do programa social Cheque Cidadão.
Segundo o Ministério Público, o suposto esquema teria dado prejuízo de R$ 11 milhões à prefeitura e pelo menos 18 mil ações de compras de votos teriam sido realizadas. Há suspeita de que vinte vereadores eleitos naquele ano teriam sido beneficiados com votos do esquema.
Anthony Garotinho já havia sido preso em 16 de novembro do ano passado em razão desta investigação - um dia antes da Operação Calicute, que prendeu outro ex-governador, Sérgio Cabral. Foi solto por ordem do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Na ocasião, Garotinho provocou tumulto ao tentar resistir a uma transferência de hospital. Ao ser acomodado dentro da ambulância, Garotinho tentou se levantar e teve de ser contido por agentes da Polícia Federal.
Em setembro deste ano, voltou a ser preso sob alegação de usar seu programa de rádio para atacar os responsáveis pela condução de seu processo. Foi solto mais uma vez por ordem do TSE.
OPERAÇÃO CHEQUINHO
Ao ser preso pela primeira vez, em 2016, a Justiça Eleitoral afirmou que o ex-governador Anthony Garotinho tentou coagir duas testemunhas do caso e eliminou documentos públicos que ajudariam na apuração dos supostos crimes.
Segundo as investigações, o esquema mais que dobrou o número de beneficiários do Cheque Cidadão, da Prefeitura de Campos, a partir de junho daquele ano. O objetivo seria usar para fins eleitorais o programa, que destina R$ 200 a famílias pobres.
Os candidatos de Garotinho passaram a comandar a inscrição de novos beneficiários, segundo a promotoria. Desta forma, o número de famílias atendidas pelo programa subiu de cerca de 11 mil antes de junho para cerca de 29 mil em outubro, diz a Justiça.
O Cheque Cidadão de Campos é idêntico ao criado por Garotinho quando esteve a frente do governo estadual. Na época, o programa também foi alvo de suspeitas de uso eleitoral.
De acordo com a promotoria, beneficiários do programa municipal passaram a ser inscritos por indicação de candidatos a vereador sem procedimentos obrigatórios, como avaliação de assistentes sociais. O prejuízo, segundo a Justiça, seria de R$ 45 milhões por ano.
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Nesta terça-feira (21), Anthony Garotinho se manifestou a favor da prisão do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), Jorge Picciani, e dos deputados Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB. Eles são investigados no âmbito da Operação Cadeia Velha, que tem como alvo empresários ligados ao setor de ônibus do Rio.
"Alguém vai ter que explicar o fato de a Alerj ter emitido alvará de soltura", publicou Garotinho em uma rede social.
Dias antes, a filha do ex-governador havia comemorado a prisão de Picciani e também o primeiro ano de Cabral na prisão.
"Amanhã completa um ano de prisão de Cabral. Vai ter festa em Benfica!", afirmou Clarissa também em uma rede social.
OUTRO LADO
Garotinho afirmou, em nota, que "atribui a operação de hoje a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo Cabral na Assembleia Legislativa e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter".
"Cabe frisar que essa a operação à qual Garotinho e Rosinha respondem não tem relação alguma com a Lava Jato", diz a nota.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DA DEFESA DE GAROTINHO
"Querem calar o garotinho mais uma vez
O ex-governador Anthony Garotinho atribui a operação de hoje a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo Cabral na Assembleia Legislativa e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter.
O ex-governador afirma que tanto isso é verdade que quem assina o seu pedido de prisão é o juiz Glaucenir de Oliveira, o mesmo que decretou a primeira prisão de Garotinho, no ano passado, logo após ele ter denunciado Zveiter à Procuradoria Geral da República.
Garotinho afirma ainda que nem ele nem nenhum dos acusados cometeu crime algum e, conforme disse ontem no seu programa de rádio, foi alertado por um agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sergio Cabral e Jorge Picciani, durante a primeira prisão do deputado em Benfica. Na ocasião, o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho.
Agora, a ordem de prisão do juiz Glaucenir é para que Garotinho vá com sua esposa para Benfica, justamente onde estão os presos da Lava Jato.
Cabe frisar que essa a operação à qual Garotinho e Rosinha respondem não tem relação alguma com a Lava Jato." Com informações da Folhapress.