Lula enfrenta protesto pelo 3º dia e diz ser alvo de ódio
Ex-presidente listou os casos de preconceito sofrido ao longo de sua trajetória, entre eles o analfabetismo
© Ricardo Stuckert
Política Rio Grande do Sul
Enfrentando protestos pelo terceiro dia consecutivo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu, nessa quarta-feira (21), que seus opositores ponham a mão na consciência e comparem as conquistas dos governos petistas com as de seus antecessores e do governo Temer.
"Vão mandar para nós um pedido de desculpas por tanta grosseria e tanta falta de respeito", discursou.
No auditório do Instituto Federal Farroupilha, campus São Vicente do Sul (RS), Lula disse que Deus há de iluminar as pessoas que carregam ódio no coração.
"Não pensem que fico nervoso com essa gente gritando, não. Preconceito sempre existiu. Mas o que essa gente tem não é preconceito. É ódio", disse.
Lula listou os casos de preconceito sofrido ao longo de sua trajetória, entre eles o analfabetismo.
"Já comi o pão que o diabo amassou. Não estou disposto a levar desaforo para casa", declarou.
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Cercado por estudantes, Lula respondeu aos que o acusam de antecipação de campanha, lembrando que São Vicente do Sul tem 8.000 habitantes. "Aqui tem mais gado que gente. E gado não vota".
Lula afirmou que, com a caravana, pretende conhecer o país que espera voltar a governar e alertar os brasileiros para perdas sociais em curso: "Com meu curso de torneiro mecânico, eu tinha mais chance de empregos que vocês".
MANIFESTANTES
O ex-presidente foi recepcionado por manifestantes às portas do Instituto Federal Farroupilha.
Além dos ruralistas que estacionaram diante do portão, alunos da instituição também se prepararam para protestar dentro do campus.
Antes de deixar o município de Santa Maria com destino a São Vicente do Sul, Lula disse, em entrevista a uma rádio, que não entende o motivo de tanto ódio.
Mais uma vez ele atribuiu as manifestações à política social adotada durante seu governo.
"Não se enganem com aqueles que, de dia, vestem verde e amarelo e, à noite, vão fazer compras em Miami, em vez de ir ao supermercado de Santa Maria".
Na véspera, Lula chamou os grandes fazendeiros de ingratos por terem sido beneficiados com financiamentos para compras de tratores e caminhonetes, mas só falarem mal do PT.
Organizador do protesto da manhã desta quarta, o produtor rural Fábio Marchezan dos Santos, de 43 anos, diz que o dinheiro foi liberado no governo Lula, mas o projeto é de seu antecessor (FHC).
Ele explica que o ato foi planejado por um grupo de produtores rurais também patrocinados por comerciantes locais.
Sustentado por um guindaste, um boneco gigante de Lula inflável (pixuleco) foi colocado à frente do instituto.
No alto-falante, um manifestante disse que o governo petista desmoralizou a polícia, que não pode mais matar bandidos.
A região Sul, escolhida para a quarta etapa da caravana, é onde o ex-presidente tem menos apoio.
Segundo pesquisa Datafolha feita no fim de janeiro, 23% dos eleitores da região manifestaram intenção de votar no petista, contra 41% no Norte e 56% no Nordeste, por exemplo.
Conscientes do grau de hostilidade ao partido na região, petistas chegaram a questionar a oportunidade da passagem pelo Sul, mas Lula insistiu em ir.
O plano inicial é de, durante dez dias, Lula percorrer os três estados da região, totalizando 2.700 km.
Além de visitas a universidades, a agenda tem como ponto forte a visita ao mausoléu de Getúlio Vargas, em São Borja.
No primeiro dia de caravana, na segunda, Lula foi obrigado a fazer alterações em seu roteiro ao também enfrentar protestos em sua chegada à cidade de Bagé (RS).
O ex-presidente disse à ocasião que saiu triste da cidade, após ruralistas e simpatizantes do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) usarem caminhões e tratores para bloquear acesso da comitiva. Com informações da Folhapress.