Candidatos patinam em estratégias e devem apostar em perfil no 2º turno
A tese de que é preciso apostar no jeito que se apresentar ao eleitor
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Política Campanha
As principais campanhas ao Planalto ainda patinam para encontrar a melhor estratégia que pode levar seus candidatos ao segundo turno, mas têm um diagnóstico comum sobre qual deve ser a fórmula desse processo: menos proposta e mais perfil.
Com a saída do ex-presidente Lula (PT) e a cristalização de Jair Bolsonaro (PSL) na liderança isolada das pesquisas, a segunda vaga para o confronto direto está sendo disputada hoje por Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).
A tese de que é preciso apostar no jeito que se apresentar ao eleitor -para além das medidas que vai tomar caso seja escolhido por ele- foi colocada à mesa dos partidos com mais vigor no início desta semana, na esteira do atentado sofrido por Bolsonaro.
Alckmin, por exemplo, decidiu antecipar para o primeiro turno o discurso do voto útil anti-PT, além de se vender como o nome mais experiente desta eleição.
Para tentar se descolar do segundo pelotão e sair dos 9% que registrou na mais recente pesquisa Datafolha, o tucano se coloca como o único capaz de impedir que os petistas retornem ao poder.
E mais: voltou a atacar Bolsonaro, desta vez, apontando para o que chama de despreparo do capitão reformado.
O ex-governador de São Paulo quer reconquistar o voto conservador que, historicamente, apoiava o PSDB, mas tem migrado para a órbita do candidato do PSL com a radicalização do cenário eleitoral.
A campanha tucana tentava desconstruir Bolsonaro com discursos e programas no rádio e na TV que envolviam, principalmente, críticas à política de armas e à violência contra a mulher.
Aliados avaliam que a estratégia estava funcionando bem -a rejeição ao capitão reformado alcançou 44%, segundo o Datafolha- mas, após o atentado de 6 de setembro, Alckmin precisou recuar.
O que será explorado pelo tucano a partir de agora ainda está sendo testado, mas o perfil experimentado voltou a ser um possível trunfo na reta final de sua campanha.
Ungido candidato somente na terça-feira (11), Haddad não disputa o voto de Alckmin e Bolsonaro, mas tem pouco tempo para se apresentar ao eleitorado petista como representante de Lula.
A apenas três semanas do primeiro turno, o ex-prefeito de São Paulo insiste que seu objetivo será discutir propostas, mas seus principais conselheiros admitem que, antes disso, precisa concluir sua transmutação com o ex-presidente.
Após chegar a 13% no Datafolha -numericamente empatado com Ciro Gomes-, Haddad voltará sua campanha para o Nordeste na tentativa de herdar o espólio de Lula -antes de ser barrado pela Justiça Eleitoral, o ex-presidente alcançava 39% das intenções de voto.
Na mesma raia em que corre o herdeiro lulista, Ciro e Marina também tentam se descolar do bloco e chegar ao segundo turno.
A ex-senadora, porém, não tem obtido sucesso na empreitada. Com discurso conciliador em uma disputa marcada pelo ódio, caiu para 8% e hoje tem metade das intenções de voto que tinha quando sua candidatura foi registrada, em agosto.
Nos últimos dias, Marina deixou de lado a retórica programática e foi mais enérgica contra seus adversários. Chamou Lula de "corrupto" e disse que o país não aguentaria mais um indicado do ex-presidente.
Ser mulher e egressa de uma classe social mais baixa são características exploradas para tentar espantar a névoa de fragilidade que foi colada a ela na disputa de 2014, mas não parece estar dando certo.
Já Ciro Gomes -autor da única proposta que ressoou de forma mais significativa na campanha, de quitar dívidas de consumidores no SPC- está fixado em 13%.
Apresenta-se como o candidato nordestino da corrida -de olho no voto lulista- e diz que vai romper com a polarização entre PT e PSDB, acenando ainda ao eleitorado de centro.
Seu maior obstáculo, no entanto, é o próprio Haddad, que disputará com ele o eleitor órfão de Lula com o selo de indicado do ex-presidente.
O personagem que, desde o início, conseguiu se valer da tática personalista de forma mais eficaz é justamente o líder das pesquisas.
Na eleição dos perfis, Bolsonaro é o contra o PT, contra a corrupção e contra o sistema. Com informações da Folhapress.