Temer não cumpre ameaça e mantém adversários no governo
Estratégia foi adotada em meio ao enfraquecimento de sua administração, fragilizada por novas decisões jurídicas
© Marcos Corrêa/PR
Política Articulação
O presidente Michel Temer não cumpriu ameaça e manteve em sua equipe ministerial partidos que devem ser seus adversários na disputa eleitoral deste ano.
Em conversas reservadas, ele chegou a dizer que pretendia retirar siglas que não defendessem a sua administração na sucessão presidencial e poderia aumentar o espaço de legendas que apoiarem o candidato do MDB.
Com o enfraquecimento de sua administração, fragilizada por novas decisões jurídicas, ele manteve indicados de partidos como DEM, PRB, PSDB e PTB na Esplanada dos Ministérios.
Na terça-feira (10), o juiz Marcos Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, transformou em réus amigos próximos do presidente e integrantes do MDB, como o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Filho.
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O receio de assessores e auxiliares presidenciais é de que, em meio ao processo eleitoral, a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresente uma nova denúncia contra o presidente, que precisaria de uma base aliada forte para barrá-la.
Temer já anunciou que pretende disputar a reeleição, mas considera recuar caso não se viabilize eleitoralmente ou apareçam novas suspeitas de irregularidades.
Em Relações Exteriores, por exemplo, o presidente manteve o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB. O partido lançará a candidatura de Geraldo Alckmin, que já deixou claro que não defenderá o atual governo.
O PTB, apesar de defender as realizações de Temer, disse que deve apoiar o PSDB. O presidente do partido, Roberto Jefferson, conseguiu emplacar para Trabalho Helton Yomura.
Apesar de ter lançado a pré-candidatura presidencial do empresário Flávio Rocha, o PRB também manteve o controle de Indústria e Comércio, que será controlada por Marcos Jorge.
Crítico da atual administração, o DEM, que lançou Rodrigo Maia como pré-candidato presidencial, continua com influência em Educação. Como antecipado pela Folha, Temer colocou à frente da pasta Rossieli Soares, nome do ex-ministro Mendonça Filho.
Com a necessidade da desincompatibilização para a disputa eleitoral, o novo ministério é mais técnico que o anterior, mas manteve indicações de caráter político-partidário. Dos dez novos titulares, sete ocupavam secretarias nas pastas que vão comandar.
RECUSAS
O presidente, no entanto, ainda enfrenta dificuldades para a escolha de um nome para assumir o comando da Secretaria-Geral, que era ocupada por Moreira Franco.
Na tentativa de agradar a bancada mineira do MDB, que sempre reclamou por não ter espaço na Esplanada dos Ministérios, ele sondou dois deputados federais do partido, mas ambos não quiseram assumir a estrutura.
Segundo a reportagem apurou, tanto Mauro Lopes como Saraiva Felipe recusaram a oferta e disseram que preferem se dedicar às suas campanhas à reeleição.
Na tentativa de dobrar as resistências, Temer se reuniu na noite de segunda-feira (9) com o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade, presidente estadual do MDB.
Eles trataram sobre a possibilidade de Mauro Lopes assumir o posto. Nesta terça-feira (10), Andrade tentou convencer o ex-ministro de Dilma Rousseff, mas ele reafirmou a intenção de disputar a reeleição.
A bancada mineira é a segunda maior do MDB na Câmara dos Deputados, inferior apenas à bancada carioca. Inicialmente, eles pleiteavam o Ministério de Minas e Energia.
O presidente, contudo, decidiu deslocar Moreira Franco para a pasta, o que causou insatisfação na bancada de Minas Gerais, que considera a Secretaria-Geral uma estrutura pequena.
A decisão de transferir Moreira foi tomada com o intuito de manter seu foro privilegiado. A pasta da Secretaria-Geral, criada para abrigar o emedebista, é questionada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
A procuradora alega que há inconstitucionalidade na norma que instituiu o ministério. A pasta foi criada por meio de uma medida provisória (MP).
Em junho de 2017, Temer revogou a proposta e editou uma nova MP que recriava o mesmo ministério, o que não seria permitido, de acordo com a sustentação de Dodge. Com informações da Folhapress.